Na última sexta-feira, o Morro Santo Amaro, no Catete, Zona Sul do Rio, se preparava para uma noite de festa junina. Crianças e adolescentes vestidos de caipira se reuniam na quadra da comunidade, enquanto uma quadrilha junina fazia uma oração pedindo paz antes da apresentação. Mas a celebração foi interrompida por uma operação do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), que gerou pânico entre os moradores e terminou com um homem morto.
Herus Guimarães Mendes, de 23 anos, foi baleado no abdômen, chegou a ser levado ao Hospital Glória D’Or, mas não resistiu aos ferimentos. Outras cinco pessoas também foram feridas — uma delas segue internada no Hospital Municipal Souza Aguiar.
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“A quadrilha tinha acabado de fazer uma oração pedindo paz na entrada da comunidade. Quando desceram e se prepararam para entrar, já estavam todos no campo, vestidos para dançar. Vai me dizer que a polícia não viu as fantasias brilhando?”, questiona Monica Guimarães Mendes, mãe de Herus, morto com um tiro no abdômen na madrugada de sábado.
Em vídeos que circulam nas redes sociais, crianças e adolescentes aparecem vestidos a caráter, dançando ao som de músicas típicas de São João, durante a festa na comunidade, que tinha as ruas enfeitadas com bandeirinhas coloridas.
A cena de celebração foi rapidamente substituída por vídeos que registram a correria e o barulho dos tiros durante uma operação do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e do Comando de Operações Especiais (COE). Segundo o secretário da Polícia Militar do Rio, coronel Marcelo de Menezes Nogueira, houve uma falha no planejamento da ação.

Festa junina no Morro Santo Amaro é interrompida a balas
O oficial listou os requisitos para uma ação emergencial, que, segundo as autoridades, foi a deflagrada no Santo Amaro após o recebimento de denúncia de que homens armados se reuniriam no local para fazer ataques contra bandidos rivais, e disse que “restou provado que não foram observados protocolos e procedimentos da corporação”.
— Eu vou citar aqui alguns requisitos. Primeiro requisito: avaliação de risco. Que tipo de impacto a nossa operação vai causar naquela comunidade? Segundo requisito: princípio da oportunidade. O dia em que aquela operação vai ser realizada, o horário em que aquela operação vai ser realizada, se está havendo algum evento na comunidade. E o principal requisito: que é a preservação das vidas. O bem maior a ser protegido é a vida das pessoas. E a gente pode observar que esses requisitos não foram contemplados nessa operação emergencial — afirmou, em entrevista ao Bom Dia Rio, da TV Globo.
Em um vídeo que circula nas redes sociais, é possível ver o momento em que o corpo de Herus Guimarães, de 23 anos, é carregado por moradores e policiais até um dos carros do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), no Morro Santo Amaro. Durante a ação, em meio ao choque da comunidade, um dos agentes tenta justificar: “Foi a bala do vagabundo, foi a bala do bandido”.
A cena, assistida com espanto por moradores e crianças, é marcada por gritos de que Herus era trabalhador e apenas se “divertia” na festa. Ele estava sem camisa e vestia uma bermuda quando foi levado. Adolescentes vestidas com trajes típicos de quadrilha junina aparecem chorando ao presenciar o momento.
Uma mulher que acompanhou a retirada do corpo do jovem argumenta:
“Da última vez que eles (Bope) entraram, as crianças estavam vindo da escola. E agora de novo, mais uma vez, mais uma vez”, diz a mulher.

‘A bala foi do vagabundo’, diz policial que leva corpo de homem morto no Santo Amaro
A família de Herus relata, ainda, que os policiais agiram de forma truculenta, arrastando o rapaz ferido numa escada.
“O policial arrastou o meu filho. Ele estava com a lateral do rosto toda machucada, o nariz ferido. Simplesmente colocaram uma grade sobre ele para impedir que fosse socorrido e o arrastaram escada abaixo. O policial ainda gritou que meu filho era vigia”, relatou Monica Guimarães Mendes, mãe de Herus Guimarães, que trabalhava como office boy em uma imobiliária e deixa um filho de dois anos.
A Polícia Militar informou que os agentes que aparecem no vídeo são policiais militares do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE). O governador do Rio, Cláudio Castro, determinou no domingo o afastamento imediato do coronel André Luiz de Souza Batista, comandante do Comando de Operações Especiais (COE), o coronel Aristheu Lopes, comandante do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e 12 policiais do Bope que participaram da ação.
2025-06-09 11:15:00