Com informações do G1. Canetas usadas originalmente no tratamento da diabetes ganharam destaque após demonstrarem eficácia na perda de peso, o que impulsionou seu uso com fins estéticos. Agora, versões falsificadas, fabricadas no Paraguai, estão sendo vendidas ilegalmente no Brasil e os médicos alertam: há pacientes que já foram parar na UTI por causa de substâncias contrabandeadas como essas.
No Brasil, existe uma lista de canetas aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). As substâncias mais comuns são a semaglutida, liraglutida e, mais recentemente, a tirzepatida.
Esses medicamentos agem como análogos do hormônio GLP-1, que é produzido naturalmente pelo corpo e secretado, principalmente, pelas células do intestino. Ele atua no cérebro, no hipotálamo, e reduz o apetite.
O país já havia aprovado regras mais rígidas, como a obrigatoriedade de retenção de receita na compra desses medicamentos. Agora, o desafio é outro: combater a falsificação.
Uma reportagem do Jornal Nacional revelou que canetas produzidas no Paraguai, sem qualquer fiscalização da Anvisa, estão sendo vendidas no Brasil. Os produtos são anunciados com vídeos e fotos nas redes sociais e em grupos de aplicativos de mensagens.
Essas “canetas emagrecedoras” prometem os mesmos efeitos dos medicamentos legalizados. As marcas são fabricadas no Paraguai, mas não têm permissão para venda no Brasil. (Entenda mais abaixo.)
Em entrevista ao Bem Estar, a endocrinologista Cynthia Valerio afirmou que já viu casos de pacientes internados na UTI em decorrência do uso de canetas falsificadas.
“A pessoa que não conhece a procedência da medicação não faz ideia do que está injetando no próprio corpo. Não há segurança. Há pacientes que estão internados no CTI por causa disso. As pessoas precisam entender que não estão comprando apenas um produto pirata — é sobre a saúde delas. O melhor cenário é perder dinheiro e o medicamento não fazer efeito. O contrabando dessas canetas faz parte de uma crise sanitária”, afirmou a médica.
Já a endocrinologista Cintia Cercato reforça que a falta de controle de qualidade aumenta o risco de efeitos colaterais graves.
“As medicações podem conter substâncias não regulamentadas ou estarem contaminadas. Isso coloca a saúde em risco, podendo afetar rins, fígado e até o coração”, explicou.
Risco é maior sem controle médico
No caso das canetas falsificadas, os vendedores aceitam qualquer tipo de receita — ou nem isso. Isso significa que não há qualquer controle sobre o uso nem garantia de acompanhamento médico, o que eleva os riscos.
Entre os efeitos colaterais possíveis estão náuseas, desidratação, perda de peso excessiva, perda de massa magra e massa óssea. Essas consequências podem levar a complicações graves e internações, como os casos relatados pelas médicas.
Além disso, nem todo mundo pode usar esse tipo de medicamento. As canetas são contraindicadas para:
- Pessoas que não têm obesidade ou diabetes;
- Quem tem alergia a algum componente do medicamento;
- Pacientes com histórico de pancreatite;
- Pessoas com histórico pessoal ou familiar de carcinoma medular da tireoide (CMT);
- Gestantes e lactantes.
Outro ponto levantado pelos especialistas é o risco do chamado efeito sanfona. Não saber a dose correta ou interromper o uso abruptamente pode levar ao reganho de peso, perpetuando o problema em vez de resolvê-lo.
Remédios falsificados são vendidos por redes sociais e aplicativos
As canetas pirateadas vêm do Paraguai e são vendidas pelas redes sociais e por grupos de mensagens. Em um dos casos investigados, uma mulher se apresenta como “a rainha do Lipoless” e divulga uma tabela de preços dos medicamentos.
Ela se passa por médica e realiza uma suposta consulta antes da venda. A repórter do Jornal Nacional conversou com a vendedora. Antes mesmo de perguntar nome, idade, peso ou histórico de saúde, ela já “prescreve” a caneta.
“Eu te indico o de 10 mg. Porque o de 15 mg realmente dá pra perder muito peso.”
A reportagem verificou junto ao Conselho Federal de Medicina (CFM) que não há registro de nenhuma endocrinologista com os nomes fornecidos pela mulher. A produção descobriu ainda que as fotos usadas por ela foram tiradas do perfil de uma estudante de medicina de São Paulo.
2025-07-08 12:00:00