Glauco Lima treina cães de alerta médico para diabetes como propósito de vida, ciência e justiça
A ciência já mostrou: cães têm capacidade real de detectar episódios de hipoglicemia e hiperglicemia em pessoas com diabetes tipo 1. Porém, no Brasil, enquanto a tecnologia avança e famílias buscam alternativas para mais segurança no dia a dia, a legislação ainda não evoluiu. Em contrapartida, o trabalho sério do adestrador Glauco Lima, chama a atenção ao assunto e destaca não apenas o profissionalismo no treinamento de cães de alerta médico, mas a importância de se discutir a regulamentação desse recurso de saúde no país.
“Salvar vidas através dos cães é o que me move. Mas é preciso fazer do jeito certo. O cão não é um milagre pronto: é um processo técnico, sério, individualizado, e o Brasil precisa começar a dar atenção às leis que permeiam isso e seguir produzindo autorizações judiciais específicas. Isso vai mudar muitas vidas e não só das famílias com os cães. Pode se transformar em negócio, se tornar uma veia de recuperação de cães abandonados e gerar empregos, inclusive”, afirma o especialista.
Há mais de 30 anos, o adestrador se dedica a formar cães que se tornam extensões da segurança e da autonomia de seus tutores. Para Glauco, o cão é uma ferramenta viva, sensível e altamente eficaz, mas não é mágica, e precisa ser tratada com respeito científico, emocional e legal. “Muita gente me procura achando que basta comprar um cão já treinado. Mas esse processo é profundamente pessoal. O cão precisa ser selecionado, preparado e vinculado com a pessoa que ele vai ajudar. Cada caso é único”.
Capacidade olfativa canina: um sensor biológico avançado
Cães têm uma estrutura olfativa extraordinária, com até 300 milhões de receptores olfativos contra 5 milhões nos humanos. Sim, eles conseguem detectar alterações químicas mínimas no corpo de um ser humano como as que ocorrem quando os níveis de glicose saem do controle. Esses sinais químicos, emitidos através do suor, da respiração ou da urina, ativam os neurônios sensoriais olfativos dos cães. Essas células enviam informações ao bulbo olfativo no cérebro canino, que interpreta os cheiros com incrível precisão.
“Os cães conseguem somar pistas olfativas como se estivessem montando um quebra-cabeça químico. Isso é o que permite que eles percebam a hipoglicemia ou a hiperglicemia antes mesmo da pessoa sentir os sintomas”, explica Glauco. O processo ideal tem diversas etapas e deve iniciar com o pedido médico à família após avaliação médica e laudo de recomendação. “O paciente (ou família) deve ter acompanhamento médico e um laudo que indique a necessidade de um cão de alerta, especialmente em casos de hipoglicemias severas ou recorrentes. Depois, é necessário que se busque um pedido judicial por liminar, para obter autorização formal do uso de cão de alerta médico. Essa decisão assegura o direito da família a circular com o animal em ambientes públicos e privados, como escolas, hospitais e transporte coletivo”.
Embora o uso de cães de alerta médico já seja regulamentado e até financiado por programas públicos em países como Estados Unidos, Canadá e Reino Unido, por aqui essa realidade ainda está em construção. Não há hoje uma lei federal que reconheça formalmente os cães de alerta médico ou de assistência. “Isso é um absurdo porque estamos falando de algo que pode evitar desmaios, convulsões, hospitalizações e até mortes. Mas é preciso consciência: não é moda, não é luxo. É saúde. E precisa ser tratado com o respeito que merece”, finaliza Glauco.

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Com a palavra: o tutor que tem diabetes e o cão de assistência

Bruno Casulli e a pequena Geni, que detecta as crises glicêmicas antes do equipamento e melhorou a qualidade de vida do empresário (Arquivo Pessoal)
Bruno Casulli, 34 anos, convive com o diabetes tipo 1 desde a adolescência. Como muitos pacientes, ele já sofreu episódios graves de hipoglicemia, inclusive à noite, enquanto dormia. Desde que a cadelinha Geni, da raça chihuahua, chegou, tudo mudou. “Hoje, nenhuma tecnologia me alerta com tanta antecedência. A Geni me avisa antes do sensor, às vezes até 10 minutos antes da queda acontecer. Ela me lambe, me cutuca, late. Eu já sei o que significa. Ela é parte do meu corpo e da minha segurança”, conta Bruno.
Em um dos episódios, Geni começou a latir insistentemente no meio da madrugada. Ao acordar, o empresário percebeu que estava a segundos de um episódio de hipoglicemia grave. Ele ingeriu açúcar imediatamente. O susto virou alívio e mais uma prova do instinto salvador da pequena heroína. Diversas universidades e centros de pesquisam, incluindo Legacy Research Institute, Oregon Health & Science University, University of Bristol, e University of Virginia, realizaram estudos que sustentam a ideia de que cães, especialmente treinados, podem detectar ou mesmo antecipar episódios de hipoglicemia.
“Isso já acontece na realidade do Bruno: a pequena Geni avisa o dono antes que o medidor apite e ele já se acostumou com isso. Ou seja, mais do que a capacidade de detectar as mudanças no corpo do tutor, os cães ainda fazem isso de maneira mais rápida, ultrapassando em alguns casos, até a tecnologia”, finaliza Glauco.