‘A paixão inevitável de Esteban’ sinaliza os estertores da literatura?

Chocado com o relato de um amigo sobre a capacidade da IA produzir boa literatura, resolvi fazer um teste e pedi ao DeepSeek para escrever um conto com final surpreendente, usando aproximadamente 3.500 caracteres, acerca da paixão de um aluno


Chocado com o relato de um amigo sobre a capacidade da IA produzir boa literatura, resolvi fazer um teste e pedi ao DeepSeek para escrever um conto com final surpreendente, usando aproximadamente 3.500 caracteres, acerca da paixão de um aluno por sua professora de Geografia. E mais, usasse o estilo de Gabriel García Márquez e seu realismo fantástico. Em exatos 16 segundos recebi:

‘A paixão inevitável de Esteban’

Era uma tarde de maio quando Esteban, de 15 anos, descobriu que estava perdidamente apaixonado pela professora de Geografia. A senhorita Alba não era como as outras mestras: trazia consigo um perfume de jasmim que inundava a sala mesmo antes de entrar, e seus olhos verdes pareciam conter todos os oceanos que ela ensinava a localizar no mapa.

Esteban, um rapaz tímido de cabelos negros e desalinhados, passava as aulas inteiras a observá-la, imaginando como seria tocar aquelas mãos que deslizavam sobre o globo terrestre com a delicadeza de quem acaricia um amante. À noite, sonhava que ela lhe sussurrava os nomes dos rios da América do Sul como se fossem promessas, e acordava com o coração batendo como um tambor de guerra. Decidiu, então, conquistá-la.

Escreveu-lhe cartas que nunca entregou, encheu os cadernos com poemas que falavam de montanhas inalcançáveis e desertos ardentes, e, numa tarde de loucura, roubou um lenço que ela deixara cair no pátio. Guardou-o sob o travesseiro, onde o cheiro de jasmim lentamente se dissipou, deixando apenas o vazio.

A senhorita Alba, no entanto, parecia viver em outro mundo. Falava do Equador, dos ventos alísios, da erosão dos solos, mas nunca olhou para Esteban como ele desejava. Até que, num dia especialmente quente, quando o ar tremia como uma miragem, ela o chamou após a aula.

— Esteban — disse ela, com uma voz que parecia vir de muito longe —, você tem um olhar que perturba.

Ele engoliu seco, sentindo o suor escorrer pelas costas.

— É porque a senhora é a coisa mais bela que já vi — confessou, sem saber de onde veio a coragem.

A senhorita Alba sorriu, mas não era um sorriso de professora. Era algo mais antigo, mais perigoso.

— Você não me conhece, Esteban. Se me visse como realmente sou, fugiria.

Ele jurou que não, que a amava mais do que todas as terras e mares que ela ensinava. Foi então que ela suspirou e, num movimento suave, puxou o colarinho do vestido para baixo, revelando uma mancha estranha na pele, como se seu corpo fosse feito de areia prestes a desmoronar.

— Há vinte anos, numa viagem ao Deserto do Atacama, bebi de uma fonte que não estava nos mapas — explicou. — Desde então, estou lentamente me transformando em poeira. Um dia, serei apenas um montinho de terra, e o vento me levará.

Esteban não acreditou, até que ela soprou sobre o próprio braço e uma fina camada de sua pele se dissolveu no ar, como se nunca tivesse existido.

— Por isso não posso ser amada — sussurrou.

Mas o rapaz, em vez de fugir, aproximou-se e beijou-lhe os lábios, sentindo-os se desfazerem como açúcar molhado. Quando se afastou, metade do rosto dela havia sumido, mas nos olhos que restavam brilhava uma alegria triste.

— Agora você também está condenado — disse ela.

E era verdade. Nos dias seguintes, Esteban começou a notar que seus dedos se esfarelavam ao vento, que seu reflexo no espelho estava cada vez mais pálido. Mas não se arrependeu. Afinal, como ela sempre ensinara, até os continentes um dia se separam.

Na manhã em que desapareceu por completo, os alunos encontraram apenas um pequeno monte de areia fina sobre a carteira, e a professora Alba, agora quase transparente, soprou-o pela janela, murmurando:

— Agora, sim, você é livre.

E assim, sob um céu azul de Geografia, os dois se tornaram poeira, viajando juntos para lugares que nem mesmo os mapas poderiam registrar.

***

Obviamente este conto medíocre não seria digno da assinatura do Gabo, mas é assustador. Como comprovar a autenticidade dos textos que, doravante, concorrerão aos prêmios literários? Como sobreviverão autores, editores e livreiros quando os leitores “escreverem” seus próprios livros?

Rio, 2025





Conteúdo Original

Posts Recentes

PUBLICIDADE

PUBLICIDADE