Carta de um cristão ao Presidente Lula – Sobre Israel e Gaza

Quando Vossa Excelência age como Presidente, seus erros e acertos espirituais atingem todos os brasileiros. Vossa Excelência pode trazer bênção ou maldição para todo o país Dirijo-me a Vossa Excelência, respeitosamente, na qualidade de cristão, em análise bíblica e não


Quando Vossa Excelência age como Presidente, seus erros e acertos espirituais atingem todos os brasileiros. Vossa Excelência pode trazer bênção ou maldição para todo o país

Dirijo-me a Vossa Excelência, respeitosamente, na qualidade de cristão, em análise bíblica e não jurídica. Oro diariamente por Vossa Excelência e estou à disposição para ajudar no que for possível.

Acredito que Vossa Excelência quer promover a paz e quer ouvir o povo cristão do Brasil.

Reconhecemos que há dor e sofrimento dos dois lados deste conflito envolvendo judeus e palestinos, e que toda vida é preciosa aos olhos de Deus — palestinos e judeus, sem distinção de valor. A presente carta foca no aspecto espiritual e bíblico da relação com Israel, mas isso não anula nossa empatia com o sofrimento do povo palestino.

Lamentamos profundamente a morte de cada civil palestino inocente, assim como a de cada israelense, e desejamos que haja liberdade, dignidade e segurança para os dois povos. Mas isso só será possível com o fim do terrorismo e o respeito mútuo entre as nações.

É legítimo que Vossa Excelência não creia em tudo que está na Bíblia — respeito isso plenamente. Todavia, peço que considere que 80% dos brasileiros acreditam que a Bíblia é a Palavra de Deus, regra de fé e conduta, e, a partir dela, tomam suas decisões na vida, desde as mais importantes até as mais triviais.

A Bíblia só é obrigatória para quem tem fé, mas tenho o dever de alertar que, mesmo que o Estado seja laico, os cristãos acreditam que o poder, a mão e o juízo de Deus agem sobre todos, pois Deus é soberano. Assim, se a Bíblia estiver certa, como cremos que está, quem for contra as Escrituras, mesmo que não creia, receberá as consequências de seus atos.

Ao mesmo tempo, os princípios de justiça, imparcialidade, respeito aos povos e à dignidade humana que ela ensina também estão refletidos na Constituição brasileira e são universais, podendo ser defendidos por crentes e não crentes.

Quando Vossa Excelência age como Presidente, seus erros e acertos espirituais atingem todos os brasileiros. Logo, Vossa Excelência pode trazer bênção ou maldição para todo o país. Igualmente, uma nova atitude de V. Exa. pode ser a chave para ajudar a todos, tanto judeus quanto palestinos, ambos igualmente importantes.

Ao longo das Escrituras, Deus deixa claro que a relação das nações com o povo de Israel não é indiferente aos céus. Desde a aliança firmada com Abraão, em Gênesis 12:3 — *“Abençoarei os que o abençoarem e amaldiçoarei os que o amaldiçoarem” * —, há uma linha espiritual objetiva entre como alguém trata Israel e como será tratado por Deus. Isso se aplica não apenas a indivíduos, mas especialmente a reis, presidentes e nações inteiras.

Não estou falando de política externa ou gostos pessoais, mas alertando sobre princípios bíblicos eternos e imutáveis. Quando um governante age contra Israel de forma injusta e hostil, isso traz consequências espirituais para a nação que ele lidera. Em Números 24:9, o profeta Balaão é forçado por Deus a declarar: “Quem os abençoar será abençoado, e quem os amaldiçoar será amaldiçoado”. Em Zacarias 2:8 é ainda mais incisivo: “quem toca em vocês toca na menina dos olhos de Deus”.

Ainda que alguns de seus assessores talvez não creiam na Bíblia ou antipatizem com Israel, Deus é fiel e cumprirá suas promessas. Os cristãos brasileiros acreditam firmemente nisso. Se Vossa Excelência continuar a se colocar como inimigo de Israel — sequer recebendo o embaixador de Israel e sendo parcial —, isso terá consequências. Não pleiteamos um alinhamento incondicional ao Estado de Israel, que, como qualquer outro, pode cometer erros. Queremos, sim, justiça e igualdade de tratamento entre os Estados e entre os brasileiros palestinos e judeus (o que não é opcional: está na Constituição Federal, além de ter consequências e peso espiritual).

