Em Paris e Brasília, Emmanuel Macron e Luiz Inácio Lula da Silva enfrentam turbulências que revelam paralelos inquietantes. Ambos lidam com déficits orçamentários fora de controle, custo de vida elevado, oposição crescente e dificuldades para avançar suas agendas domésticas. Mas enquanto o presidente francês, diante de uma crise fiscal aguda e da ameaça de paralisação nacional, nomeou um conservador para tentar restaurar a ordem, Lula mantém o curso progressista, tentando sem sucesso negociar apoio com o Congresso.
A França vive uma tempestade perfeita. O déficit fiscal ultrapassou 5,8% do PIB — quase o dobro do limite permitido pela União Europeia — e a dívida pública já supera 114% do PIB. Com o custo de vida em alta, o movimento “Bloquons Tout” convocou paralisações em escolas, transportes e refinarias, ameaçando travar o país. Em meio ao caos, Macron surpreendeu ao nomear Sébastien Lecornu, um conservador, como primeiro-ministro, ignorando pressões por uma guinada à esquerda.
A decisão revela uma tentativa de conter a fragmentação política e frear o avanço da direita de Marine Le Pen, que cresce nas pesquisas. Com um Parlamento dividido, Macron busca apoio entre forças moderadas para aprovar medidas impopulares, como cortes de gastos e reformas previdenciárias consideradas essenciais para evitar o colapso. A instabilidade já afeta os mercados europeus, elevando os spreads da dívida francesa e gerando temores sobre o impacto na zona do euro.
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Brasil em alerta: Lula tenta equilibrar contas e alianças frágeis
No Brasil, o cenário não é menos desafiador. O governo projeta um déficit de R$ 26,3 bilhões para 2025, podendo chegar a R$ 74,1 bilhões com gastos fora do arcabouço fiscal. A meta de déficit zero parece cada vez mais distante, enquanto a inflação e o custo de vida pressionam o bolso dos brasileiros.
A governabilidade é um exercício diário. Sem maioria sólida no Congresso, Lula ainda enfrenta uma base aliada que exige cargos e recursos, obrigando o governo a fazer concessões que testam os limites da coalizão. Enquanto isso, a oposição ligada ao ex-presidente Jair Bolsonaro segue forte, ativa e vocal, pressionando o governo em pautas sensíveis.
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Entre memes e dilemas: Lula e Macron compartilham desafios
A relação entre Lula e Macron já rendeu memes e gestos diplomáticos calorosos, como o famoso “bromance” exibido em encontros internacionais. Mas por trás da cordialidade, ambos enfrentam dilemas profundos. Crise fiscal, fragmentação política e oposição crescente colocam seus governos sob pressão.
Enquanto Macron recorre à direita para tentar salvar seu mandato, Lula aposta na própria popularidade — em queda — para manter o apoio. Ambos caminham sobre terreno instável, e os próximos meses serão decisivos. A crise francesa ameaça a estabilidade da União Europeia, enquanto o impasse fiscal brasileiro pode comprometer investimentos e a credibilidade internacional do país.
2025-09-10 11:05:00