Quatro dos oito envolvidos na execução de um turista de 16 anos em Jericoacoara (CE) são adolescentes e, amparados pelo ECA, estarão em breve nas ruas. A vítima foi morta por um gesto em uma selfie e condenada por um “tribunal do tráfico”
Quatro dos oito denunciados nesta semana pelo Ministério Público do Ceará pela brutal execução do adolescente Henrique Marques de Jesus, um turista paulista de 16 anos que visitava Jericoacoara, são menores de idade. Ironicamente, a mesma lei que os protege os menores infratores — o Estatuto da Criança e do Adolescente — é a que falha em proteger a vida de jovens inocentes, como Henrique. Em breve, esses adolescentes criminosos estarão de volta às ruas, livres para reincidir e matar outros jovens, enquanto a família da vítima lida com uma dor irreparável.
Henrique foi morto por fazer um gesto em uma selfie que, sem saber, representava uma facção criminosa rival à que domina a vila cearense. A imagem foi interpretada como provocação pelo Comando Vermelho, que controla o tráfico na região. O jovem foi sequestrado, interrogado e condenado por um “tribunal do crime” — prática comum entre facções — e executado com extrema violência.
Execução ordenada de dentro da prisão
A ordem para matar Henrique partiu de dentro do Complexo Penitenciário de Pedrinhas, no Maranhão. Os criminosos espancaram a vítima com paus e pedras, atiraram na cabeça e mutilaram seu corpo, que foi jogado na Lagoa do Paraíso. Fotos da vítima foram compartilhadas em grupos de WhatsApp usados para coordenar ações do tráfico.
Até quando? Menor preso pela quarta vez em pouco mais de um mês expõe impunidade e reincidência
Denúncia do MP expõe estrutura do crime organizado
O MP denunciou quatro adultos por homicídio qualificado, ocultação de cadáver e organização criminosa. Os quatro menores foram representados por “atos infracionais equivalentes”. Mas enquanto os adultos enfrentam o sistema penal, os adolescentes — mesmo envolvidos em um crime hediondo — devem cumprir medidas socioeducativas que raramente ultrapassam três anos. Em muitos casos, são liberados antes disso.
Essa brecha legal, criada para proteger jovens em situação de vulnerabilidade, tem sido explorada por facções que recrutam menores como soldados do tráfico. E ao garantir impunidade, contribui para que mais adolescentes sejam vítimas — como Henrique.
Jericoacoara e outros paraísos sob domínio do tráfico
O caso escancara o avanço do crime organizado sobre os principais destinos turísticos do Nordeste. Jericoacoara, Porto de Galinhas e Pipa já são considerados “filiais do tráfico”, com facções operando como empresas, impondo regras, julgamentos e punições. O promotor Eduardo Leal dos Santos alerta que essas vilas vivem sob domínio paralelo, onde o Estado é ausente e a população, refém.
MPF pede ao Supremo para proibir apreensão preventiva de menores no Rio
Turismo ameaçado, moradores em silêncio
Moradores relatam que convivem com os criminosos diariamente, mas têm medo de denunciar. A presença policial é insuficiente, e o turismo — principal fonte de renda da região — está ameaçado. O assassinato de Henrique não foi um caso isolado, mas um sintoma de um sistema que falha em proteger os inocentes e pune com brandura os culpados.
2025-08-09 07:00:00