O traficante Jonathas Jesus dos Santos, conhecido como Pavão, foi preso em Vitória, Espírito Santo, na manhã da última quarta-feira (9). Apontado como gerente do tráfico nos bairros da Penha e São Benedito, Pavão não demonstrou arrependimento. Pelo contrário: riu, debochou da Polícia Militar e afirmou que “não deve permanecer muito tempo preso”. A cena, que revoltou os agentes, escancarou um problema crônico no país — a impunidade alimentada por uma legislação penal ultrapassada e por políticas de desencarceramento que, segundo especialistas, colocam o criminoso à frente da vítima.
Pavão já havia sido preso por tráfico e homicídio em 2011, mas estava em liberdade desde 2015 por decisão judicial. Mesmo com dois mandados de prisão em aberto, ele circulava livremente até ser capturado em uma operação conjunta da PM e do Ministério Público. A prisão, considerada estratégica, não impediu o traficante de zombar do sistema. “Mesmo com essa questão do prende e solta, a Polícia Militar não irá esmorecer”, declarou o comandante-geral da PM, coronel Douglas Caus.
Adolescentes em ação criminosa: a impunidade começa cedo
Na madrugada desta quinta-feira (10), outro episódio chocou a Grande Vitória. Um grupo de adolescentes usou um carro roubado para arrombar uma loja de eletrônicos em Serra Sede. O veículo foi jogado contra a porta de aço do estabelecimento, permitindo o saque de perfumes, celulares e um notebook. Dois jovens, de 14 e 16 anos, foram apreendidos e confessaram o crime, revelando que todos os oito envolvidos eram menores de idade. O prejuízo estimado pelo proprietário ultrapassa R$ 12 mil.
A audácia dos adolescentes e a reincidência de crimes cometidos por menores expõem a fragilidade do sistema socioeducativo e a falta de responsabilização efetiva. “É revoltante. Você trabalha muito para ter isso aqui e vem uns marginais, entram na loja, destroem tudo, e pegam tudo que você tinha conquistado”, desabafou o comerciante Heryson Scopel.
Motorista esfaqueado em pleno serviço
Com a impunidade estimulando a reincidência, a escalada da violência no Espírito Santo não para. Em maio, um motorista do sistema Transcol foi esfaqueado com o ônibus em movimento durante um assalto na Rodovia do Contorno, na Serra. O agressor, Fagner Claudino dos Santos, de 21 anos, liderava a chamada “Tropa do Guigui”, uma quadrilha especializada em roubos a coletivos. Mesmo ferido, o motorista conseguiu conduzir o veículo até um posto de combustíveis, evitando uma tragédia maior. Fagner foi preso no mês passado, mas já havia confessado outros sete crimes semelhantes.
Desencarceramento: solução ou estímulo ao crime?
Enquanto a violência se alastra, o governo federal aposta em políticas de desencarceramento. O plano “Pena Justa”, lançado pelo Ministério da Justiça, propõe reduzir o número de prisões “desnecessárias” e ampliar o uso de penas alternativas. A proposta, que inclui cotas raciais para presos em programas de trabalho e educação, tem gerado críticas por priorizar o bem-estar do criminoso em detrimento da segurança da população.
Especialistas alertam que medidas como mutirões de indulto, revisão de penas e audiências de custódia têm contribuído para a sensação de impunidade e para o aumento da reincidência criminal.
O ciclo da impunidade
O caso Pavão é emblemático. Um criminoso reincidente, com histórico de tráfico e homicídio, que debocha da polícia e confia na fragilidade do sistema para voltar às ruas. A escalada da violência no Espírito Santo — dos adolescentes infratores ao motorista esfaqueado — revela um ciclo perverso: leis brandas, políticas lenientes e uma sociedade refém do medo.
Enquanto o criminoso ri, a vítima sangra. E o Estado, entre a burocracia e o discurso, parece cada vez mais distante da justiça que promete entregar.
2025-07-10 19:30:00
