Barulho vira tormento no Rio e queixas por perturbação disparam – Agência de Notícias

Em apenas seis meses, mais de 15 mil reclamações por barulho foram registradas no 1746, um aumento de 21% em relação a 2023. Imagem gerada por Inteligência Artificial Com informações do Diário do Rio. A cidade do Rio de Janeiro



Em apenas seis meses, mais de 15 mil reclamações por barulho foram registradas no 1746, um aumento de 21% em relação a 2023. Imagem gerada por Inteligência Artificial

Com informações do Diário do Rio. A cidade do Rio de Janeiro enfrenta uma crise silenciosa — ou melhor, barulhenta. As reclamações por perturbação do sossego explodiram em 2025, e os números oficiais comprovam o drama vivido por milhares de cariocas. Só no primeiro semestre deste ano, o canal 1746, da Prefeitura do Rio, recebeu 15.105 queixas, um crescimento de 21% em relação ao mesmo período de 2023. As informações são da Veja Rio;

Bairros tradicionalmente residenciais, como BotafogoLagoaFlamengo e Humaitá, viraram polos de festas, bares e desordem urbana. O caso mais simbólico talvez seja o de Botafogo, onde a explosão de bares transformou a rotina de quem mora nas ruas internas. O advogado André Soares, morador da Rua Oliveira Fausto, contabiliza mais de trinta reclamações, todas ignoradas pelo poder público. “As calçadas foram tomadas, há gritaria e uso de drogas até três da manhã. Só temos paz às segundas”, critica.

Na Lagoa Rodrigo de Freitas, o cenário é parecido. No apartamento do aposentado Cláudio Guimarães, em Ipanema, o barulho invade até o 1º andar. “Às 1h30 da madrugada, a marcação chegou a 71 decibéis dentro da minha sala. O permitido seria 50. Virou rotina, eu pensei em me mudar”, desabafa.

O problema também aparece em outras áreas da cidade, como a Praça São Salvador, no Flamengo, onde shows ao ar livre tiram o sono da vizinhança. “Transformaram a praça em palco de espetáculos. Não respeitam horário, o som invade nossa casa, e ninguém fiscaliza”, denuncia Isabel Franklin, presidente da Amafla.

Na Zona Sul, a perturbação vai além da música alta. O caso do estudante Pedro Rodrigues, brutalmente agredido na Lagoa, evidenciou outro lado do caos urbano. A violência se mistura à desordem causada pelas festas em quiosques, que viraram pistas de dança fechadas, com cobrança de ingresso e som até o amanhecer.

Secretaria Municipal de Ordem Pública (Seop) contabiliza 5.521 operações de fiscalização entre 2024 e 2025, resultando em 892 multas. A primeira infração gera multa de R$ 5.459,93, que dobra em caso de reincidência. Mas, na prática, bares e quiosques acumulam dezenas de multas e seguem funcionando. O próprio secretário da Seop, Brenno Carnevale, admite o desafio: “Faz parte da cultura carioca ocupar a calçada, mas existem abusos. O papel da Seop é mediar o convívio”.

Na Rua Arnaldo Quintela, em Botafogo, não existe faixa livre para pedestres: as calçadas são tomadas por mesas e cadeiras. No Leblon, o Belmonte avança sobre o asfalto. “Virou terra sem lei, a calçada é um grande bar”, comenta um morador, revoltado com a ineficiência da fiscalização.

Nem as obras escapam das críticas. Em Humaitá, a Casa de Saúde São José virou motivo de revolta pela obra barulhenta que varava a madrugada. “Barulho de obra o tempo inteiro. A prefeitura não responde às denúncias, não resolve nada”, reclama a moradora Nina Lua, que decidiu se mudar.

A falta de controle também afeta CopacabanaLeme e bairros da Zona Oeste. Para tentar chamar atenção, perfis como “Rio de Janeiro Sem Barulho” surgiram nas redes sociais, expondo as situações mais críticas. A página “Amigos de Copa” criou até o “Buteco do Barulho”, premiando os estabelecimentos mais incômodos — em 2025, o troféu foi para o Baeck’s, na Rua Aires Saldanha.

O que dizem os donos de bares

De outro lado, os donos de bares alegam perseguição. “O Rio é conhecido pela sua energia vibrante. Não se pode transformar a cidade em um cemitério sonoro”, diz Fernando Blower, presidente do Sindicato de Bares e Restaurantes (SindRio). Ele defende equilíbrio, mas critica o que chama de tentativas de criminalizar a boemia.

Organização Mundial da Saúde (OMS), no entanto, já reconhece a poluição sonora como problema de saúde pública. Em cidades como Nova York, soluções tecnológicas foram adotadas, como o sistema SONYC, que monitora o barulho em tempo real. No Rio, o barulho continua a céu aberto e sem controle.

Especialistas em acústica apontam falhas na legislação e ausência de fiscalização. O engenheiro de áudio Luciano Costa resume: “O problema não é a cidade ser animada, é a ausência de regras básicas de convivência. Falta investimento em isolamento acústico, sobra omissão do poder público”.

Enquanto a prefeitura promete reforçar a fiscalização, moradores continuam acumulando noites mal dormidas. E para muitos cariocas, a única certeza é que o Rio virou, literalmente, a cidade do barulho.



Conteúdo Original

2025-07-19 09:51:00

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