Estão depenando a Zona Sul: impunidade alimenta onda de furtos

A Zona Sul do Rio de Janeiro, tradicional reduto da classe média carioca, está sendo depenada por criminosos que agem com uma audácia crescente e uma certeza inquietante: a de que não serão punidos. A região vive uma escalada de


A Zona Sul do Rio de Janeiro, tradicional reduto da classe média carioca, está sendo depenada por criminosos que agem com uma audácia crescente e uma certeza inquietante: a de que não serão punidos. A região vive uma escalada de crimes patrimoniais que tem deixado moradores em estado de alerta e indignação.

No bairro do Flamengo, uma série de furtos nos últimos dias expôs a falência de uma legislação que parece proteger mais o infrator do que a vítima e a sensação de abandono por parte das autoridades. Os criminosos, muitos com extensas fichas criminais, seguem livres, enquanto a população se vê refém da violência cotidiana.

Em uma ação durante o dia no Flamengo, ladrão leva uma barra de alumínio do portão de um condomínio (Reproduçãi)

Furtos em série e criminosos reincidentes

Entre os casos mais recentes estão o furto de pedaços de alumínio de portões, tampas de bueiro e até tentativas de arrancar telas de proteção de sistemas de ventilação em condomínios. Os crimes ocorrem em plena luz do dia, com rapidez e impunidade. Moradores relatam que os autores dessas ações são frequentemente abordados pela polícia, mas não permanecem presos.

Um dos indivíduos abordados em operação recente na Rua Marquês de Abrantes já havia condenado a 22 anos de prisão por tráfico de drogas. Outros tinham passagens por furto e roubo, mas foram liberados por “nada deverem à Justiça”.

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Cracudos, vício e abandono institucional

Grande parte dos furtos na região é atribuída a usuários de drogas em situação de rua — os chamados “cracudos” — que cometem pequenos delitos para sustentar o vício. Eles arrancam tampas de bueiro, grades de proteção e peças metálicas de portões, vendendo o material para ferros-velhos clandestinos que operam impunemente.

A engrenagem do crime se retroalimenta, enquanto a Prefeitura do Rio falha em implementar políticas eficazes de acolhimento e tratamento para essa população vulnerável. Sem assistência social consistente, o vício se perpetua, os furtos se multiplicam e os moradores seguem desamparados.

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Dados alarmantes e violência crescente

O Instituto de Segurança Pública registrou um aumento de 52% nos roubos na região da delegacia do Catete, que atende o Flamengo. Foram 988 casos entre janeiro e abril de 2025, contra 648 no mesmo período de 2024. Em um dos episódios, uma mulher foi derrubada no chão ao resistir a um assalto na Rua Paissandu.

Legislação ultrapassada e política de desencarceramento

A impunidade é alimentada por uma legislação penal antiquada e pela política de desencarceramento promovida pelo governo federal. O “Plano Pena Justa”, lançado em fevereiro de 2025, propõe medidas para reduzir a superlotação dos presídios e garantir direitos fundamentais aos detentos.

Embora tenha como objetivo humanizar o sistema prisional, na prática, tem resultado na soltura de criminosos reincidentes, sem que haja mecanismos eficazes para evitar a reincidência.

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População refém, legislação complacente

Casos de criminosos libertados pela Justiça, mesmo com dezenas de passagens pela polícia, se acumulam. A justificativa recorrente é a ausência de flagrante ou o “baixo potencial ofensivo” dos delitos, embora muitos criminosos tenham sido flagrados com armas de fogo, facas e já tenham respondido por lesão corporal.

Enquanto isso, moradores do Flamengo mudam seus hábitos, evitam sair à noite e vivem sob constante ameaça. “A gente não sabe mais o que fazer. Parece que o crime compensa”, desabafa Marilene Amorim, aposentada que deixou de frequentar a igreja por medo.

A Zona Sul está sendo depenada — não apenas por mãos criminosas, mas por um sistema que falha em proteger quem mais precisa. A pergunta que ecoa entre os moradores é urgente e incômoda: até quando?



Conteúdo Original

2025-08-11 12:38:00

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