Violência política tem um caso a cada cinco dias na Região Metropolitana

A Região Metropolitana do Rio tem pelo menos um episódio de violência política a cada cinco dias. Uma pesquisa divulgada pelo Observatório das Favelas e pela Universidade Federal Fluminense (UFF), nesta terça-feira (14), identificou 79 casos entre julho de 2024


A Região Metropolitana do Rio tem pelo menos um episódio de violência política a cada cinco dias. Uma pesquisa divulgada pelo Observatório das Favelas e pela Universidade Federal Fluminense (UFF), nesta terça-feira (14), identificou 79 casos entre julho de 2024 e junho de 2025. A Baixada Fluminense foi a região onde mais ocorrências foram registradas, com 43% dos casos.

O levantamento analisa casos de violência no contexto político da Região Metropolitana e da Baía da Ilha Grande. De acordo com os pesquisadores, territórios considerados periféricos seguem sendo os mais afetados. Além disso, todos os episódios de violência cometidos por políticos em exercício aconteceram especificamente em áreas controladas por milícias. Na maior parte desses casos, as vítimas eram mulheres.

Período eleitoral é o mais crítico nos registros de violência

A maior parte dos registros de violência política analisados aconteceu durante o período eleitoral de 2024. Cerca de 75% dos casos ocorridos no ano passado aconteceram entre junho e outubro, às vésperas das eleições municipais.

“Os anos de eleição municipal são aqueles em que a gente encontra picos de assassinatos [na Baixada]. A gente percebe que a partir de junho e julho há um crescimento de execuções políticas que vai até outubro”, destacou o professor e sociólogo Leandro Marinho, que é um dos coordenadores executivos da pesquisa.

Outra tendência do período eleitoral é a violência política contra mulheres. Um terço dos casos nesses meses teve uma mulher cis, trans ou travesti como vítima. “É muito importante a gente dar destaque para esse dado porque, a despeito da subrepresentação de mulheres nos espaços institucionais de política, elas são mais vitimadas por políticos eleitos do que outros agressores”, reforçou o pesquisador.

Baixada teve 65 execuções políticas nos últimos dez anos

O número de execuções também apresentou um aumento, sobretudo na Baixada. Por lá, os assassinatos mais que triplicaram no período de disputa eleitoral, chegando à média de uma execução a cada 22 dias. Desde 2015, já foram 65 episódios de execução política na região.

Mulheres foram principais vítimas de violência cometida por políticos em exercício – Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Negros sofrem mais com violência política

No resto do ano, o perfil de vítimas continua sendo masculino. No entanto, houve uma mudança em relação a anos anteriores: pessoas negras passaram a sofrer a maior parte dos casos. A violência política contra essa população em específico quase dobrou entre 2022 e 2024. Esse aumento aconteceu no ano de uma eleição em que o número de candidatos negros superou o de brancos.

“Esse dado aponta para um padrão histórico de exclusão e silenciamento de lideranças políticas negras. E, embora ainda não seja possível fazer uma correlação estatística, a gente já pode dizer que há uma relação entre esse aumento de candidaturas de pessoas negras e a maior vulnerabilidade dessas pessoas no cenário político”, disse Leandro.

Violência armada domina índices

O levantamento ainda aponta que, em um terço de todos os casos de violência política registrados entre 2022 e o primeiro semestre de 2025, os agressores empregaram armas de fogo.

“O uso de armas de fogo mostra que estamos lidando com violências de alta contundência. Não estamos falando de um tipo de violência meramente simbólica ou moral”, destacou o cientista político André Rodrigues, que coordenou a pesquisa e é um dos responsáveis pelo Laboratório de Estudos sobre Política e Violência (LEPOV) da UFF.

Arma de fogo foi o meio mais empregado em casos de violência política
Arma de fogo foi o meio mais empregado em casos de violência política – Foto: Agência Brasil

O uso de armas pode estar relacionado com a presença de policiais em episódios. Desde 2022, policiais foram agressores em 58 casos de violência política – 43 destes casos ocorreram durante manifestações públicas. Além disso, duas pessoas foram mortas por agentes em protestos contra operações policiais nas favelas. Ambos ocorreram em áreas dominadas pelo tráfico de drogas.

“Na política de rotina, do dia-a-dia, a gente percebe uma permanência de dinâmicas pouco afeitas à lógica democrática e a complexificação de dinâmicas contrárias a essa lógica. Independente do grau de ofensividade dos casos, é um sinal preocupante essa incorporação de lógicas muito mais próximas da ilegalidade do que da vida política democrática”, constatou o professor João Trajano, que foi um dos pesquisadores.

Além do Observatório das Favelas e da UFF, o levantamento também contou com o apoio do Laboratório de Análise da Violência (LAV) da UERJ e das fundações Heinrich Böll e Medico International.



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