Medicamentos modernos como os inibidores de SGLT2 e os análogos de GLP-1 trazem grandes avanços no tratamento do diabetes tipo 2, mas exigem acompanhamento médico rigoroso
Os inibidores de SGLT2, como Jardiance (empagliflozina) e Forxiga (dapagliflozina), e os análogos de GLP-1, como Victoza e Saxenda (liraglutida), Ozempic, Wegovy e Rybelsus (semaglutida), são medicamentos usados no tratamento do diabetes tipo 2 que atuam de maneira diferente dos antidiabéticos tradicionais.
Como agem os inibidores de SGLT2
Para entender o funcionamento dos inibidores de SGLT2, é importante saber que os rins filtram o sangue para eliminar substâncias indesejadas e reter as úteis. Durante esse processo, a glicose é inicialmente direcionada para a urina, mas uma proteína chamada SGLT2 (cotransportador de sódio-glicose 2) a reabsorve para o sangue. Os medicamentos inibidores de SGLT2 bloqueiam essa proteína, permitindo que a glicose seja eliminada pela urina e ajudando a reduzir o nível de açúcar no sangue.
Além do controle glicêmico, esses medicamentos oferecem outros benefícios, como a redução do risco de hospitalização por insuficiência cardíaca em pacientes com diabetes tipo 2 e doença cardiovascular. Também protegem os rins em pessoas com doença renal crônica, podendo adiar a necessidade de diálise e transplante. Como 1 grama de glicose tem 4 calorias, a eliminação da glicose pela urina contribui para a perda de peso, efeito benéfico para muitos diabéticos. Por terem leve ação diurética, também ajudam a controlar a pressão arterial.
Estudos clínicos mostraram que a empagliflozina reduz a mortalidade geral e cardiovascular em pessoas com diabetes e doença cardiovascular. A dapagliflozina teve efeito semelhante em pacientes com doença renal crônica ou insuficiência cardíaca.
O papel dos análogos de GLP-1 e GIP
Os análogos de GLP-1 (como a liraglutida e a semaglutida) mimetizam o hormônio natural GLP-1, que regula a glicose no sangue e promove a saciedade. Já os análogos duplos, como a tirzepatida, associam o GLP-1 ao GIP, outro hormônio que potencializa os efeitos metabólicos, favorecendo maior perda de peso e controle glicêmico.
Esses medicamentos atuam estimulando a produção de insulina, reduzindo o glucagon (que eleva o açúcar no sangue), retardando o esvaziamento gástrico e promovendo saciedade. O GIP também atua no pâncreas e no metabolismo de gordura, especialmente em jejum.
Assim como os inibidores de SGLT2, os análogos de GLP-1 e os duplos mostraram benefícios adicionais: podem reduzir o risco de doenças cardiovasculares e proteger os rins em pacientes com diabetes, além de melhorar quadros de apneia do sono em pessoas com obesidade. Pesquisas ainda em andamento investigam seu possível papel protetor contra o Alzheimer.
Automedicação pode trazer sérios riscos
Apesar de serem medicamentos modernos e eficazes, esses remédios devem ser utilizados com supervisão médica. Entre os efeitos adversos dos inibidores de SGLT2 estão infecções urinárias e genitais (como candidíase), perda de líquidos com risco de desidratação, pressão baixa e até desmaios, especialmente em idosos. A associação inadequada com insulina pode provocar cetoacidose, uma condição grave que pode levar ao coma ou à morte.
No caso dos análogos de GLP-1, os efeitos colaterais mais comuns no início do tratamento são náuseas, vômitos, constipação ou diarreia. As versões injetáveis (exceto Rybelsus, que é oral) podem causar reações no local da aplicação. O uso indevido desses medicamentos, muitas vezes com finalidade estética, levou a Anvisa a exigir receita controlada para sua aquisição.
Responsabilidade médica é essencial no tratamento
Os inibidores de SGLT2, os análogos de GLP-1 e os análogos duplos representam avanços significativos no controle do diabetes tipo 2 e no cuidado com a saúde cardiovascular e renal. No entanto, são indicados para tratar doenças sérias, e não devem ser usados como ferramentas de emagrecimento fora de contexto clínico. O acompanhamento médico é indispensável para garantir resultados seguros e eficazes.
Marcio C. Mancini – CRM 57.605 / RQE 13.936
Chefe do Grupo de Obesidade da Disciplina de Endocrinologia e Metabologia do HCFMUSP