Pedimos, com todo respeito, que ouça, reflita e considere. A atitude atual de V. Exa. viola, como citamos, os arts. 4º e 19, III, da Constituição Federal, e a Bíblia, que diz: “O rei que julga com justiça dá estabilidade à nação” (Provérbios 29:4).

Pedimos que Vossa Excelência tenha sensibilidade e respeito aos cristãos em geral, entre eles os evangélicos. Nós, honrando a Palavra de Deus, temos um carinho profundo por Israel — não por idolatria política, mas porque reconhecemos na Bíblia a eleição de Israel como povo de Deus (Romanos 9:2-7; Gálatas 6:16), a terra de Israel como promessa eterna, e a proteção a Israel como mandamento divino (Romanos 11:1-2, 5-6, 17-20, 25-29). E não podemos esquecer: Jesus era judeu (Mateus 1:1), e em sua cruz estava escrito: “Jesus Nazareno, Rei dos Judeus” (João 19:19,20).

Todos os cristãos que levam a Bíblia a sério sabem que o conceito de maldição, nas Escrituras, não é meramente simbólico. Há consequências espirituais que recaem sobre nações que se opõem ao povo de Deus. Basta olhar a história: reinos e impérios que se levantaram contra o povo judeu pereceram. Egito, Babilônia, Roma, Espanha inquisitorial, Alemanha nazista — todos colapsaram quando se voltaram contra Israel. Veja que Israel tem sobrevivido a todas as guerras contra todo o mundo árabe, e cremos que isso é por ter a proteção de Deus. Não seria prudente, Excelência, refletir se tal postura, ainda que motivada por boas intenções, não o coloca em rota de colisão com os princípios espirituais estabelecidos por Deus?

Constata-se que, como Chefe de Estado, Vossa Excelência tem mantido uma postura parcial contra Israel e tolerante em relação ao Hamas.

Vossa Excelência fala repetidamente em “genocídio”, mas raramente menciona os 58 reféns ainda mantidos em cativeiro pelo Hamas, mesmo após quase dois anos desde os ataques de 7 de outubro de 2023. Esse é um crime “em andamento”. Qual a razão de Vossa Excelência falar muito mais das vítimas palestinas e omitir as vítimas israelenses?

Será que atos como decapitações, mutilações e sequestros de bebês não caracterizam terrorismo, Senhor Presidente? Os próprios terroristas do Hamas filmaram esses crimes. O que falta para Vossa Excelência reconhecer isso?

Vossa Excelência menciona números de vítimas palestinas — às vezes com erros a maior —, mas nunca menciona os números de vítimas israelenses (1.200 pessoas, entre elas mulheres e crianças). As mulheres israelenses valem menos que as palestinas?

Esperamos ver Vossa Excelência se importar com mulheres e crianças de Israel, da Ucrânia, do Sudão do Sul. Vossa Excelência e seus ministros pressionam Israel, mas não fazem a mesma pressão pela libertação dos reféns, ou contra os abusos da Rússia, da China, do Irã e de outros.

Vossa Excelência, quando fala dos civis palestinos, nunca criticou o Hamas por colocar centros de comando em túneis sob hospitais, por usar mulheres e crianças como escudos humanos, nem por exercer uma ditadura em Gaza. Igualmente, não critica os ataques dos Houthis contra civis israelenses — algo financiado pelo Irã. Quando atentados matam judeus da diáspora, Vossa Excelência não se manifesta. Quando a Rússia bombardeia civis e até hospitais na Ucrânia, o Senhor apenas fala que ela deve aceitar entregar território — mas não critica os ataques em si. Para o Senhor, judeus e ucranianos valem menos que os palestinos?

Estamos, como cristãos, preocupados com o sofrimento do povo palestino, com o povo ucraniano, com os cristãos no Sudão do Sul e com todos os que sofrem. Queremos que esses conflitos terminem e haja uma solução justa e estável.

