Avanços recentes na medicina ampliam perspectivas para o tratamento do glioblastoma, uma doença que desafia especialistas e pacientes em todo o mundo
Quando falamos em tumores cerebrais, poucos nomes causam tanto temor quanto o glioblastoma. Trata-se de um tipo raro, porém extremamente agressivo, de câncer que se origina no próprio cérebro e cresce de maneira rápida e infiltrativa. Embora represente cerca de 15% dos tumores cerebrais primários, o glioblastoma é responsável por grande parte dos casos mais graves e difíceis de controlar.
O que é o glioblastoma e por que ele é tão perigoso?
O glioblastoma, também chamado de glioblastoma multiforme (GBM), é um tipo de astrocitoma grau 4, o mais alto nível de malignidade entre os tumores do sistema nervoso central, segundo a classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS). Sua origem está nas células da glia, que são responsáveis por sustentar e proteger os neurônios.
A principal característica do glioblastoma é seu comportamento invasivo. Ao contrário de outros tumores, que crescem como massas delimitadas, o glioblastoma se infiltra entre os tecidos cerebrais, dificultando a remoção completa por cirurgia. Mesmo após o tratamento, a taxa de recidiva é elevada.
Sintomas que exigem atenção
Os sintomas do glioblastoma variam conforme a localização do tumor, mas os mais comuns incluem:
- dor de cabeça progressiva e persistente
- crises convulsivas (em pessoas sem histórico anterior)
- alterações cognitivas e de comportamento
- dificuldade para falar ou compreender
- perda de força ou sensibilidade em um lado do corpo
- visão dupla ou embaçada
Esses sinais costumam surgir de forma progressiva e devem ser investigados por meio de exames de imagem, como a ressonância magnética.
Como é feito o diagnóstico
O diagnóstico é confirmado após uma biópsia ou cirurgia para retirada parcial do tumor, seguida da análise anatomopatológica do tecido. Além disso, testes genéticos, como a avaliação da mutação do gene IDH e da metilação do gene MGMT, auxiliam a prever a resposta ao tratamento e a expectativa de sobrevida.
De acordo com dados da American Brain Tumor Association, a taxa de incidência do glioblastoma é de cerca de 3 casos para cada 100 mil habitantes por ano. A maioria dos casos ocorre em adultos entre 45 e 70 anos, com leve predominância entre os homens.
Tratamento exige abordagem combinada
O tratamento do glioblastoma é sempre desafiador e demanda múltiplas frentes:
- Cirurgia: geralmente é o primeiro passo, com o objetivo de remover o máximo possível do tumor sem comprometer funções neurológicas;
- Radioterapia: realizada nas semanas seguintes à cirurgia, contribui para destruir células tumorais remanescentes;
- Quimioterapia: o medicamento mais comumente utilizado é a temozolomida, que pode ser administrada em ciclos durante meses;
- Novas terapias: alguns centros especializados oferecem tratamentos experimentais, como imunoterapia, terapia gênica, vacinas tumorais e dispositivos de eletroterapia implantável (Optune®).
Mesmo com todo o arsenal terapêutico disponível, o glioblastoma ainda apresenta prognóstico reservado. A sobrevida média gira em torno de 15 a 18 meses, mas há pacientes que superam esse período, especialmente quando o tumor apresenta mutações genéticas mais favoráveis.
Esperança e inovação no horizonte
Nos últimos anos, o avanço da neurocirurgia — com técnicas de neuronavegação, mapeamento eletrofisiológico em tempo real, ultrassonografias de alta resolução e cirurgia guiada por fluorescência — tem permitido ressecções mais seguras e eficazes. Simultaneamente, cientistas em diversos países buscam novas estratégias de tratamento, como o uso de células de defesa modificadas para atacar o tumor (terapia CAR-T), correção de defeitos no DNA das células cancerígenas (edição genética com CRISPR) e desenvolvimento de vacinas e medicamentos personalizados para cada paciente (imunoterapia personalizada).
A realidade do glioblastoma ainda impõe desafios difíceis, mas os avanços científicos têm trazido esperança — tanto para pacientes quanto para as famílias e profissionais que enfrentam esse inimigo complexo e traiçoeiro.
*Por Prof. Dr. Baltazar Leão – CRM-MG 44033 | RQE 31846
Professor Adjunto do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFMG
Doutorado pela Universidade Federal de Minas Gerais
Membro da Brazil Health