O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sugeriu esta semana que poderá contornar o Congresso para manter um controle federal “de longo prazo” sobre a segurança de Washington, e disse que pretende estender a iniciativa para outas cidades americanas. Os comentários ocorrem depois que o republicano invocou uma cláusula nunca antes utilizada que define a estrutura de governança do distrito federal para assumir o controle temporário do departamento de polícia com a justificativa de combater uma “crise criminal” que, segundo líderes da cidade, não existe.
- Contexto: Trump anuncia envio da Guarda Nacional à capital após ordenar saída de pessoas em situação de rua e alegar aumento do crime
- New York Times: Trump ordena que militares combatam cartéis de drogas estrangeiros
— Precisaremos de um projeto de lei sobre crimes que vamos apresentar, e ele se aplicará inicialmente a DC — disse Trump durante uma visita ao Kennedy Center, um espaço de artes cênicas em Washington, na quarta-feira. — Vamos usá-lo como um exemplo muito positivo e pediremos extensões de longo prazo, porque não podemos ter 30 dias.
Trump afirmou ainda que esperava propor a legislação “muito rapidamente”, embora o Senado e a Câmara estejam de recesso e sem previsão para retornar antes de 2 de setembro. Ele aludiu a outras opções para estender o controle do departamento de polícia, afirmando que “se for uma emergência nacional, podemos fazê-lo sem o Congresso”. O republicano sinalizou também que espera que outras cidades lideradas pelos democratas alterem suas leis.
— Não quero declarar estado de emergência nacional — afirmou na quarta-feira, antes de acrescentar: — Se for preciso, declararei.
No início desta semana, Trump fez uma demonstração de força em Washington, mobilizando a Guarda Nacional, enviando centenas de agentes federais para a cidade e invocando a Lei de Autonomia, que efetivamente transfere ao Poder Executivo o controle temporário da polícia de Washington, no que ele descreveu como um esforço para combater o crime, mas precisará da permissão do Congresso para estendê-la além dos 30 dias permitidos pelo estatuto.
É a primeira vez que um presidente usa uma emergência declarada para tomar o controle da polícia da cidade, uma medida que o prefeito chamou de “perturbadora”, embora permitida por lei. O Congresso e o Executivo há muito exercem controle sobre o orçamento da cidade e outras decisões. Mas a iniciativa do presidente pode representar a maior invasão da autonomia da cidade desde que ela recebeu o poder de autogoverno há 52 anos.
Embora a criminalidade seja uma preocupação para muitos moradores, a situação na prática difere das declarações exageradas de Trump para justificar as medidas: dados oficiais mostram que a criminalidade está diminuindo — especialmente os crimes violentos, que atingiram o menor nível em 30 anos no ano passado — após um aumento repentino durante a pandemia.
Trump, que alimenta o medo de crimes violentos nas cidades americanas há décadas, fez ameaças cada vez mais graves após retornar ao cargo em janeiro, de que, se não estivesse satisfeito com os esforços da cidade para combater o crime, ordenaria uma tomada federal de Washington — na prática, dissolvendo o governo local para governá-lo diretamente.
O republicano deu seus primeiros passos firmes nessa direção na semana passada, depois que um jovem e proeminente funcionário do governo foi espancado por uma multidão de jovens assaltantes em uma tentativa de roubo de carro em Washington.
De acordo com um porta-voz do departamento de polícia metropolitana, a mobilização federal resultou em 76 prisões ao longo do dia em toda a cidade na terça-feira. Os dados da agência mostraram uma média de 56 prisões por dia em 2024.
Mais de 1.450 policiais participaram da mobilização, cerca de metade dos quais eram do departamento de polícia da cidade, enquanto apenas 30 soldados da Guarda Nacional foram mobilizados, dos cerca de 800 que, segundo autoridades de defesa, devem chegar para a missão.
2025-08-14 12:01:00
