A preocupação com o meio ambiente tem influenciado cada vez mais as decisões de compra de parte dos brasileiros. Hoje, não basta que um produto seja bom ou confiável — é preciso que ele também seja sustentável. E os dados comprovam essa tendência: o consumo de produtos sustentáveis, como cosméticos naturais, roupas feitas com materiais reciclados e alimentos orgânicos, está em alta.
De acordo com o Instituto Akatu, 77% dos brasileiros afirmam que preferem comprar de marcas comprometidas com práticas sustentáveis. O país representa, hoje, cerca de 40% de todo o mercado sustentável da América Latina.
Tendência ou estratégia de mercado?
A sustentabilidade também virou estratégia de negócios. Dados mais recentes da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostram que o número de consumidores que não se preocupam com o impacto ambiental das compras caiu de 28% em 2022 para 24% em 2024. Ou seja, mais pessoas passaram a valorizar atributos ecológicos.
“As empresas entenderam que inovação e sustentabilidade são aliadas. E mais do que uma questão de imagem, tornaram-se exigência de mercado”, afirmou Roberto Muniz, diretor de Relações Institucionais da CNI.
A estudante de psicologia Isabela Martins, por exemplo, conta que passou a adotar hábitos de consumo mais sustentáveis a partir de influenciadores nas redes sociais. Hoje, ela evita produtos com ingredientes poluentes e opta por marcas que ofereçam transparência.
“Comecei comprando sabão biodegradável de marcas que vi na internet e hoje não consigo mais voltar aos convencionais. No início era pelo planeta, mas hoje é sobre bem-estar também”, afirmou.
O paradoxo: consumo sustentável (mas em excesso)
Apesar das boas intenções, o consumo sustentável enfrenta um novo dilema: ele tem servido, muitas vezes, como desculpa para consumir mais. O movimento não freia o consumo — apenas o “maquia” com selos verdes, embalagens recicláveis e discursos conscientes. Para a psicóloga Adriana Santiago, esse tipo de consumo está diretamente ligado à identidade.
“Consumimos ideias, estilos de vida. O consumo sustentável ativa áreas do cérebro ligadas à recompensa e à moralidade. Ao comprar algo ‘ecológico’, sentimos alívio, até uma espécie de superioridade ética”, analisou.
Já a professora de economia circular Renata Vilarinho concorda com Adriana. Segundo ela, o consumo sustentável é não é sobre o produto, mas sobre escolher o que não comprar.
“O consumo sustentável vai além do produto em si — ele envolve reflexão e responsabilidade. Ou seja, não é só trocar um produto por outro “mais verde”, mas repensar a forma de consumir”, complementa Renata.
Sendo assim, consumir de forma sustentável pode ser menos sobre o que se coloca no carrinho e mais sobre o que se decide deixar na prateleira. Em um cenário em que o marketing verde avança a passos largos, o verdadeiro desafio está em equilibrar desejo e consciência — e entender que, muitas vezes, o ato mais ecológico pode ser simplesmente não comprar.