Com informações do Coisas da Política. Com apenas 21 anos e um histórico de 86 passagens pela polícia, Patrick Rocha Maciel voltou às ruas. Mesmo após invadir e depredar uma igreja presbiteriana em Copacabana e ser apontado como autor de outros furtos recentes na Zona Sul do Rio, ele foi beneficiado por uma decisão judicial que ignorou seu histórico criminal e o liberou no fim de julho.
Maciel foi preso em 29 de junho, após uma sequência de delitos: dois furtos em apartamentos de Copacabana, invasão e depredação de uma igreja evangélica e furto de produtos em uma farmácia em Ipanema. A juíza responsável pela audiência de custódia manteve a prisão com base na “habitualidade criminosa” e no “risco de reiteração delitiva”. Mas dias depois, o juiz Rubens Roberto Casara revogou a preventiva, alegando que “não se pode presumir que os acusados retornarão a delinquir”.
Na decisão, o magistrado também afirmou que considerar a folha de antecedentes para justificar prisão preventiva seria adotar o “odioso modelo do direito penal do autor”, e que “no Estado Democrático de Direito, não há espaço para exercício de futurologia”.
A soltura gerou forte reação entre juristas, moradores e agentes de segurança pública. Para o advogado criminalista Marcello Ramalho, o caso de Patrick configura uma clara “reiteração delitiva” e demonstra “periculosidade social” suficiente para justificar sua prisão preventiva.
Histórico de reincidência e abandono estatal
Desde os 10 anos, Patrick frequenta delegacias. Começou com furtos e delitos leves, passou por 12 internações no Degase e teve envolvimento em motins e lesões corporais. Aos 13 anos, já era usuário de drogas. Sem concluir o ensino fundamental, cresceu entre unidades socioeducativas, prisões e ruas. A mãe, segundo a polícia, tem sete passagens e histórico de maus-tratos. O nome do pai não consta nos registros.
Patrick foi preso sete vezes após completar 18 anos. Em 2022, chegou a invadir um imóvel em Ipanema armado com um espeto de churrasco, ameaçando um turista. A cada prisão, segue o mesmo ciclo: entra, sai, e volta a cometer crimes dias depois. Nenhuma medida de ressocialização foi eficaz até hoje.
Justiça de olhos vendados para o risco social
A decisão que devolveu Patrick às ruas é um retrato da crise no sistema penal. A tese do juiz de que não se pode “prever o futuro” ignora uma década de reincidência. Enquanto isso, comerciantes de Copacabana e Ipanema convivem com o medo constante — muitos já reconhecem o rosto de Patrick em câmeras de segurança.
Mais do que uma exceção, a libertação do jovem com 86 passagens se tornou símbolo de uma Justiça que, em nome da “presunção de inocência”, fecha os olhos para a realidade das ruas. A indignação da população cresce, e a sensação de impunidade se amplia.
No Brasil de hoje, furtar uma igreja, uma farmácia ou uma casa não leva à cadeia — mesmo quando é a 86ª vez.
2025-08-06 12:42:00