O deputado estadual Thiego Santos, o TH Joias, preso na quarta-feira (3) acusado de ser o braço político do Comando Vermelho (CV), movimentou R$ 13 milhões em três anos. Segundo a Polícia Federal, ele também recolheu R$ 9 milhões em espécie no Complexo do Alemão para trocar por dólares destinados ao tráfico.
De acordo com o inquérito, em abril de 2024, dois meses antes de assumir o mandato como suplente, TH Joias foi ao Alemão, na Zona Norte do Rio — considerado base da facção — para buscar R$ 5 milhões na casa de um traficante.
Ainda segundo a PF, o dinheiro pertencia a Luciano Martiniano da Silva, o Pezão, um dos chefes do CV que está foragido. Além disso, o relatório mostra que o parlamentar recebeu R$ 50 mil para trocar o montante, com a ajuda de um assessor, por US$ 1 milhão. O valor foi entregue pessoalmente aos criminosos.
Em maio de 2024, um mês antes da posse, a cena se repetiu. Dessa vez, a entrega foi de R$ 4 milhões, novamente destinados ao câmbio em dólares.
Participação de assessor
A PF afirma que Luiz Eduardo Cunha Gonçalves, o Dudu, também participava do esquema de lavagem. Após a posse de TH Joias, em junho do ano passado, Dudu foi nomeado assessor parlamentar. No entanto, acabou preso junto com o deputado na última quarta-feira (3).
Ao decretar a prisão preventiva da dupla e de outros acusados, a Justiça Federal destacou a “notória capacidade de articulação e a elevada influência política e institucional dos membros da organização criminosa — em especial daqueles com acesso a estruturas estatais”.
Movimentação financeira
O relatório aponta que TH Joias e a esposa movimentaram mais de R$ 13 milhões em suas contas entre 2021 e 2023.
Só a conta da mulher recebeu transferências entre R$ 440 mil e R$ 1,9 milhão. Além disso, houve três depósitos em espécie de R$ 50 mil cada, considerados incompatíveis com sua capacidade financeira.
Dupla atuação: discurso e bastidores
Publicamente, TH Joias defendia investimentos na segurança pública. Em uma postagem, chegou a aparecer ao lado do governador Cláudio Castro (PL) na entrega de viaturas e coletes balísticos. Nos bastidores, no entanto, a PF afirma que ele informava o tráfico sobre os passos da polícia.
Carracena como “figura estratégica”
A investigação também identificou o envolvimento de Alessandro Pitombeira Carracena, servidor que trabalhou na Casa Civil entre 2023 e 2024. O relatório descreve Carracena como “figura estratégica” no esquema, por ter acesso a informações privilegiadas. Ele repassava dados à facção e recebia propina em troca.
Em 31 de janeiro de 2024, por exemplo, Carracena teria avisado o grupo sobre uma operação policial no Alemão. Em diálogos interceptados, o traficante Índio do Lixão disse a TH Joias: “Carracena me ligou cedo, bateu tudo que ele falou”. Em outra troca, Índio enviou uma foto com R$ 148 mil para o deputado e mais R$ 90 mil destinados a Carracena.
O que dizem os citados
Nota de TH: “A defesa do deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva considera absurdas as acusações que vêm sendo reiteradas contra ele. Trata-se de uma repetição de fatos já explorados anteriormente, em claro movimento de perseguição política a um representante legítimo do povo do Rio de Janeiro. Até o presente momento, a defesa não teve acesso integral aos autos, o que evidencia a violação do direito constitucional ao contraditório e à ampla defesa. Reafirmamos nosso compromisso em esclarecer todos os pontos e demonstrar a total inocência do deputado.”
O Governo do Rio de Janeiro “esclarece que Alessandro Pitombeira Carracena não é mais servidor do Estado desde janeiro deste ano”.
Nota da Casa Civil: “Alessandro Pitombeira Carracena ocupou funções na Secretaria de Estado de Esportes e Lazer e na Secretaria de Defesa do Consumidor (Sedcon). Quando foi criada, a Sedcon funcionou por um breve período na estrutura da Casa Civil, mas ele sempre trabalhou para a Sedcon.”
2025-09-04 19:24:00