Exames de sangue revolucionam o diagnóstico precoce de doenças complexas

Testes sanguíneos ganham protagonismo ao oferecer mais sensibilidade e menos invasividade no rastreamento de doenças como Alzheimer e câncer rawpixel.com Uso de amostras de sangue para análise ganha destaque por ser uma forma segura, amplamente utilizada e tecnicamente bem estabelecida


Testes sanguíneos ganham protagonismo ao oferecer mais sensibilidade e menos invasividade no rastreamento de doenças como Alzheimer e câncer

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Uso de amostras de sangue para análise ganha destaque por ser uma forma segura, amplamente utilizada e tecnicamente bem estabelecida de coleta

Na medicina, identificar uma doença precocemente pode ser decisivo para o sucesso do tratamento. Por isso, estudos têm se voltado, cada vez mais, à busca de testes minimamente invasivos e de alta sensibilidade para diagnóstico, especialmente em casos de doenças complexas e frequentes, como Alzheimer e câncer. Nesse cenário, o uso de amostras de sangue para análise ganha destaque por ser uma forma segura, amplamente utilizada e tecnicamente bem estabelecida de coleta. Essa abordagem tem impulsionado o avanço das pesquisas com biomarcadores sanguíneos, que vêm se consolidando como elementos centrais na evolução do diagnóstico precoce.

Avanços tecnológicos e inteligência artificial

Avanços tecnológicos no campo da biologia molecular e genômica, espectrometria de massas e novas gerações de imunoensaios têm impulsionado os estudos ao permitir a detecção mais precisa de moléculas em concentrações muito baixas. Entretanto, esses avanços estão frequentemente associados a custos elevados e à necessidade de estruturas e equipes altamente especializadas. Outras estratégias, como o uso de ferramentas de inteligência artificial para análise de múltiplos marcadores sanguíneos — preferencialmente exames já amplamente disponíveis — vêm sendo exploradas. Apesar do potencial, essas inovações precisam ser avaliadas com cautela, levando em conta as evidências científicas disponíveis e o contexto clínico adequado para sua aplicação.

Alzheimer: diagnóstico precoce e novas diretrizes

A detecção precoce da doença de Alzheimer por meio de amostras de sangue é um bom exemplo de como a tecnologia, aliada a estudos clínicos e avanços terapêuticos, pode transformar a prática médica. Métodos ultrassensíveis tornaram possível medir no sangue proteínas associadas à doença, mesmo em concentrações muito baixas. Após debates científicos e validações clínicas, testes sanguíneos passaram a integrar diretrizes diagnósticas para Alzheimer, desde que critérios técnicos específicos sejam seguidos. Um dos testes mais consolidados é o PrecivityAD2, já disponível no Brasil. Vale destacar que esses exames não são indicados para qualquer pessoa, sendo recomendados apenas em casos com suspeita clínica, como alterações cognitivas leves. O objetivo é buscar uma confirmação diagnóstica menos invasiva do que a punção lombar ou o PET-CT. O acesso ao diagnóstico precoce caminha junto ao avanço em tratamentos com potencial para modificar o curso da doença.

Câncer: promessas e limites dos exames de triagem

No campo oncológico, há grande interesse em desenvolver testes capazes de identificar precocemente diferentes tipos de tumor. Apesar das inúmeras pesquisas, nenhum exame com esse objetivo foi ainda aprovado para triagem ampla ou incorporado às diretrizes das sociedades de oncologia. Por outro lado, para cânceres específicos, os avanços são mais consistentes. Recentemente, o FDA aprovou um teste em sangue para triagem de câncer de cólon em condições específicas, embora seu uso ainda seja limitado e não tenha sido aprovado pela Anvisa para uso no Brasil. Em pacientes já diagnosticados, testes sanguíneos têm se mostrado úteis para o monitoramento da resposta terapêutica e detecção precoce de recidivas.

O papel dos profissionais e a ética no uso dos exames

Para os profissionais de saúde, compreender as indicações dos exames e o impacto de seus resultados é fundamental. Conhecer precocemente um diagnóstico — ou a predisposição a uma doença — em casos sem opções terapêuticas disponíveis pode trazer implicações significativas. Essa decisão deve envolver o paciente e sua família, de forma consciente e compartilhada. Informar com clareza, avaliar riscos e benefícios, e respeitar os valores do paciente são etapas essenciais. Em muitos casos, a decisão sobre realizar ou não um exame deve contar com uma equipe multidisciplinar — neurologistas, oncologistas, psicólogos e geneticistas — para garantir um cuidado individualizado. Por fim, é fundamental lembrar que exames não substituem o acompanhamento clínico. Seus resultados devem ser interpretados considerando a história do paciente, sintomas, antecedentes familiares e outros exames. Como ainda há risco de falsos positivos e condutas desnecessárias, o uso desses testes precisa ser personalizado, ético e cientificamente respaldado.

Dra. Maria Carolina Tostes Pintão – CRM SP 91813
Hematologista e head médica de Pesquisa e Desenvolvimento do Grupo Fleury





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