Em meio a aplausos e gritos de “mulheres unidas jamais serão vencidas”, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dividiu o palco, em junho, com Alessandra Moja Cunha — presa nesta segunda-feira (8) sob acusação de integrar o Primeiro Comando da Capital (PCC). O episódio, ocorrido durante cerimônia de anúncio de programa habitacional na Favela do Moinho, em São Paulo, reacendeu o debate sobre os bastidores da interlocução entre governo e lideranças comunitárias.
Evento oficial, presença polêmica
O encontro aconteceu em 26 de junho, com a presença de ministros e autoridades federais. Alessandra foi chamada ao palco por Flávia Maria da Silva, líder comunitária reconhecida pela comunidade, que apresentou outras mulheres como representantes locais. Lula cumprimentou as três, incluindo Alessandra, antes de iniciar seu discurso.
Segundo o Ministério Público de São Paulo, Alessandra é irmã de Leonardo Moja, o “Leo do Moinho”, apontado como chefe do tráfico na região central da capital. A investigação afirma que ela atuava como braço operacional do irmão, transmitindo informações da comunidade e recebendo ordens de dentro da prisão.
Vídeo viral e repercussão
Após a prisão de Alessandra, o vídeo do evento viralizou nas redes sociais, gerando críticas e questionamentos sobre a presença da acusada ao lado do presidente. A Secretaria de Comunicação da Presidência da República divulgou nota oficial afirmando que a interlocução com Lula se deu exclusivamente por meio de Flávia Maria da Silva, considerada idônea pela comunidade.
Nota oficial: ‘Quem comete crime deve responder à Justiça’
A Secom reforçou que o evento teve “caráter institucional e público” e que “associações locais são formadas e escolhidas pelos próprios moradores”. A nota conclui: “Quem tiver cometido crime deve responder à Justiça”.
Favela do Moinho: cenário de vulnerabilidade e disputa
O evento marcou o lançamento de um programa de moradia para cerca de 900 famílias da Favela do Moinho, uma das áreas mais vulneráveis de São Paulo. A comunidade tem sido alvo de operações policiais e investigações que apontam tentativas do PCC de controlar movimentos sociais e extorquir moradores durante o processo de reassentamento.
A presença de Alessandra no palanque presidencial, agora sob custódia, lança luz sobre os desafios de governança em territórios marcados pela sobreposição entre ativismo social e influência do crime organizado.
2025-09-09 11:01:00