A nova febre do emagrecimento: a pressão por corpos perfeitos e seus riscos

Remédios para emagrecer viram febre e criam expectativas irreais; especialistas lembram: saúde vai além do peso e depende de hábitos, exercício, sono e cuidado emocional freepic.diller/Freepik Combinação de pressão estética e informação inadequada tem aumentado os indicadores de sofrimento psíquico


Remédios para emagrecer viram febre e criam expectativas irreais; especialistas lembram: saúde vai além do peso e depende de hábitos, exercício, sono e cuidado emocional

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Combinação de pressão estética e informação inadequada tem aumentado os indicadores de sofrimento psíquico

A era dos medicamentos modernos para emagrecimento, especialmente os agonistas de GLP-1, trouxe um avanço expressivo no tratamento da obesidade. Estudos de referência, como o STEP Program e o SURMOUNT-1, indicam reduções médias de 15% a 21% do peso corporal em 68 semanas. Esses números, embora clinicamente relevantes, acabaram impulsionando expectativas irreais na população sobre a velocidade, a magnitude e a “obrigatoriedade” do emagrecimento.

Redes sociais e desinformação

Nas redes sociais, os resultados aparecem de forma descontextualizada, sem mudança do estilo de vida, sem acompanhamento profissional, de modo “mágico” e sem mencionar que cerca de 30% dos pacientes respondem de forma distinta, seja por genética, contexto metabólico, histórico de peso ou questões emocionais. Dados do NIH reforçam que o corpo humano possui mecanismos adaptativos (como redução do gasto energético basal e aumento da fome compensatória) que dificultam a manutenção de perdas rápidas e significativas no longo prazo.

Padrões irreais e sofrimento psíquico

Essa combinação de pressão estética e informação inadequada tem aumentado os indicadores de sofrimento psíquico. A exposição contínua a padrões corporais idealizados nas redes sociais está associada a maior risco de insatisfação corporal, ansiedade e comportamento alimentar disfuncional, especialmente entre adultos jovens.

Saúde vai além do peso

É essencial lembrar que saúde não é sinônimo de magreza. A literatura é consistente: marcadores como força muscular, condicionamento cardiorrespiratório e composição corporal têm maior impacto na mortalidade do que o peso isolado. Estudos do American College of Sports Medicine demonstram que indivíduos fisicamente ativos, independentemente do IMC, apresentam até 50% menor risco de eventos cardiovasculares.

Promover uma relação mais equilibrada com o autocuidado exige redirecionar o foco. Em vez de buscar um corpo ‘otimizado’, devemos promover metas sustentáveis: sono adequado, alimentação de qualidade, manejo do estresse, saúde mental e atividade física regular. Esses fatores, comprovadamente, ampliam a longevidade saudável (healthspan) mais do que qualquer padrão estético.

O convite, portanto, é claro: menos pressão social, mais ciência, informação adequada e, sobretudo, mais humanidade no olhar sobre o próprio corpo.

Lyz Helena Aires Lopes – CREMESP 84386 RQE 137005
Endocrinologista





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