O que deveria ser um reencontro emocionante entre a tatuadora Jaqueline Ramos e sua cadela Esperança, recém-chegada de Lisboa ao Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, transformou-se em um pesadelo angustiante na última segunda-feira (7). Ao receber a caixa de transporte, Jaqueline se deparou com o pior cenário possível: a caixa estava vazia, danificada e com o lacre rompido.
Esperança havia embarcado sob os cuidados de uma conhecida, com toda a documentação e protocolos exigidos devidamente cumpridos. No entanto, segundo Jaqueline, funcionários da TAP Air Portugal ignoraram instruções sobre a segurança da caixa, falharam ao travar a porta corretamente e, mesmo diante da preocupação da tutora, pediram que ela se retirasse do local.
Após o pouso, a acompanhante relatou que ninguém no aeroporto ou na companhia aérea tomou providências imediatas. Funcionários viraram as costas, não acionaram rádios e sequer demonstraram preocupação com o desaparecimento do animal.
A mãe de Jaqueline, que aguardava do lado de fora, iniciou uma busca desesperada por conta própria. Em um momento de fé e desespero, orou pedindo ajuda a São Francisco de Assis — e, como num milagre, viu Esperança sendo enxotada por funcionários na área externa do terminal.
A cadela reconheceu a voz da tutora e correu em sua direção. Sem coleira, foi improvisada uma alça de bolsa para conduzi-la de volta ao terminal. Nenhum funcionário ofereceu suporte ou equipamento adequado, e a GRU Airport alegou que a responsabilidade pelo transporte de animais é exclusiva das companhias aéreas.
Não é um caso isolado
O drama de Esperança reacende a memória de outros episódios trágicos. Em 2021, a cadela Pandora desapareceu durante uma conexão no mesmo aeroporto e só foi encontrada 45 dias depois, após uma força-tarefa envolvendo voluntários e o tutor.
Mais recentemente, o caso de Joca, um golden retriever que morreu após ser embarcado erroneamente para outro destino pela Gol Linhas Aéreas, gerou comoção nacional e levou à suspensão temporária do transporte de animais no porão das aeronaves.
Animais não são bagagens
Especialistas e ativistas vêm alertando para a falta de regulamentação específica no Brasil sobre o transporte aéreo de animais. A ausência de protocolos claros e a negligência das companhias têm resultado em perdas irreparáveis e sofrimento para tutores e seus companheiros de quatro patas.
Jaqueline resume o sentimento de milhares de tutores:
“Foi devastador saber que ela estava sozinha, perdida, e eu sem poder ajudá-la. Uma dor imensa por não estar ao lado da minha filhote indefesa”.
A história de Esperança é um grito por mudanças urgentes. Porque no embarque de um animal, não se transporta apenas um corpo — transporta-se um vínculo, uma vida.
2025-07-10 12:12:00