A Comissão de Segurança Pública da Câmara do Rio realizou, na manhã desta quinta-feira (23), uma audiência pública para discutir as denúncias envolvendo corpos mumificados encontrados no necrotério do Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier. O caso, inicialmente revelado pelo Instituto Médico Legal (IML), aponta indícios de crimes e irregularidades na condução dos procedimentos hospitalares.
Presente na audiência, o delegado Luiz Jorge Rodrigues da Silva, da 23ª DP (Méier), informou que o IML registrou, no Salgado Filho, 14 corpos com sinais de violência, incluindo homicídios, atropelamentos e fragmentos em sacos plásticos. O hospital enviou apenas o funcionário do gaveteiro do necrotério, que foi demitido. A identificação das vítimas só será possível por exame de DNA ou análise odontológica.
O caso foi registrado como fraude processual e vilipêndio de cadáver. André Luiz Medeiros, diretor do IML, afirmou que a denúncia foi feita após corpos chegarem em estado avançado de decomposição e sem registro adequado. Segundo ele, alguns desses corpos permaneceram no necrotério por cerca de um ano.
Rogério Amorim afirmou que houve ‘omissão e má-fé’
O presidente da comissão, Rogério Amorim (PL), que também é médico neurocirurgião, classificou o episódio do Hospital Salgado Filho como “premeditado e de extrema gravidade”, destacando que os cadáveres apresentavam sinais de violência e estavam sem os devidos registros, contrariando protocolos legais.
“Corpos com suspeita de homicídio não podem ser simplesmente abandonados. Não houve esquecimento: houve omissão e má-fé. É inadmissível que a segunda maior cidade do país trate seus mortos com tamanho descaso, e pior ainda, que a população tome conhecimento pela imprensa”, afirmou Amorim.
O secretário de Saúde não compareceu à audiência
O secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, foi convidado, mas não compareceu e nem enviou representante. A investigação está sob segredo de justiça, e a Comissão de Segurança Pública acompanhará o caso. A Polícia Civil anunciou novas oitivas para o próximo mês.
O vereador Dr. Gilberto (Solidariedade) alertou que todas as hipóteses devem ser consideradas, inclusive a possibilidade de tráfico de cadáveres para uso universitário. A advogada Sabrina Pacheco, da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, também participou da audiência.
O líder do PL no parlamento carioca propôs a criação da “CPI das Múmias” para investigar desde a possível ocultação de cadáveres e fraude processual até casos de prevaricação e eventual interferência de grupos armados na rede municipal de saúde. O requerimento de instalação da CPI já conta com 11 assinaturas e precisa de 17 para ser protocolado.
Atualização (19h20)
En nota, a secretaria municipal de Saúde justificou a ausência afirmando que “não houve tema específico definido no convite para a audiência pública, constando apenas a indicação genérica de ‘debater os últimos fatos ocorridos no Hospital Salgado Filho’”, e que o prazo de convocação, “de apenas seis dias úteis”, foi demasiadamente curto e “inviabilizou a participação de representantes da Secretaria, uma vez que a organização de uma audiência pública requer planejamento prévio e a preparação de informações técnicas e administrativas adequadas ao debate.”
Leia a íntegra da nota:
A Secretaria Municipal de Saúde esclarece que não houve tema específico definido no convite para a audiência pública, constando apenas a indicação genérica de “debater os últimos fatos ocorridos no Hospital Salgado Filho”.
A pasta reforça que o curto prazo de convocação — apenas seis dias úteis entre o convite e a data da audiência — inviabilizou a participação de representantes da Secretaria, uma vez que a organização de uma audiência pública requer planejamento prévio e a preparação de informações técnicas e administrativas adequadas ao debate.
A Secretaria permanece à disposição para dialogar com o Poder Legislativo e com a sociedade, e reitera seu compromisso com a transparência e a melhoria contínua da rede municipal de saúde, inclusive aguardando uma audiência para discutir as mais de 800 vezes que as unidades de saúde tiveram que fechar suas portas por motivos de segurança. Em especial na região do Grande Méier, jurisdição da 23a DP, uma audiência específica para discutir os pontos de venda de crack mapeados e enviados por ofício para a Secretaria de Estado de Segurança Pública.



