TH Jóias e traficantes negociavam até que tipo de dólar comprar

Investigação da Polícia Federal mostra que o agora ex-deputado estadual Tiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Jóias, era mais do que um braço político do Comando Vermelho. Ele aparece como integrante do “Núcleo de Liderança” da facção, além de


Investigação da Polícia Federal mostra que o agora ex-deputado estadual Tiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Jóias, era mais do que um braço político do Comando Vermelho. Ele aparece como integrante do “Núcleo de Liderança” da facção, além de ser acusado de intermediar a compra e a venda de armamento e de ser um dos operadores financeiros da quadrilha. Mensagens interceptadas pela PF mostram a negociação entre TH e Gabriel Dias de Oliveira, o Índio do Lixão, apontado como traficante, para fazer operações de R$ 9 milhões para dólares. Além da taxa de conversão, o grupo se preocupava também com o tipo de nota que receberia.

  • TH Jóias elogiou Pezão, chefe do CV, após convite para festa do traficante: ‘mano é diferenciado’
  • TH Jóias: deputado é acusado de fazer câmbio para o tráfico e ser um dos chefes do Comando Vermelho

Nas negociações de câmbio, o joalheiro diz ter um fornecedor de Petrópolis, na Região Serrana, que faria a cotação a R$ 5,37 com notas de cem dólares da “faixa azul” ou a R$ 5,20 com notas de “cabeça grande”. TH só queria receber o primeiro tipo de cédula, porque tem uma maior aceitação no mercado por ser mais nova e com mais elementos antifalsificação. Ele chega a enviar links para Índio mostrando que há locais que não aceitam mais as notas “cabeça grande”.

Em um áudio enviado a Índio do Lixão, quando já teria recebido o dinheiro do tráfico para realizar a troca por dólares, TH Jóias diz que levaria cerca de 200 mil dólares e o restante no dia seguinte. Isso porque seu fornecedor o entregou outro tipo de cédula: “Mandei voltar. Falei: não, irmão. Só faixa azul.”

Troca de mensagens entre TH e Índio sobre câmbio do dólar — Foto: Reprodução

As mensagens mostram também que havia uma insatisfação do Comando Vermelho com a taxa usada no câmbio. Com a conversão sendo levada a R$ 5,37 por dólar, Índio questiona TH Jóias sobre o valor e diz que pesquisou preços mais em conta na internet, por volta de R$ 5,20.

O ex-deputado explica como o fornecedor chega no valor: o doleiro fica com oito a dez centavos por dólar. E que em casa de câmbio o valor é até mais barato, mas não tem a quantidade que eles precisam, além do pagamento de impostos: “Não é uma operação simples. Tem risco”, define TH Jóias.

  • Caso TH Joias: unidade do Batalhão de Choque que ‘atrapalhava o CV’ na Gardênia Azul durou um ano

TH segue explicando, que há poucos dias o valor ainda estava mais caro, mas seu fornecedor fez pelos R$ 5,37 e corre risco de trazer o dinheiro de Petrópolis, na Região Serrana:

“Não adianta comprar com qualquer um. Tem que ser com pessoa firme que não vai me trazer problemas. As vezes por causa de 10 centavos posso ter um estresse de talvez o cara não ser firme e ter uma tróia. O Coroa (fornecedor) trás na minha casa”, conclui ele.

CV barganha conversão do dólar — Foto: Reprodução
CV barganha conversão do dólar — Foto: Reprodução

De acordo com o documento em que as prisões são decretadas pela Justiça Federal, TH participou de “múltiplas operações de câmbio” feitas com dinheiro do tráfico de drogas. A PF apurou que, em abril do ano passado, TH Jóias foi chamado por Índio do Lixão para fazer o câmbio de R$ 5 milhões para dólares. Imagem obtida pelos agentes mostra o acusado deitado numa cama coberta pelas notas. Os diálogos interceptados confirmam, segundo os agentes, que o dinheiro pertencia ao chefe do CV Pezão. Assessor do deputado, Luiz Eduardo Cunha Gonçalves, o Dudu, pegou R$ 1,02 milhão para trocar numa casa de câmbio em Copacabana, Zona Sul do Rio. O restante ficou com TH, que levou para sua casa na Barra da Tijuca. É o que diz a investigação.

Dinheiro que seria do tráfico de drogas e que TH Jóias faria o câmbio por dólares — Foto: Reprodução
Dinheiro que seria do tráfico de drogas e que TH Jóias faria o câmbio por dólares — Foto: Reprodução

A PF ainda encontrou fotos de TH deitado no dinheiro, ainda em reais. TH teria devolvido o dinheiro em três encontros com os traficantes, totalizando US$ 1 milhão, valor compatível com a conversão na época. Segundo a PF, pela operação, ele lucrou R$ 50 mil. Na época, TH ainda não era deputado — ele assumiu uma cadeira na Assembleia Legislativa do Rio em junho e perdeu o cargo na quarta, logo após ser preso.

Cambista.  TH Jóias  segura parte  dos dólares trocados para  o Comando Vermelho em abril do ano passado, antes de ele assumir uma cadeira  na Alerj — Foto: Reprodução/Relatório MPF
Cambista. TH Jóias segura parte dos dólares trocados para o Comando Vermelho em abril do ano passado, antes de ele assumir uma cadeira na Alerj — Foto: Reprodução/Relatório MPF

Um mês depois, TH teria participado de outra operação de câmbio para o tráfico, mas o serviço gerou um conflito com a facção. A PF afirma que o ex-deputado recebeu mais R$ 4 milhões para trocar por dólares, mas ele não teria devolvido o valor total. Parte do dinheiro foi usada por TH e seu assessor Luiz Eduardo para custear um chá revelação organizado pelo ourives.

  • Antes de TH Jóias, Rio teve outros políticos presos por suspeita de envolvimento com o crime; relembre

“Foi possível identificar indícios de lavagem de dinheiro, essencial para a manutenção e a expansão da organização criminosa. Os investigados, rotineiramente, transacionam centenas de milhares e até milhões de reais em dinheiro vivo para evitar o sistema de controle financeiro e branquear os proventos do crime”, diz trecho do relatório.

Organograma da quadrilha — Foto: Editoria de Arte
Organograma da quadrilha — Foto: Editoria de Arte

Procurada, a defesa de Th Jóias diz que “são absurdas as acusações que vêm sendo reiteradas contra ele. Sobre as fotos expostas , a cenografia das imagens representa o público de sua joalheria que consiste em jogadores, artistas do rap e do funk brasileiro”. Os advogados ainda afirmam que o ex-deputado é inocente e “existe um claro movimento de perseguição política a um representante legítimo do povo do Rio de Janeiro.”

Já a defesa do delegado federal Gustavo Stteel reafirma que seu cliente é inocente e “na investigação não há elemento que sustente tais acusações, mas tão somente interpretações de diálogos de terceiros, travados sem a anuência” do policial.

A defesa dos outros citados não retornaram ou não foram encontradas.



Conteúdo Original

2025-09-07 04:30:00

Posts Recentes

PUBLICIDADE

PUBLICIDADE