‘A inteligência artificial não pode aprofundar desigualdades — deve ser ponte, não abismo’

Em um cenário onde a tecnologia avança a passos largos e transforma radicalmente o mercado de trabalho, o deputado estadual Arthur Monteiro (União) surge como uma das vozes políticas mais proativas diante desse fenômeno. Em entrevista exclusiva ao Coisas da


Em um cenário onde a tecnologia avança a passos largos e transforma radicalmente o mercado de trabalho, o deputado estadual Arthur Monteiro (União)  surge como uma das vozes políticas mais proativas diante desse fenômeno. Em entrevista exclusiva ao Coisas da Política, Monteiro compartilha sua visão sobre um projeto de lei pioneiro que visa preparar os trabalhadores fluminenses para os impactos da inteligência artificial.

Com base em sua experiência como secretário estadual de Trabalho, Emprego e Renda, o parlamentar afirma que os sistemas inteligentes estão deixando de ser apenas ferramentas e passam a ser fatores decisivos na substituição de postos operacionais. Em meio aos dados alarmantes sobre exclusão digital e riscos de desemprego futuro, Monteiro propõe uma política pública ousada que combina capacitação tecnológica, inclusão social e incentivo à requalificação profissional.

Mais do que uma entrevista, o que se revela é o esboço de uma nova política de proteção ao trabalho diante da revolução digital. E se depender do deputado, o futuro da relação entre homens e máquinas no Estado será de cooperação, e não de competição.

COISAS DA POLÍTICA – Deputado, como foi que o senhor percebeu a necessidade de uma política voltada para a adaptação de profissionais às inteligências artificiais?

ARTHUR MONTEIRO – Durante o ano passado, enquanto estive como secretário estadual de Trabalho, Emprego e Renda, comecei a observar que as tecnologias de inteligência artificial estão se desenvolvendo de uma forma muito rápida e ocupando espaço no mercado de trabalho, nas redes sociais etc. Então, a experiência à frente da pasta me fez enxergar a necessidade de uma Política voltada para esta pauta. O que temos observado desde então é que aquelas atividades mais operacionais estão perdendo espaço para as inteligências artificiais, que, de fato, conseguem resoluções para questões do dia-a-dia muito rapidamente e de maneira efetiva. E é claro que isso impacta diretamente os trabalhadores do país e do nosso estado, que começam a se sentir ameaçados pela tecnologia. Ela deixa de ser uma aliada e vira uma ameaça. Existe, inclusive, uma pesquisa, realizada pela Page Interim com profissionais da América Latina, que revela que 76,6% dos respondentes no Brasil acreditam que a inteligência artificial afetará parcialmente os postos de trabalho na área em que atuam. Este número é muito alarmante e, como eu já falei em outras oportunidades, é nosso papel, nosso dever, como Poder Público, antecipar essas tendências, a fim de reduzir as desigualdades tecnológicas e proteger a dignidade do trabalhador.

COISAS DA POLÍTICA – Como o senhor acha que essa iniciativa vai impactar, efetivamente, as pessoas contempladas pelo programa?

ARTHUR MONTEIRO – Uma pesquisa do IBGE, divulgada no ano passado, revelou que ainda existem mais de 20 milhões de pessoas consideradas excluídas digitalmente. São pessoas mais velhas, da terceira idade, ou até mesmo jovens de baixa renda que não têm acesso à internet. Isso é muito sério e, com o advento da inteligência artificial, há um agravante nesse quadro, porque esses cidadãos serão afetados também no que diz respeito à competitividade no mercado de trabalho. Outro levantamento importante, realizado pelo Fórum Econômico Mundial, mostrou que 22% dos cargos e ocupações podem desaparecer até 2030. Isso pode representar um possível crescimento dos índices de desemprego, caso não façamos nada para reverter a situação e capacitar os profissionais do nosso estado. Por isso, uma política voltada a esse público tem muito potencial, porque os cidadãos que trabalham no nosso estado terão sua vida profissional protegida e a transição e adaptação desses trabalhadores será muito mais eficiente. Essas pessoas poderão contar com as inteligências artificiais como uma aliada, como uma nova ferramenta de trabalho, e não mais como uma ameaça, além de estarem ainda mais capacitadas para lidar com a tecnologia. Como mostram os números, têm postos que vão deixar de existir, inevitavelmente. Mas esse Projeto de Lei também abarca as pessoas que perderão seus empregos, isso porque haverão estudos para identificar, previamente, quais serão estas categorias e, em seguida, serão implementados programas de requalificação e transição profissional para os trabalhadores afetados, que poderão contar com cursos e certificações gratuitas e com a ajuda de sindicatos e entidades de conselhos profissionais.

COISAS DA POLÍTICA – O que será necessário para viabilizar o bom funcionamento desta ação?

ARTHUR MONTEIRO – Será necessário, em primeiro lugar, muita disponibilidade e engajamento de todas as partes envolvidas: os profissionais, as empresas e o Executivo. Precisaremos nos esforçar para ampliar o acesso de todos a essa Lei, fazer com que ela seja conhecida, e vamos contar muito com a prontidão e colaboração da iniciativa privada para abraçar esses trabalhadores. Também contaremos com o apoio das nossas universidades públicas, com a Faetec e com os cursos do sistema S para viabilizar a formação dos profissionais. E claro, deverão estar envolvidas em todo esse trabalho a Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação e a Secretaria de Estado de Trabalho e Renda. Esse será um marco no nosso estado.

COISAS DA POLÍTICA – Como o Estado pode garantir que os cursos de requalificação realmente levem à recolocação no mercado?

ARTHUR MONTEIRO – Sabemos que isso vai depender muito da iniciativa privada, da oferta de vagas, entre outras coisas. Então teremos esse desafio pela frente que é o de formar parcerias público-privadas que garantam a contratação de trabalhadores que passaram pela transição tecnológica. Uma solução que encontramos para impulsionar e viabilizar esse processo é estabelecendo incentivos para as empresas que admitirem trabalhadores requalificados ou que implementarem planos de transição tecnológica com responsabilidade social.

COISAS DA POLÍTICA – De que forma esta iniciativa pode impactar a economia e o desenvolvimento do estado?

ARTHUR MONTEIRO – Os impactos serão diretos, sem dúvidas. Isso por vários motivos, um deles é que esse Projeto tem potencial para frear, ou, pelo menos, contribuir para desacelerar o avanço dos índices de desemprego. Além disso, nosso mercado de trabalho poderá contar com mais trabalhadores com mão de obra qualificada, capazes de desempenhar funções que dependem das tecnologias.



Conteúdo Original

2025-07-20 05:00:00

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