Primeiro ‘ensaio’ de Bacellar como governador do Rio tem viagens, crítica a Paes e uso controverso de helicóptero

Com informações de Bernardo Mello e Caio Sartori em O GLOBO. A fim de neutralizar o “efeito Ramagem” em uma futura campanha ao governo do Rio, o atual presidente da Assembleia Legislativa (Alerj), Rodrigo Bacellar, pretende aproveitar viagens do governador



Com informações de Bernardo Mello e Caio Sartori em O GLOBO

A fim de neutralizar o “efeito Ramagem” em uma futura campanha ao governo do Rio, o atual presidente da Assembleia Legislativa (Alerj), Rodrigo Bacellar, pretende aproveitar viagens do governador Cláudio Castro (PL) para cumprir uma agenda intensa de visitas a obras e entregas de equipamentos públicos. Uma amostra foi vista na semana passada, a primeira de Bacellar como governador em exercício depois da articulação que tirou de vez o então vice de Castro, Thiago Pampolha (MDB), da linha sucessória. Ele percorreu municípios de diferentes regiões do estado, como Campos dos Goytacazes, São Gonçalo, Teresópolis e Paracambi, acompanhado por uma comitiva de deputados e prefeitos, numa tentativa de consolidar a imagem de “gestor”.

O objetivo do giro pelo Rio, além de torná-lo mais conhecido, é minimizar o impacto da estratégia que Paes adotou contra o bolsonarista Alexandre Ramagem (PL) no ano passado. Na campanha pela reeleição na capital, o prefeito explorou o fato de Ramagem estar no primeiro mandato eletivo e ser pouco conhecido do eleitorado. Era uma forma de compará-lo ao ex-governador Wilson Witzel, que o havia derrotado na corrida estadual de 2018, e alertar para os riscos de eleger um “aventureiro”. Witzel fez uma gestão criticada e foi alvo de impeachment em 2021 — o relator do processo na comissão especial montada na Alerj foi justamente Bacellar, à época também em primeiro mandato, que se cacifou a partir dali.

Aliados de Bacellar indicam que, embora Castro não esteja disposto a lhe transmitir a cadeira em definitivo este ano, o governador alinhavou uma sequência de viagens internacionais para ampliar o tempo de exposição do aliado no exercício do cargo. Além do atual passeio de dez dias pelos Estados Unidos para ver o Flamengo na Copa do Mundo de Clubes, Castro deve participar em julho do Fórum de Lisboa, organizado pelo Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), cujo sócio-fundador é o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes. O entorno de Bacellar projeta que a estadia europeia de Castro se prolongará por até três semanas.

Na estreia como governador em exercício, ele procurou demonstrar força e se cercou de deputados aliados — de diferentes partidos, do PL ao PT. A comitiva, no entanto, despertou críticas de adversários por causa do uso de quatro helicópteros para levar o grupo a Campos dos Goytacazes, reduto do presidente da Alerj, na última segunda-feira.

Bacellar chegou ao município em um helicóptero que não faz parte da frota de aeronaves do governo do estado, sendo que a legislação atual exige que o governador se desloque apenas em aeronaves oficiais. O veículo usado por Bacellar, um modelo Bell 407GX de matrícula PR-BFC, está registrado em nome de uma empresa privada. Em 2023, o Ministério Público chegou a abrir investigação para apurar o uso por Bacellar de um helicóptero que pertencia a um empresário investigado por garimpo ilegal.

’Futuro governador’

Entre os deputados que acompanharam Bacellar nas primeiras viagens, a maioria é de partidos da base, como o PL de Castro e o próprio União do presidente da Alerj. Alguns exemplos, contudo, ilustram como Paes ainda não tem o PT unificado em torno de si. Em Campos, estava presente a deputada estadual petista Carla Machado, ex-prefeita de São João da Barra, também no Norte Fluminense.

Mas foi em Paracambi, na Baixada Fluminense, o maior sinal de um petista a Bacellar. Prefeito da cidade, Andrezinho Ceciliano postou vídeo ao lado do governador em exercício e o classificou como “nosso futuro governador”.

Nos compromissos da semana, Bacellar também aproveitou para definir os alvos dos discursos, sobretudo o prefeito do Rio e provável adversário.

— É muito fácil ser prefeito de cidade grande, e aqui eu dou nome, como o prefeito do Rio de Janeiro, e que já foi para o terceiro empréstimo (financeiro). Aí é mole. Quebrar a prefeitura, deixar um rombo para que nos próximos anos a cidade sofra por aquilo, para ser o bonitinho cheiroso que entreguei um monte de coisa boa para a população, quando na verdade só estou preocupado com eleição — disse em Campos.

A acusação motivou reação de aliados de Paes. Braço direito dele na política, o deputado federal Pedro Paulo, que preside o PSD no estado, classificou a declaração de Bacellar como um “discurso meio primário” e alegou que a prefeitura “paga em dia seus empréstimos”.

“A diferença é que a prefeitura paga em dia e o estado dá calote. Além disso, quem tem boa gestão pode se endividar de forma responsável. Quem não tem, condena o estado e seu povo à vergonha e às consequências de ser seguidamente o lanterna do investimento público do país”, escreveu nas redes sociais.

Bacellar também terceirizou críticas a outro adversário, este mais interno no governo: o secretário de Transportes, Washington Reis (MDB), que discorda da candidatura do presidente da Alerj e ainda tenta se colocar no jogo de 2026. Recentemente, o emedebista anunciou subsídios para diminuir a tarifa do metrô sem antes combinar com o Palácio Guanabara. Na tribuna da Alerj, um dos membros da “tropa de choque” de Bacellar, Filippe Poubel (PL), atacou Reis e pediu sua demissão.

— Já não é de hoje que a Secretaria de Transporte vem arruinando o governo do estado — afirmou.



Conteúdo Original

2025-06-22 10:06:00

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