O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem declarado que uma das prioridades de seu governo é baratear os alimentos e garantir acesso à comida de qualidade para os trabalhadores. Mas por trás da aparente estabilidade nos preços de alguns itens, uma nova estratégia das indústrias alimentícias está enganando o consumidor brasileiro: a chamada “alteraflação”.
Depois da “reduflação” — quando marcas diminuíam o tamanho dos produtos sem alterar o preço — agora o truque está na fórmula. Empresas estão reformulando receitas de itens como biscoitos, chocolates e laticínios, substituindo ingredientes nobres por alternativas mais baratas, como óleos vegetais e amidos. O objetivo? Reduzir custos e proteger margens de lucro, sem que o consumidor perceba de imediato.
Preços sobem, qualidade desce
Essa realidade escancara um paradoxo: embora o governo Lula tenha conseguido evitar uma disparada ainda maior nos preços dos alimentos — o que poderia ter minado ainda mais sua popularidade — o brasileiro está pagando mais por menos. A “alteraflação” funciona como uma maquiagem da inflação real, que não aparece nos índices, mas pesa no prato.
Segundo dados do IBGE, no primeiro semestre de 2025, os preços de iogurtes e bebidas lácteas subiram 4,2%, enquanto os biscoitos registraram alta de 5,35% — ambos acima da inflação geral de 3,15%. Ou seja, mesmo com a substituição de insumos, o consumidor continua pagando mais por produtos de qualidade inferior.
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Popularidade em queda e pressão por resultados
A alta persistente nos preços dos alimentos tem sido um dos principais fatores de desgaste da imagem do governo. Apesar de medidas como incentivos à agricultura familiar, controle de exportações e renegociação de estoques, o impacto no bolso do consumidor não é sentido. E a indústria, ao reformular seus produtos, contribui para uma sensação de estagnação: o preço não chega a explodir, mas a qualidade desaparece.
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Menos leite, mais gordura — e o preço continua igual
Um dos exemplos mais emblemáticos é o leite condensado, que em muitos rótulos já aparece como “mistura láctea condensada”. A mudança indica que parte do leite foi substituída por ingredientes vegetais e gordurosos. O valor na prateleira, no entanto, permanece praticamente inalterado.
Outros casos incluem iogurtes sem creme de leite e biscoitos sem cacau — produtos que mantêm aparência e embalagem, mas entregam menos valor nutricional ao consumidor.
Transparência e regulamentação em debate
Diante desse cenário, cresce a pressão por maior transparência na rotulagem e fiscalização das mudanças de fórmula. Especialistas defendem que o consumidor tenha acesso claro às alterações nos ingredientes e que o governo intensifique a regulação sobre práticas que, embora legais, comprometem a saúde e a confiança da população.
No fim das contas, o brasileiro está pagando o mesmo e até mais por alimentos que entregam menos. E embora o governo tenha evitado uma crise inflacionária mais grave, o custo silencioso da “alteraflação” pode ser ainda mais corrosivo — tanto para a saúde pública quanto para a credibilidade política.
2025-09-12 23:00:00