Argentino, Merck, Magarça, Zona Sudoeste. Nos últimos meses, uma verdadeira onda urbanística tomou conta dos debates na Câmara do Rio. E o mapa da cidade parece ganhar, a cada dia, um novo redesenho e novos bairros. A proposta mais recente é do bairro Magarça, aprovada em primeira votação na última sessão do Legislativo carioca. Resta saber que melhorias concretas esses novos bairros trazem para vida do cidadão. E se vale a pena todo o debate em torno do tema.
O último bairro criado no Rio foi o Argentino, na Zona Norte, oficializado em maio deste ano com a sanção do prefeito Eduardo Paes (PSD). Antes da mudança, a área pertencia a Brás de Pina. Com a separação, o Argentino se tornou o menor bairro da cidade, formado por apenas quatro ruas.
Entre os novos bairros, a proposta mais avançada é a do Magarça, de autoria do vereador Rocal (PSD), aprovada em primeira discussão nesta quinta-feira (23). Segundo o texto, o novo bairro da Zona Oeste será delimitado pela Estrada do Magarça, entre a Estrada do Mato Alto e a Avenida das Américas; pela Rua Campo Formoso, até a Estrada Cabuçu de Baixo; e pela área do Jardim Maravilha.
Já o projeto que propõe separar o Merck da Taquara, na Zona Sudoeste, é de autoria do vereador Flávio Pato (PSD) e ainda aguarda parecer de comissões antes de ser levado ao plenário. Segundo o parlamentar, o nome faz referência à Companhia Merck S.A., empresa alemã que manteve uma fábrica do setor farmacêutico na região entre 1974 e 2011.
Para urbanista, criar novos bairros não traz qualquer mudança prática na vida das pessoas
As mudanças têm como justificativa melhorar a distribuição dos recursos públicos para áreas como saúde, educação e saneamento básico, de forma mais direcionada a cada localidade. No entanto, para Sydnei Menezes, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio (CAU/RJ), criar novos bairros é, na prática, uma alteração administrativa, sem impactos concretos na vida dos moradores.
“A criação desses novos bairros ou sub-bairros, do ponto de vista do planejamento urbano, não traz nenhum impacto. Não muda a vida das pessoas, nem a dinâmica urbana da cidade. O que ocorre, na prática, é apenas uma mudança administrativa, com novas subdivisões territoriais”, explicou Menezes.
Arquiteto chama projetos de ‘rearranjo administrativo’
O arquiteto e urbanista lembrou ainda como foram criados os instrumentos de gestão territorial do município na década de 1970. O Rio é, atualmente, dividido em Áreas de Planejamento (APs), compostas por Regiões Administrativas (RAs). Cada RA, por sua vez, é formada por unidades espaciais (bairros), posteriormente agrupadas sob subprefeituras.
“Na verdade, o que está sendo apresentado aqui é mais um rearranjo administrativo dessas regiões. Do ponto de vista do planejamento, do investimento público, da infraestrutura urbana e de outras ações mais estruturantes, nada de novo acontecerá. Tudo continuará como está, sem novidades”, finalizou Menezes.
‘Criadores de bairros’ defendem iniciativa alegando melhor distribuição de recursos
Atualmente, a região administrativa de Guaratiba é composta por quatro bairros oficiais: Guaratiba, Barra de Guaratiba, Pedra de Guaratiba e Ilha de Guaratiba. Para os vereadores “criadores de bairros”, a iniciativa permite melhor alocação de recursos destinados a serviços públicos. Rocal defende o projeto, citando os investimentos da prefeitura na região.
“O Jardim Maravilha é um bom exemplo dos investimentos que a prefeitura tem feito na região do Magarça. Houve muito sofrimento com as enchentes, amplamente noticiadas pela imprensa, e anos de luta dos moradores, que hoje conquistaram dignidade. São muitos os desafios e necessidades desse grande Magarça”, disse o parlamentar.
A localidade abriga uma via importante que conecta diversas áreas da Zona Oeste. Desde as obras para os Jogos Olímpicos de 2016, a região do Magarça tem recebido investimentos em infraestrutura, mobilidade urbana e empreendimentos imobiliários. Em março de 2024, a prefeitura inaugurou o Terminal Magarça, parte do corredor Transoeste, para atender à região. Agora, com o projeto, entra para a lista dos novos bairros cariocas.



