Preocupante: Transatlânticos Estão Abandonando o Porto do Rio em Direção a Santos?

Antônio Sá Fiscal de Rendas aposentado do Município do Rio de Janeiro, Ex-Subsecretário de Assuntos Legislativos e Parlamentares do Município do Rio de Janeiro Bacharel em Direito e Economia. Gosto de fazer viagens de cruzeiro. Nada como embarcar em um


Gosto de fazer viagens de cruzeiro. Nada como embarcar em um navio, relaxar com o balanço do mar e visitar diferentes destinos sem desfazer a mala. Mas tenho percebido que, ao contrário do que ocorria no passado, muitos desses cruzeiros estão agora partindo do Porto de Santos, em São Paulo, e não mais do Porto do Rio de Janeiro.

Nos últimos cruzeiros que fiz, tive que me dirigir até a cidade de Santos para poder embarcar. Isso me levou a passear por Santos, conhecer suas praias, ver de perto os prédios inclinados da cidade — que estão “tombando” devido à fundação em solo arenoso e instável (este assunto até vale um artigo) — e visitar o Museu do Pelé e outros espaços culturais locais, como Mirante do Monte Serrat, o Aquário Municipal, o Orquidário Municipal, o Jardim Botânico, o Centro Histórico, o Museu Marítimo, o Museu do Café e o Estádio Urbano Caldeira, mais conhecido como Vila Belmiro, que pertence ao Santos Futebol Clube.

Naturalmente, acabei deixando dinheiro em hotéis, restaurantes, transporte e demais serviços daquela cidade — recursos que, em outros tempos, teriam sido gastos aqui mesmo, no Rio de Janeiro.

Ao estranhar essa mudança de rota, como sou um curioso — mais do que isso, um curioso nato e incorrigível — fui pesquisar sobre o assunto — e tive a péssima constatação que relato abaixo.

A cidade do Rio, que já foi um dos principais polos de cruzeiros marítimos da América do Sul, tem visto seu protagonismo nesse setor despencar. O número de escalas de navios caiu drasticamente, e os cruzeiros que antes zarpavam do Pier Mauá agora, em sua maioria, optam por Santos.

O Rio de Janeiro foi um dos portos que mais perdeu escalas e embarques.

Enquanto isso, o Porto de Santos tem se consolidado como a grande porta de entrada e saída de cruzeiros no Brasil. O Terminal de Passageiros Giusfredo Santini, o Concais, é hoje responsável por quase 60% de todos os embarques realizados no país a cada temporada — uma hegemonia que diz muito sobre a falta de competitividade dos demais portos, especialmente o do Rio.

O Rio ainda recebe navios — principalmente como destino de passagem — mas perdeu a relevância como ponto de embarque. Isso não é apenas um problema para os cariocas que, como eu, preferem iniciar sua viagem por aqui. É também um alerta grave para o setor de turismo da cidade, que deixa de movimentar sua economia com os gastos dos turistas que chegam ou partem do cais, além de gerar menos empregos temporários e permanentes.

As causas para essa decadência incluem infraestrutura deficiente, altos custos operacionais no Porto do Rio e falta de incentivos específicos para o setor de cruzeiros. Esses altos custos têm sido alvo frequente de reclamações não apenas das companhias marítimas, mas também dos próprios usuários — passageiros, agentes e operadores que lidam com o embarque no Rio de Janeiro — que apontam a operação no Porto do Rio como uma das mais onerosas do país.

Enquanto isso, Santos investe e colhe os frutos. O terminal paulista foi modernizado, tem operações mais ágeis e tarifas portuárias mais atrativas. Resultado: virou o hub (centro de conexão, núcleo ou ponto central), ou seja principal ponto de embarque e desembarque dos cruzeiros no Brasil.

Dados concretos da temporada 2025/2026

Ao pesquisar sobre os cruzeiros programados para os próximos anos, encontrei no sítio Logitravel (www.logitravel.com.br) uma fonte bastante confiável e organizada para quem busca informações atualizadas sobre a movimentação de cruzeiros marítimos saindo do Brasil. Embora a plataforma seja voltada prioritariamente à venda de pacotes e passagens, ela também disponibiliza, de forma clara e acessível, os dados mais relevantes sobre as saídas previstas, os portos de embarque, as companhias marítimas envolvidas e os roteiros oferecidos. Por isso, mesmo para quem não pretende comprar imediatamente uma viagem, o Logitravel pode ser utilizado como um repositório útil de informações para estudos e acompanhamentos sobre o setor de turismo marítimo no país.

Esses dados se tornam ainda mais importantes se considerarmos o contexto da temporada brasileira de cruzeiros, que ocorre tradicionalmente entre os meses de novembro e abril. Esse período coincide com o verão no hemisfério sul, o que garante temperaturas mais elevadas e mares mais calmos — condições ideais para a navegação e para o turismo litorâneo. Além disso, muitos navios que operam no verão europeu costumam migrar para o Brasil durante esse intervalo, fugindo do inverno no hemisfério norte e aproveitando a alta demanda da América do Sul. Isso explica por que as principais saídas e operações de cruzeiros no Brasil estão concentradas justamente nessa época do ano.

