O cenário caótico da guerra na Ucrânia se transformou em um laboratório mortal para o crime organizado latino-americano. Facções como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC) vêm aproveitando os campos de batalha do Leste Europeu não apenas como rota de acesso a armamentos modernos, mas como uma sala de aula real para treinamento em guerra de alta intensidade.
Investigações apontam que criminosos brasileiros têm se alistado como mercenários entre as forças ucranianas, com objetivos claros: trazer para o Brasil lançadores de granadas, drones militares, metralhadoras pesadas, artilharia antiaérea e o know-how de uma guerra travada com tecnologia e estratégia de ponta.
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Segundo o juiz Alexandre Abrahão, magistrado do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ-RJ) desde 1998 e titular da 3ª Vara Criminal da Comarca da Capital, especializada no julgamento de organizações criminosas, a infiltração já foi identificada por forças de segurança. “Temos combatentes do crime organizado brasileiro atuando diretamente na Ucrânia. Eles estão aprendendo – e voltarão”, alertou durante palestra na V Conferência Internacional Contra o Crime Organizado, realizada no mês passado na Escola Superior de Advocacia.
Um retorno que ameaça
O temor das autoridades não é apenas o armamento. Especialistas destacam que o retorno desses combatentes representa uma verdadeira bomba-relógio. Com o fim iminente do conflito, cresce o risco da entrada em massa de armamentos militares no mercado negro latino-americano, alimentando facções com poder de fogo e táticas nunca antes vistas no continente.
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Pesquisador da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e membro do Grupo de Pesquisa em Conflitos, Estratégia e Inteligência (Minerva) da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), com atuação na área de segurança pública, Paulo Henrique Ribeiro também ressalta que há brasileiros com ligações diretas com facções atuando no front.
“Vamos ver um novo nível de sofisticação bélica nas mãos do crime”, alertou, em recente entrevista à Sputnik Brasil. “Não é apenas uma guerra lá fora – é uma ameaça aqui dentro”, completou Ribeiro.
Tráfico transcontinental e a nova rota das armas
A situação se agrava com o envolvimento de narcotraficantes colombianos integrantes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) desmobilizados após o processo de paz no país vizinho. Muitos, com vasto histórico em violência armada, migraram para a Ucrânia e vêm servindo de elo com organizações criminosas brasileiras. Hoje estima-se em mais de 2 mil colombianos no front e mais de 200 brasileiros, entre eles, muitos narcotraficantes infiltrados.
Embora não tenham acesso a postos de comando, esses combatentes acumulam conhecimento em tecnologias militares sofisticadas. O uso tático de drones de ataque é uma das doutrinas mais temidas. Especialistas apontam que, ainda que discretamente, redes de tráfico de armas e conhecimento estão sendo tecidas entre criminosos do Leste Europeu e organizações brasileiras.
A contagem regressiva para o retorno desses soldados silenciosos já começou.
2025-06-22 07:00:00