Entre essas orações, devemos pedir especialmente que o povo palestino seja libertado da tirania opressora e maligna do grupo terrorista Hamas, que hoje governa a Faixa de Gaza com mãos de ferro, promovendo violência, repressão e sofrimento sobre o próprio povo que diz representar.

O povo cristão, Sr. Presidente, ama a Palavra de Deus e ama Israel. E amamos a paz — e também os palestinos. Nesse ponto, nossa aspiração é a de que Vossa Excelência seja um pacificador. Mas a atual atitude parcial retira condições para isso. Ao ignorar a Constituição Federal e atacar Israel, sua postura enfraquece uma missão que talvez Deus tenha reservado para Vossa Excelência. O Senhor mencionou que Deus lhe deu a missão de levar água ao Nordeste — quem sabe talvez também possa, a partir de posturas equilibradas e ao ouvir os dois lados, ajudar na paz no Oriente Médio?

Vossa Excelência pode ter a missão de ajudar na busca pela paz, mas jamais conseguirá isso se continuar ouvindo apenas assessores que criticam Israel, sem ouvir também os brasileiros judeus, cristãos e democratas que esperam uma postura mais justa do Presidente da República.

Seguem algumas sugestões:

• Parar de ser parcial e hostil contra Israel, uma nação que Deus chama de sua;

• Determinar ao Itamaraty que conceda imediatamente o agrément para o novo embaixador de Israel no Brasil;

• Reconhecer com clareza o Hamas como organização terrorista, lembrando que eles ainda mantêm dezenas de pessoas sequestradas e promoveram decapitações, estupros etc.; dizer claramente que sequestro e estupro não são “resistência”, mas terrorismo;

• Exigir com veemência, usando sua enorme influência com o Irã, que o Hamas liberte os reféns israelenses e que os Houthis parem de atacar civis, mulheres e crianças em Israel;

• Que, a cada vez que falar em “genocídio” em Gaza, cite também o genocídio de cristãos no Sudão do Sul e mencione os reféns judeus em Gaza;

• Convocar lideranças cristãs, judaicas e muçulmanas brasileiras para formar um grupo de aconselhamento diplomático sobre o conflito;

• Reforçar o compromisso com os direitos humanos em todos os cenários, sem distinções seletivas;

• Reconhecer que errou ao comparar a situação atual ao Holocausto. Não pedimos que deixe de usar o termo “genocídio”, caso assim entenda, mas que retire a indevida comparação com o Holocausto e a afirmação de que não houve nada igual desde 1945. Será um gesto de grandeza que facilitará a retomada do diálogo.

Encaminho a Vossa Excelência uma proposta na qual há a criação de um Estado Palestino (Cartas para a Paz – A Solução do 1%). Peço que seja considerada.

Termino com três versículos bíblicos:

“Não pervertam a justiça, nem mostrem parcialidade.” – Deuteronômio 16:19

“Se, contudo, favorecem algumas pessoas em detrimento de outras, cometem pecado. São culpados de violar a lei.” – Tiago 2:9

“Aqueles que promovem a paz semeiam sementes de justiça e colhem o fruto da justiça.” – Tiago 3:18

Ainda creio que Vossa Excelência pode ser útil para a paz, mas, para isso, precisa ouvir e tratar com igualdade e justiça os dois lados.

Que Deus abençoe Vossa Excelência e seu governo.

William Douglas é Professor de Direito Constitucional, Mestre em Estado e Cidadania (UGF), pós-graduado em Políticas Públicas e Governo (EPPG/COPPE/UFRJ)

William Douglas é Professor de Direito Constitucional, Mestre em Estado e Cidadania (UGF), pós-graduado em Políticas Públicas e Governo (EPPG/COPPE/UFRJ) - Foto: Divulgação

William Douglas é Professor de Direito Constitucional, Mestre em Estado e Cidadania (UGF), pós-graduado em Políticas Públicas e Governo (EPPG/COPPE/UFRJ) – Foto: Divulgação



Conteúdo Original

2025-06-14 11:50:00

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