A próxima temporada de cruzeiros no Brasil está programada para ocorrer de novembro de 2025 a abril de 2026. Durante esse intervalo, companhias como a MSC Cruzeiros e a Costa Cruzeiros já anunciaram dezenas de roteiros, tanto pela costa brasileira quanto por países vizinhos como Argentina e Uruguai. E é justamente com base nesse recorte temporal que realizei as buscas no sítio Logitravel, com foco nas saídas a partir dos dois portos mais importantes do país: Santos (SP) e Rio de Janeiro (RJ).

No caso do Porto de Santos, o levantamento no sítio revelou um total de 55 cruzeiros programados para a temporada 2025/2026, com embarques entre 26 de outubro de 2025 e 19 de abril de 2026. As saídas são operadas por duas companhias: MSC Cruzeiros, com 39 cruzeiros, e Costa Cruzeiros, com 16. A relação completa pode ser consultada diretamente no seguinte endereço:

https://www.logitravel.com.br/cruisesshowcase/searcher/?codPuerto=46

Já no Porto do Rio de Janeiro, o número de saídas previstas é inferior: 38 cruzeiros, com datas programadas entre 25 de outubro de 2025 e 20 de abril de 2026. Nesse caso, a distribuição entre as companhias é a seguinte: MSC Cruzeiros com 24 cruzeiros, Costa Cruzeiros com 10, Oceania Cruises com 3, e Regent Seven Seas com 1. As informações estão disponíveis no endereço:

https://www.logitravel.com.br/cruisesshowcase/searcher/?codPuerto=45

Destaco que o sitio cita 39 e não 38 cruzeiros, porque inclui um que sairá no dia 19 de março de 2027, ou seja fora da temporada 2025/2026.

Essa diferença entre os portos confirma a constatação que fiz anteriormente: o Porto de Santos tem hoje maior volume de partidas programadas do que o Porto do Rio de Janeiro, o que pode sinalizar mudanças estruturais e comerciais no planejamento das operadoras de cruzeiros no Brasil.

E mais do que isso: quando somamos as saídas do Porto de Santos (55) e do Porto do Rio (38), temos um total de 93 saídas programadas. Dessas, Santos responde por aproximadamente 59,14% (55/93 x 100), o que confirma, com exatidão matemática, a informação de que o Concais é hoje responsável por quase 60% de todos os embarques feitos no país por temporada.

Escalas: onde param os navios

Durante a temporada de cruzeiros 2024/2025, o Porto de Santos e o Porto do Rio de Janeiro apresentaram movimentações distintas também em termos de escalas de navios, ou seja, nas paradas programadas pelos cruzeiros ao longo dos seus roteiros.

Porto de Santos (Terminal Concais)

  • Total de escalas: 151 atracações de cruzeiros
  • Navios operando: 13 embarcações
  • Duração da temporada: De 8 de novembro de 2024 a 20 de abril de 2025
  • Projeção de passageiros: Cerca de 1 milhão de turistas

Entre os destaques estão o MSC Seaview, com 40 escalas, e o MSC Grandiosa, o maior navio a operar no Brasil, com embarques semanais em Santos. Além deles, navios internacionais como o Majestic Princess e o Crystal Serenity também marcaram presença no porto.

Porto do Rio de Janeiro (Pier Mauá)

  • Total de escalas: 112 atracações de cruzeiros
  • Navios operando: 41 embarcações (30 internacionais, 11 nacionais)
  • Duração da temporada: De 28 de outubro de 2024 a 21 de abril de 2025
  • Projeção de passageiros: Aproximadamente 323 mil turistas

O Rio de Janeiro recebeu navios de grande porte, como o MSC Grandiosa, que realizou duas escalas na cidade, e o Queen Victoria, da Cunard Line, que retornou ao Brasil após cinco anos. O porto também foi ponto de parada para cruzeiros de volta ao mundo, como o Costa Deliziosa e o Crystal Serenity.

Impacto Econômico: embarque vale mais do que escala

Segundo a pesquisa “Estudo de Perfil e Impactos Econômicos no Brasil – Cruzeiros Marítimos – Temporada 2023–2024”, elaborada pela Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (CLIA Brasil) em parceria com a Fundação Getúlio Vargas – FGV, o impacto econômico das operações de cruzeiro é significativamente maior nas cidades de embarque do que nas cidades de escala.

  • Gasto médio por cruzeirista nas cidades de escala: R$ 668,91
  • Gasto médio por cruzeirista nas cidades de embarque: R$ 877,01

Ou seja, o embarque gera mais impacto econômico local do que uma simples parada. Isso reforça a importância de recuperar o protagonismo do Rio de Janeiro como ponto de partida das viagens, e não apenas como cenário de belas fotos tiradas da amurada de um navio em trânsito.

O estudo completo pode ser acessado no seguinte sítio:

https://abremar.com.br/estudo-clia-temporada-2023-2024.pdf

A hora de o Rio acordar

O abandono progressivo do nosso porto pelas grandes operadoras de cruzeiros é um sinal de que estamos perdendo espaço para destinos mais organizados, mais eficientes e mais acolhedores. Precisamos de uma estratégia clara para retomar esse mercado — ou continuaremos vendo nossos navios partirem… mas cada vez mais longe de casa.

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