Em meio à escalada de tensão entre Brasil e Estados Unidos, a ausência da embaixadora brasileira em Washington, Maria Luiza Viotti, que está de férias, e a permanência do chanceler Mauro Vieira em Brasília levantam questionamentos sobre a disposição do governo Lula em buscar uma saída diplomática para o impasse.
O silêncio estratégico de Brasília ocorre justamente quando o presidente parece estar enxergando na crise uma oportunidade de capitalizar politicamente e recuperar popularidade em meio a um cenário doméstico desafiador. A disputa, deflagrada pela decisão de Donald Trump de aplicar uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros a partir de 1º de agosto, ganhou contornos ideológicos que ultrapassam o campo comercial.
Abandono diplomático?
A relutância de figuras-chave do governo, como Mauro Vieira e o vice-presidente Geraldo Alckmin, em viajar aos Estados Unidos, mesmo diante da urgência do diálogo, contrasta com as reuniões internas realizadas com o setor empresarial — que já manifestou preocupação com os rumos das relações bilaterais. A ausência de representantes brasileiros nos corredores de Washington alimenta a tese de que o governo optou por transformar a crise num palco político, em vez de buscar soluções pragmáticas.
Empresariado em alerta
O setor privado brasileiro já manifestou preocupação com os rumos da política externa. Grandes empresários apontam que a retórica nacionalista e os embates públicos com Trump podem agravar ainda mais o cenário comercial, colocando em risco cerca de US$ 40 bilhões em negócios e milhões de empregos. A falta de defesa clara dos interesses empresariais por parte do governo tem gerado frustração, especialmente diante da ameaça de uma guerra tarifária sem precedentes.
Declarações inflamadas
Lula tem endurecido o discurso. Em entrevista à CNN Internacional, afirmou que Trump “precisa respeitar a soberania brasileira” e classificou o tarifaço como “chantagem inaceitável”. A retórica, embora vista por alguns como uma defesa firme da soberania nacional, é interpretada por outros como combustível para o agravamento da crise. O presidente também anunciou que o Brasil poderá retaliar com base na Lei da Reciprocidade, o que pode incluir taxações equivalentes e até sanções sobre propriedade intelectual.
Impactos para a população
Caso a taxação de 50% se concretize, os efeitos podem ser devastadores. Setores como o agronegócio, siderurgia, tecnologia e aviação — com destaque para a Embraer — seriam diretamente atingidos. O aumento de custos pode gerar inflação, desemprego e retração econômica. Além disso, o Brasil corre o risco de perder competitividade internacional e ver sua imagem comercial deteriorada.
O teatro da crise
Enquanto o governo brasileiro cobra respeito e soberania, a ausência de gestos concretos de aproximação com Washington levanta dúvidas sobre as reais intenções de Lula. A crise, que poderia ser enfrentada com diplomacia ativa e pragmatismo, parece estar sendo usada como palco para uma narrativa política que, embora mobilize bases ideológicas, pode custar caro ao país.
Ao adotar a máxima do “quanto pior, melhor”, Lula corre o risco de priorizar seu capital político em detrimento dos interesses nacionais. O picadeiro está armado, é legítimo perguntar: será que o presidente quer mesmo ver o circo pegar fogo?
2025-07-18 09:50:00