veja tudo o que se sabe sobre o roubo a biblioteca em SP

Calmamente, a dupla atravessa duas salas, cujas portas estavam destrancadas, da Biblioteca Municipal Mário de Andrade, a segunda maior do país. Em poucos minutos, os dois rendem um segurança e um casal de idosos, recolhem 13 obras de arte —


Calmamente, a dupla atravessa duas salas, cujas portas estavam destrancadas, da Biblioteca Municipal Mário de Andrade, a segunda maior do país. Em poucos minutos, os dois rendem um segurança e um casal de idosos, recolhem 13 obras de arte — colocadas em uma prosaica sacola de pano — e deixam o local. Na fuga parcialmente flagrada por câmeras, que incluiu três trocas de roupa e um momento em que as valiosas peças foram apoiadas ao lado de uma pilha de lixo, chegam a caminhar com os itens, na mesma tranquilidade com quem chegaram, por ruas do Centro de São Paulo. A dinâmica do roubo ocorrido no último domingo foi detalhada nesta segunda-feira pela Prefeitura de São Paulo, que, através da Polícia Federal (PF), acionou a Interpol para tentar impedir a negociação fora do país das peças levadas.

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Em paralelo, a Polícia Civil paulista prendeu um suspeito de participação no crime. Felipe dos Santos Fernandes Quadra, de 31 anos, conhecido como Sujinho, foi localizado em uma casa na Mooca, na Zona Leste, e já tinha antecedentes por furto, roubo e tráfico de drogas. No dia do crime, ele foi visto conversando com a dupla que invadiu a biblioteca e rendeu três pessoas.

Outros possíveis envolvidos não tiveram a identidade divulgada até agora. Uma das hipóteses é a de que eles tenham atuado sob encomenda para algum intermediário conhecedor do mercado das artes.

Foram roubadas oito gravuras do artista francês Henri Matisse, cujas telas expostas eram ilustrações de uma coletânea chamada “Jazz”. Foram levadas oito das 20 pranchas impressas do pintor, além de cinco gravuras do brasileiro Candido Portinari, feitas para o livro “Menino do Engenho”, de José Lins do Rego.

As obras pertenciam à exposição “Do livro ao museu: MAM São Paulo e a Biblioteca Mário de Andrade”. A mostra estava no seu último dia de exibição.

“Jazz” é considerado um dos mais importantes livros de Matisse lançados no século XX, sendo um marco na técnica de “découpage” (recortes de papel) desenvolvida pelo francês. Em abril deste ano, a obra foi o destaque do leilão de “Gravuras e múltiplos” da Christie’s, em Nova York, que alcançou US$ 8,6 milhões (R$ 46,2 milhões na cotação atual). O livro foi arrematado por US$ 504 mil (R$ 2,7 milhões), 68% acima da estimativa mínima, de US$ 300 mil.

Ao todo, a coletânea conta com 20 gravuras. Embora os criminosos tenham levado oito, não é possível fazer uma conexão direta com o valor individual dos itens. As peças estavam seguradas, mas, segundo os responsáveis, as cifras envolvidas não podem se divulgadas por razões contratuais. Já a Secretaria municipal de Cultura destaca que as peças “possuem valor cultural, histórico e artístico, não sendo passíveis de mensuração exclusivamente econômica”. Especialistas ouvidos pelo portal g1, porém, estimam que o montante total pode chegar a R$ 1 milhão.

A fuga, no último domingo, envolveu o abandono de um carro, trocas de roupas dos suspeitos e até o descarte temporário de alguns dos quadros em uma esquina do Centro de São Paulo, após um dos criminosos se assustar com a aproximação de um veículo que imaginou ser uma viatura. De acordo com a prefeitura, câmeras do sistema municipal de reconhecimento facial, o Smart Sampa, registraram a ação — desde o roubo até a chegada dos suspeitos a um endereço onde as obras supostamente estariam escondidas.

Nenhuma obra foi recuperada até o fechamento da edição. Apesar da suposta identificação do esconderijo, as autoridades informaram que aguardavam a emissão de um mandado de busca e apreensão para vistoriar o imóvel.

Ao sair da biblioteca com os 13 itens, os assaltantes caminharam até o Vale do Anhangabaú, a poucos metros do local, onde uma van azul os aguardava. O veículo usado na fuga foi posteriormente abandonado.

As gravações mostram que, enquanto descarregava a van, um dos criminosos chegou a apoiar as obras em uma parede, ao lado de uma pilha de lixo, ao supostamente por se assustar ao pensar que uma viatura se aproximava. Momentos depois, o suspeito retornou, recolheu os quadros e continuou a trajetória a pé, chegando a atravessar a Avenida Nove de Julho carregando o material roubado.

A ousadia da ação repercutiu na imprensa internacional, que correlacionou o caso com outros episódios de vulto pelo mundo. “O assalto ocorre menos de dois meses depois de o mundo da arte ter sido abalado por uma invasão descarada no museu do Louvre, em Paris, onde ladrões roubaram joias de valor inestimável”, descreveu a emissora britânica BBC.

“Chamou a atenção a facilidade com que os criminosos conseguiram entrar na segunda maior biblioteca do Brasil e roubar obras valiosas”, escreveu, por sua vez, o jornal argentino Clarín. (Colaborou Nelson Gobbi)



Conteúdo Original

2025-12-09 03:30:00

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