No início do mês, a aposentada Rosimere Guimarães, de 61 anos, levou um susto ao receber uma ligação de uma suposta atendente de banco. Do outro lado da linha, a mulher dizia estar tratando de um problema no cartão de crédito. “Ela sabia todos os meus dados. Eu realmente quase acreditei”, contou. A desconfiança só veio quando pediram que ela digitasse a senha do cartão.
O caso de Rosimere está longe de ser isolado. Em uma rotina cada vez mais digital — entre cadastros online, aplicativos e redes sociais —, deixar rastros virou algo quase inevitável e perigoso.
A exposição de dados pessoais em plataformas digitais é, muitas vezes, um prato cheio para fraudes. Com essas informações, criminosos se passam por bancos, empresas ou até parentes para enganar as vítimas.
“Os primeiros dados que um criminoso tenta conseguir são e-mail e telefone. Com isso, ele começa a montar o quebra-cabeça e coletar outras informações”, explica Helio Cunha, especialista em segurança digital da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
Segundo Helio, uma das formas dos criminosos conseguirem essas informações é através de “presentes”, como colocar o e-mail para conseguir um bônus. Uma outra maneira é com jogos online e fotos compartilhadas nas redes sociais.
“Um dado isolado pode não representrar muito risco, mas a soma desses dados aparentemente inofensivos que a gente compartilha pode ser o suficiente para os golpistas”, continuou.
Golpes mais frequentes
Entre os golpes mais comuns, Helio destaca a clonagem de contas no WhatsApp e em redes sociais. Foi o que aconteceu com o analista de sistemas Felipe Rocha, de 28 anos.
“Usaram uma foto minha do LinkedIn e criaram uma conta falsa de WhatsApp. Mandaram mensagens para meus colegas de trabalho pedindo dinheiro ‘emprestado’. Um deles chegou a transferir R$ 500 achando que era pra mim”.
Outros golpes frequentes são:
- Falsa central de atendimento;
- Anúncios de vendas falsos;
- Fraudes de identidade, com pedidos de crédito em nome das vítimas.
“A soma desses dados aparentemente bobos — como endereço, CPF, nome da mãe — permite que o golpista tente abrir contas ou pedir empréstimos em nome de terceiros”, afirma o especialista.
Segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), mais de 70% das fraudes por telefone e WhatsApp envolvem algum grau de engenharia social — técnica em que o criminoso manipula a vítima usando informações reais para parecer confiável.
Como se proteger
No início de julho, a Prefeitura do Rio lançou a operação CPF Protegido, para fiscalizar o uso indevido de dados em farmácias da cidade. A nova norma proíbe a exigência do CPF do consumidor sem consentimento claro, e veta a prática de condicionar descontos à entrega de informações pessoais — o que pode ser considerado abuso ou publicidade enganosa.
Helio Cunha lista medidas simples, mas eficazes, para reduzir os riscos:
- Ativar a verificação em duas etapas nos aplicativos;
- Manter os apps e o sistema operacional atualizados;
- Evitar compartilhar dados com sites desconhecidos;
- Ter cautela ao postar fotos e informações nas redes sociais;
- Evitar pagamentos via Pix para empresas que não conhece.