Traficantes recebiam de 20% a 30% do valor de carros na tabela Fipe em esquema de recuperação de veículos roubados

A Polícia Civil desmontou, nesta sexta-feira, um esquema milionário de recuperação de carros roubados envolvendo empresas privadas, traficantes e, segundo as investigações, até agentes públicos. Três policiais militares são suspeitos de participação ativa nas negociações com criminosos. Segundo Felipe Curi,


A Polícia Civil desmontou, nesta sexta-feira, um esquema milionário de recuperação de carros roubados envolvendo empresas privadas, traficantes e, segundo as investigações, até agentes públicos. Três policiais militares são suspeitos de participação ativa nas negociações com criminosos. Segundo Felipe Curi, secretário estadual de Polícia Civil, traficantes recebiam, em média, 10% do valor na tabela Fipe em casos de carros recuperados. Esse pagamento era maior em caso de motos, em torno de 20% a 30% do valor estipulado pela tabela Fipe.

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— São uma operação e uma investigação inéditas. Nunca houve uma ação desse porte envolvendo o roubo de veículos nesse contexto. As cooperativas contratavam essas empresas, que faziam contato direto com os traficantes — disse Curi em coletiva.

As empresas, contratadas por cooperativas de proteção veicular e conhecidas como “pronta resposta” ou “pronto emprego”, negociavam diretamente com traficantes e receptadores para recuperar veículos roubados — principalmente em áreas dominadas por facções como o Comando Vermelho (CV) e o Terceiro Comando Puro (TCP), segundo a polícia. Em 11 meses, quatro dessas empresas receberam mais de R$ 11 milhões de apenas duas associações, em troca da devolução de mais de 1.600 veículos, indica a investigação.

Operação da Polícia Civil mira quadrilha especializada em cobrança de resgate de veículos roubados

A apuração policial sobre o esquema também revelou que o índice de recuperação de veículos por essas empresas chegou a 80% em fevereiro de 2025, um número que chamou a atenção da polícia e contribuiu para a deflagração da operação desta sexta.

Segundo o secretário de Polícia Civil, o tráfico lucrava com os pagamentos, e o cidadão, acreditando estar protegido, na verdade, era vítima de uma indústria criminosa:

— O cliente, sem saber, é vítima do próprio serviço que contratou.

As empresas de pronta resposta são contratadas por cooperativas e associações de proteção veicular para atuar na localização e recuperação de carros roubados ou furtados. Na prática, elas funcionam como uma espécie de segurança privada para os veículos protegidos. Diferentemente de seguradoras tradicionais, que pagam indenizações com base na tabela Fipe, essas empresas priorizam a recuperação do bem para evitar o pagamento.

Em vez de seguir caminhos legais, as empresas de pronta resposta negociavam diretamente com criminosos para que os veículos roubados fossem devolvidos. Esse contato, segundo a polícia, acontecia dentro de comunidades dominadas por facções criminosas, e envolvia pagamentos que variavam, em média, entre R$ 6 mil e R$ 10 mil por carro.

Policiais durante diligência da Operação Torniquete — Foto: Divulgação / Polícia Civil
Policiais durante diligência da Operação Torniquete — Foto: Divulgação / Polícia Civil

Para os criminosos, o “resgate” virou uma fonte rápida e segura de lucro. Para as empresas, é mais barato pagar o resgate do que arcar com o valor total do carro. Para o cliente, porém, a situação é enganosa: ele acredita estar protegido, mas, na prática, apenas contribui para um sistema ilegal que incentiva ainda mais roubos.

Os mandados de busca e apreensão foram cumpridos ontem principalmente em imóveis de alto padrão no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio, e na Baixada Fluminense. A ação teve como objetivo apreender celulares, computadores e documentos que possam comprovar a participação das empresas nas negociações com os criminosos, além de identificar os interlocutores pelo lado do tráfico.



Conteúdo Original

2025-05-24 06:30:00

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