Férias no celular: desigualdade restringe opções de crianças da periferia

Enquanto algumas crianças passam o mês de julho entre colônias de férias, viagens internacionais e cursos de idioma, outras enfrentam os dias trancadas em casa, muitas vezes com um celular na mão. A chegada das férias escolares escancara uma desigualdade


Enquanto algumas crianças passam o mês de julho entre colônias de férias, viagens internacionais e cursos de idioma, outras enfrentam os dias trancadas em casa, muitas vezes com um celular na mão. A chegada das férias escolares escancara uma desigualdade que vai muito além da sala de aula: o acesso ao lazer, à cultura e ao direito ao tempo livre com qualidade.

Crianças de famílias com maior poder aquisitivo costumam ter agendas cheias de atividades extracurriculares. Para elas, as férias se tornam uma extensão do aprendizado e do desenvolvimento pessoal — além de fortalecer a autoestima e a convivência social. Já nas periferias, a realidade é outra.

“Minha filha passa o dia em casa, no celular. Eu e meu marido trabalhamos o dia inteiro. Não temos com quem deixar e também não dá para pagar uma colônia de férias”, conta Tatiane dos Santos, moradora do Complexo da Maré e mãe de uma menina de 13 anos.

Um levantamento da pesquisa TIC Kids Online Brasil mostra que 84% das crianças entre 9 e 17 anos acessam a internet todos os dias — 73% delas pelo próprio celular. Em regiões vulneráveis, a falta de atividades no período de recesso escolar contribui para o aumento do tempo de tela e o isolamento.

Para a pedagoga Rafaela Veloso, o uso excessivo de telas pode prejudicar o desenvolvimento emocional e cognitivo.

“O tempo excessivo em frente às telas substitui atividades fundamentais, como brincar ao ar livre, interagir com outras crianças e explorar o mundo real. A longo prazo, isso impacta no aprendizado, na socialização e até na saúde mental”, explica.

O ‘apagão’ do aprendizado

A ausência de opções durante as férias também pode expor crianças a riscos sociais, como a violência, a negligência e até o trabalho infantil. Outro fator preocupante é o chamado “apagão do aprendizado” — a perda de habilidades cognitivas e sociais adquiridas durante o ano letivo.

“Essa desigualdade nas férias não é apenas uma questão de lazer, mas também de oportunidade. As diferenças acumuladas ano após ano aprofundam o fosso entre os que terão mais chances de prosperar e os que enfrentarão obstáculos desde a infância”, afirma Yvonne Bezerra de Mello, fundadora do Projeto Uerê, no Complexo da Maré.

Alternativas acessíveis

Na tentativa de reduzir esse abismo, algumas iniciativas oferecem atividades gratuitas para crianças em situação de vulnerabilidade. A Secretaria municipal de Educação organiza todos os anos o projeto “Escola de Férias”. As inscrições abrem na próxima terça-feira (8), e serão feitas de forma online. As vagas são limitadas.

Além do projeto da prefeitura, outras ONGs e espaços comunitários criam programações culturais, esportivas e educativas gratuitas para as crianças. Pensando nisso, a Firjan também promove, todos os anos, a Colônia de Férias Firjan Sesi. Com jogos, desafios e dinâmicas interativas, o projeto vai dos dias 14 a 25 de julho em todas as unidades. A inscrições podem ser feitas presencialmente, mas é preciso preencher um formulário de registro de interesse.

Essas ações ajudam a garantir que mais crianças tenham direito a uma infância rica em experiências, cuidados e dignidade — independentemente da renda de suas famílias.





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