Nestes tempos em que virou tendência riscar o chão da política, o prefeito Eduardo Paes (PSD) vem brincando com fogo. A Câmara de Vereadores já vinha descontente com demonstrações de desrespeito do Poder Executivo com o Legislativo — incluindo puxões de orelhas em grupo de mensagens e redes sociais, sem falar no uso de máscaras por secretários municipais durante uma sessão, só para provocar o oposicionista Rogério Amorim (PL).
Mas o prefeito elevou ainda mais a temperatura, com as provocações na entrevista coletiva desta sexta-feira (06), sobre o armamento da Guarda Municipal.
Paes soltou os torpedos habituais em direção à oposição, dizendo que a nova Força de Segurança não iria ceder agentes para quem “adora requisitar policial para seu gabinete” e ter segurança particular “para dar uma de valentão”. Mas também sobrou para os aliados, com reclamações sobre o que seria um “atraso” na tramitação da proposta — cheia de polêmicas, aliás, como a contratação de agentes temporários.
E foi aí que a porca torceu o rabo.
A turma da Cinelândia se sentiu para lá de desprestigiada por todo o seu esforço para debater o projeto com a atenção que ele merece, e ainda ter realizado a primeira votação na metade do tempo regulamentar.
Como o projeto teve que ser reapresentado por pressão da Câmara para incluir os guardas municipais no destacamento de elite, ele só foi publicado em 11 de março. E, pelo ritmo normal, de 14 dias de análise para cada uma das sete comissões, ele só chegaria ao plenário, no mínimo, em meados de agosto.
Sem contar que, em sua fala, Paes deu a entender que poderia pôr o grupamento especial para circular por meio de decreto. O bacharel em Direito só se esqueceu de ler a emenda à Lei Orgânica do município aprovada para permitir o uso de armas de fogo: ela determina a criação de lei específica sobre o assunto.
A difícil tarefa de lembrar Paes sobre o papel do legislativo
Pelo visto, o presidente da Câmara, Carlo Caiado (PSD), vai ter que começar usar capacete de bombeiro em tempo integral. Na própria casa, o vereador já vinha baixando a temperatura entre os colegas, e conseguiu articular o parecer conjunto que acelerou a tramitação do projeto em metade do tempo regimental.
Mas agora, também terá em suas mãos a árdua tarefa de lembrar ao prefeito — que, afinal, já foi vereador e deputado — que o consenso no Legislativo é soberano e demanda seu próprio tempo.