O procedimento é indicado para casais de mulheres cis que desejam construir uma família com o envolvimento das duas parceiras no processo de geração da nova vida
O método ROPA — sigla para “Recepção de Óvulos da Parceira” — é uma das técnicas mais emocionantes e simbólicas da medicina reprodutiva atual. Ele possibilita que duas mulheres participem ativamente da gestação de um bebê: uma será a gestante, engravidando de um embrião formado com o óvulo da parceira. Assim, ambas tornam-se mães biológica e gestacional da criança.
Como funciona a fertilização entre duas mulheres
O procedimento é indicado para casais de mulheres cis que desejam construir uma família com o envolvimento das duas parceiras no processo de geração da nova vida. Embora ainda pouco conhecido pelo público leigo, o método é seguro, regulamentado e tem ganhado espaço nos consultórios e clínicas especializadas em reprodução assistida.
Tudo começa com a escolha do doador de sêmen, etapa que pode envolver bancos nacionais ou internacionais, sempre respeitando critérios de saúde e anonimato. Em seguida, as duas parceiras passam por exames hormonais, infectológicos e ultrassonografias.
Uma das mulheres passa por um processo de estimulação ovariana com hormônios, para que vários óvulos sejam coletados. Esses óvulos são fertilizados in vitro com o sêmen selecionado. Os embriões resultantes são cultivados e, posteriormente, transferidos para o útero da parceira que será a gestante.
Esse tipo de tratamento só é possível graças à evolução das técnicas de fertilização in vitro (FIV), que permitem separar com precisão as etapas de fecundação e gestação, mantendo a segurança do procedimento e elevadas taxas de sucesso.
O papel da epigenética no método ROPA
Um dos aspectos mais emocionantes do método ROPA é o papel da epigenética — o conjunto de mecanismos que regula a expressão dos genes. Isso significa que, mesmo sem compartilhar o DNA com o bebê, a mulher que vivencia a gestação influencia diretamente o desenvolvimento dessa nova vida.
Hormônios, alimentação, vínculos afetivos, ambiente uterino — tudo isso impacta a forma como os genes herdados se manifestam. Estudos demonstram que o útero não é apenas um órgão para crescimento do bebê, mas um verdadeiro cenário de comunicação biológica e emocional entre mãe e filho.
Esse dado reforça algo que muitas famílias homoafetivas já intuíram: a maternidade vai além da genética. A mulher que gesta também deixa suas marcas — físicas, emocionais e celulares — na criança que carrega.
Caminhos para a maternidade em casais homoafetivos
O método ROPA é uma entre várias alternativas para casais homoafetivos femininos que desejam ter filhos. Outras possibilidades incluem:
- inseminação intrauterina com sêmen de doador;
- fertilização in vitro convencional, com apenas uma das parceiras;
- adoção, sempre que houver desejo e condições legais para isso.
O mais importante é que a decisão seja tomada com orientação médica adequada, apoio emocional e conhecimento sobre os aspectos éticos, jurídicos e financeiros envolvidos em cada escolha.
No Brasil, a resolução nº 2.294/2021 do Conselho Federal de Medicina (CFM) permite o uso da reprodução assistida por casais homoafetivos, desde que haja consentimento informado e registro dos dados do doador conforme exigência da Anvisa.
Famílias plurais e o novo significado do amor materno
A medicina reprodutiva tem evoluído para acolher os diferentes formatos de família que existem hoje. Mais do que uma técnica, o método ROPA representa uma nova forma de exercer a maternidade: compartilhada, simbólica e profundamente conectada com o desejo de gerar vida a dois.
A cada novo caso, somos lembradas de que a maternidade é construída com afeto, escolhas conscientes e dedicação diária. E que a ciência, quando bem utilizada, pode ser uma ponte poderosa entre sonho e realidade.
*Por Dra. Stephanie Majer CRM SP 174028 RQE 393260
Graduada em Medicina pelo Centro Universitário São Camilo, especialista em Reprodução Humana pelo Hospital Pérola Byington e em Reprodução Assistida na ENNE Clinic.