Seleção genética de embriões pode moldar o futuro de seus filhos?

Novas técnicas em reprodução assistida desafiam limites éticos e prometem avanços na saúde e planejamento familiar; saiba mais abaixo Freepik Na fertilização in vitro (FIV) vários embriões são formados A fertilização in vitro (FIV) já tornou possível realizar o sonho


Novas técnicas em reprodução assistida desafiam limites éticos e prometem avanços na saúde e planejamento familiar; saiba mais abaixo

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Na fertilização in vitro (FIV) vários embriões são formados

A fertilização in vitro (FIV) já tornou possível realizar o sonho da maternidade e paternidade para milhões de pessoas. Agora, com as novas tecnologias genéticas, estamos entrando em uma era em que não só é possível gerar um embrião em laboratório, mas também escolher aquele que tem mais chances de sucesso. Mas até onde podemos ir nessa escolha? E até onde devemos ir?

Testes genéticos e inteligência artificial: o que já é realidade

Essa escolha é possível porque na fertilização in vitro vários embriões são formados. Podemos lançar mão de técnicas para análise genética pré-implantacional como o PGT-A, PGT-M e o PGT-SR. Na análise de PGT-A, o objetivo é saber se o embrião tem o número correto de cromossomos. Embriões com cromossomos a mais ou a menos têm menor chance de implantar e maior risco de aborto espontâneo ou síndromes genéticas, como a Síndrome de Down. Esse exame é indicado principalmente para mulheres com idade mais avançada, histórico de abortos ou falhas de implantação. Pense como um “check-up” geral dos cromossomos do embrião.

O PGT-M (teste para mutações específicas) é indicado quando os pais são portadores, ou têm casos na família, de doenças genéticas, como fibrose cística, anemia falciforme ou distrofia muscular. Este teste permite identificar quais embriões não herdaram a mutação. É como procurar uma “letra trocada” em um trecho específico do DNA.

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O PGT-SR (teste para rearranjos estruturais) é indicado quando um dos pais apresenta alteração na estrutura dos cromossomos, como translocações. Mesmo com número normal de cromossomos, a estrutura pode estar invertida ou trocada, o que pode causar falhas na gestação ou risco de filhos com malformações. É como se as páginas de um livro estivessem todas lá, mas na ordem errada.

Além desses testes genéticos, podemos utilizar a inteligência artificial para prever qual embrião tem maior chance de implantação ou menor risco de doenças genéticas. Um exemplo é o Magenta, um sistema baseado em IA que utiliza imagens dos embriões captadas no microscópio e informações clínicas da paciente para criar um “ranqueamento” personalizado. O software cruza esses dados com bancos de dados internacionais e gera uma pontuação, indicando quais embriões apresentam melhor prognóstico para cada caso.

Novos horizontes e dilemas éticos

Com o avanço da genética e da inteligência artificial, a reprodução assistida tem incorporado ferramentas que auxiliam a identificar, entre os embriões formados em laboratório, aqueles com melhores chances de desenvolvimento saudável e sucesso na gestação. Além da análise cromossômica tradicional, já estão sendo desenvolvidos testes mais amplos, que avaliam predisposições genéticas a determinadas condições de saúde ao longo da vida, como maior risco para diabetes tipo 2, certos tipos de câncer ou doenças neurológicas.

Essas análises não diagnosticam doenças, mas oferecem estimativas de risco com base em padrões genéticos. A proposta é ajudar na escolha de um embrião com menor vulnerabilidade a essas condições, sempre respeitando os limites éticos e legais de cada país. No entanto, esse tipo de informação traz à tona debates relevantes sobre até onde a ciência pode ou deve intervir.

Esses avanços na seleção embrionária fazem parte de uma transformação maior que vem ocorrendo na área da saúde: a chamada medicina de precisão. Em vez de decisões baseadas apenas em estatísticas populacionais, hoje os médicos contam com ferramentas para escolhas mais direcionadas, caso a caso. Assim, podemos evitar doenças genéticas graves em famílias com histórico conhecido, escolher embriões com menor risco de alterações cromossômicas, especialmente em casos de idade materna avançada, e prever as chances de sucesso da FIV com mais precisão, aumentando as taxas de implantação e reduzindo tentativas frustradas.

Limites éticos e legislação no Brasil

E o que diz a ética e a legislação brasileira? No Brasil, a ANVISA e o Conselho Federal de Medicina permitem o uso do estudo genético pré-implantacional. As principais indicações são para mulheres em idade avançada, histórico familiar de doenças genéticas graves ou falhas repetidas de implantação. A seleção por sexo, altura ou traços físicos é proibida, exceto quando houver justificativa médica.

A ciência pode e deve ajudar a prevenir doenças e aumentar as chances de uma gestação saudável. Mas, como sociedade, precisamos decidir juntos até onde vale a pena ir. Porque mais importante do que escolher o embrião ideal, é garantir um mundo em que toda criança possa ser acolhida e respeitada do jeito que ela vier.

*Por Maria Cecília Erthal (CRM 408660 RJ – RQE 30301)
Médica especialista em Reprodução Assistida e membro da Brazil Health





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