Durante o período de licença do governador Cláudio Castro, entre os dias 16 e 25 de junho, o presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Rodrigo Bacellar (União), assumiu interinamente o comando do Palácio Guanabara. Nesse intervalo de tempo — por coincidência, ou não — o Governo do RJ revogou uma resolução que previa o envio de mais de R$ 66 milhões à rede municipal de saúde de Campos dos Goytacazes, a cidade mais importante do interior fluminense. O cancelamento foi oficializado no Diário Oficial do dia 23, por meio de ato assinado pela secretária estadual de Saúde, Claudia Maria Braga de Mello.
A medida anulou a Resolução SES nº 3.646, que instituía apoio financeiro mensal aos hospitais Ferreira Machado e Geral de Guarus, unidades de referência para a Região Norte do estado. Também seriam beneficiados o Hospital São José e ao menos quatro hospitais filantrópicos conveniados ao SUS: Santa Casa de Misericórdia, Hospital Álvaro Alvim, Beneficência Portuguesa e Hospital dos Plantadores de Cana. O valor previsto no plano, agora suspenso, era de R$ 66,2 milhões até o fim de 2025, com repasses mensais destinados exclusivamente ao custeio.
O prefeito Wladimir Garotinho (PP) afirmou que a revogação pode levar ao colapso da rede pública na região: “Não teremos como sustentar o atendimento da região. Somos um polo de saúde e teremos que fechar as portas para todos. Vamos colapsar.”
Aliados do prefeito avaliam que a medida tem motivação política. Nas últimas semanas, Wladimir — filho do ex-governador Anthony Garotinho — publicou diversas postagens em que acusava Bacellar de asfixiar financeiramente o município. As famílias Garotinho e Bacellar são rivais históricas em Campos. Wladimir acusou Bacellar de influenciar diretamente o corte — agora formalizado — afirmando que a estratégia seria criar um cenário de caos no município para desviar a responsabilidade para a gestão municipal e enfraquecê-lo politicamente. Ele prometeu recorrer à Justiça contra o que chamou de “barganha eleitoral”.
A justificativa registrada no Diário Oficial, no entanto, é que, no momento, não haveria “disponibilidade orçamentária” para a execução do acordo.