Mudar a cor dos olhos como Maya Massafera é sonho estético ou risco à visão?

Ao contrário das tradicionais lentes de contato coloridas — que são externas e reversíveis — esses procedimentos envolvem alterações internas e irreversíveis; será que vale a pena correr esse risco? Reprodução/Instagram/@mayamassafera A influenciadora Maya Massafera, 44, mudou permanentemente a cor


Ao contrário das tradicionais lentes de contato coloridas — que são externas e reversíveis — esses procedimentos envolvem alterações internas e irreversíveis; será que vale a pena correr esse risco?

Reprodução/Instagram/@mayamassafera
A influenciadora Maya Massafera, 44, mudou permanentemente a cor dos olhos de castanho para azuis em uma cirurgia feita na França

A busca pela aparência ideal tem levado muitas pessoas a recorrerem a procedimentos estéticos cada vez mais ousados. Um dos mais polêmicos é a cirurgia para mudar permanentemente a cor dos olhos. Ao contrário das tradicionais lentes de contato coloridas — que são externas e reversíveis — esses procedimentos envolvem alterações internas e irreversíveis. Mas será que vale a pena correr esse risco?

Como funcionam essas cirurgias?

Atualmente, existem três técnicas principais sendo realizadas em algumas partes do mundo:

  1. Implante de íris artificial

Esse procedimento consiste na inserção de um implante de silicone com a cor escolhida pelo paciente, colocado sobre a íris natural. A técnica foi inicialmente desenvolvida para corrigir deformidades congênitas ou lesões traumáticas da íris — mas passou a ser usada com finalidade estética.

Riscos: É considerada a técnica mais perigosa. Está associada a alto risco de perda das células da córnea, glaucoma (aumento da pressão ocular), inflamações severas e até cegueira irreversível.

  1. Despigmentação da íris com laser

Nessa técnica, um laser é utilizado para “queimar” o pigmento marrom da íris, revelando um tom azul ou acinzentado que estaria sob a camada superficial. Embora promovida como minimamente invasiva, os riscos são significativos.

Riscos: Pode causar glaucoma, inflamações crônicas e danos irreversíveis ao tecido ocular, já que o pigmento liberado pode obstruir os canais naturais responsáveis pela drenagem do fluido intraocular.

  1. Ceratopigmentação (pigmentação da córnea assistida por laser de femtosegundo)

Mais recentemente, passou a ser explorada uma técnica em que tintas especiais são aplicadas diretamente na córnea, a camada mais externa do olho. A aplicação é feita por meio de um túnel ou bolsa confeccionado com laser de femtosegundo, onde o pigmento é inserido. Essa técnica já é utilizada há anos com fins terapêuticos, especialmente para restaurar a aparência de olhos que perderam totalmente a visão.

Situação atual: Em alguns países — principalmente na Europa — a ceratopigmentação assistida por laser de femtosegundo começou a ser usada com finalidade estética. No entanto, ainda não existem estudos de longo prazo sobre sua segurança em olhos saudáveis. Os riscos incluem rejeição do pigmento, inflamações, migração da tinta para áreas nobres da visão e complicações imprevisíveis com o passar dos anos.

O que dizem as entidades médicas?

Nenhuma dessas técnicas é autorizada no Brasil por órgãos como o Conselho Federal de Medicina ou o Conselho Brasileiro de Oftalmologia. As duas primeiras — implante de íris artificial e despigmentação a laser — já foram associadas a casos graves de perda definitiva da visão.

A ceratopigmentação, embora pareça promissora, só é recomendada atualmente para olhos cegos que ficaram brancos e sem cor, ou seja, sem qualquer função visual.

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Estética vs. ética: até onde podemos ir?

A resposta dos especialistas é direta: ainda não vale o risco. Os olhos são estruturas extremamente delicadas, e qualquer alteração pode comprometer de forma irreversível um dos sentidos mais preciosos que temos.  A única técnica que pode vir a ter espaço no futuro — com muita cautela e embasamento científico — é a ceratopigmentação assistida por laser de femtosegundo. Mesmo assim, seu uso estético em olhos saudáveis ainda não é considerado seguro.

Vivemos uma era em que a estética ocupa lugar de destaque — e, muitas vezes, ultrapassa os limites da prudência. Modificar artificialmente a cor dos olhos, algo que não interfere diretamente na saúde geral, não justifica o alto risco à visão. Esse é um dilema ético importante: até onde devemos ir para atender a um desejo estético? Quando a vaidade ameaça a integridade da visão, cabe aos profissionais da saúde orientar, informar e proteger.

Conclusão: olhos bonitos são olhos saudáveis

Mudar a cor dos olhos por meio de cirurgia ainda não é seguro. Quem se submete a esses procedimentos pode estar colocando sua visão em risco real e irreversível. A recomendação dos oftalmologistas é clara: nenhuma das técnicas atuais deve ser utilizada com finalidade estética em olhos saudáveis.

Enquanto a ciência não apresenta uma solução comprovadamente segura, a forma mais confiável de mudar temporariamente a aparência dos olhos continua sendo o uso de lentes de contato coloridas, desde que com qualidade adequada e orientação profissional. Esse é o caminho mais seguro, reversível e consciente para quem busca uma transformação estética sem comprometer a saúde ocular.

*Por Dr. Fábio Medina Rocha – CRM MG 42220
Oftalmologista





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