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Racha no grupo do bicheiro Rogério Andrade fez surgir ‘Novo Escritório do Crime’

Um racha no grupo do bicheiro Rogério Andrade resultou na formação de um “Novo Escritório do Crime”. De acordo com o Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Rio (Gaeco/MPRJ), de um lado estava


Um racha no grupo do bicheiro Rogério Andrade resultou na formação de um “Novo Escritório do Crime”. De acordo com o Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Rio (Gaeco/MPRJ), de um lado estava o grupo chefiado por Flávio da Silva Santos, conhecido como Flávio Pepe ou Flávio da Mocidade; do outro, o comandado pelo policial militar Márcio Araújo de Souza, responsável pela segurança de Andrade. As investigações apontam que a quadrilha de Flávio Pepe estaria envolvida em pelo menos dois homicídios de membros do grupo rival.

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A motivação para o conflito interno seria a disputa por territórios. O grupo de Araújo, segundo o MPRJ, controla as áreas das Vargens (Vargem Pequena e Grande) e do Recreio, enquanto o de Flávio Pepe atua em Bangu, todas na Zona Oeste do Rio. Integrantes do “Novo Escritório do Crime” — alvo de uma operação do Gaeco, com apoio da Coordenadoria de Segurança e Inteligência (CSI), ocorrida nesta quinta-feira— teriam agido contra pessoas vinculadas ao chefe da segurança de Rogério. Flávio Pepe não foi denunciado pela promotoria, apenas nove homens supostamente ligados a ele.

Rogério de Andrade e Márcio Araújo de Souza foram denunciados na Operação Calígula — Foto: Reprodução

Na ação, o MPRJ buscou cumprir nove mandados de prisão contra suspeitos de integrarem o “Novo Escritório do Crime”. Entre os alvos estavam três policiais militares: o capitão Alessander Ribeiro Estrella Rosa, conhecido como tenente Alessander, lotado no 39º BPM (Belford Roxo); o cabo Diogo Briggs Climaco da Chagas, do 9º BPM (Rocha Miranda); e o soldado Bruno Marques da Silva, o Bruno Estilo, já preso no Batalhão Especial Prisional (BEP). Também foi alvo o ex-PM Thiago Soares Andrade Silva, conhecido como Ganso, Batata ou Soares, apontado como chefe do novo grupo, que já se encontrava preso, além de outros cinco homens.

O presidente da Mocidade Independente de Padre Miguel, Flávio da Silva Santos — Foto: Reprodução
O presidente da Mocidade Independente de Padre Miguel, Flávio da Silva Santos — Foto: Reprodução

Na operação, Alessander, Briggs e outros dois suspeitos não foram localizados. Os demais já estavam detidos. Segundo a denúncia do MP, o novo grupo criminoso atua sob as ordens de chefes da contravenção.

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De acordo com o Gaeco, parte dos homicídios atribuídos à organização decorre de disputas entre grupos criminosos. O denunciado Thiago Soares, excluído da corporação, integraria o grupo de Flávio Pepe, segundo a denúncia. Mesmo preso na Cadeia Pública Constantino Cokotós, em Niterói, Soares, ou Ganso, continuaria a atuar no grupo, inclusive atuando na venda de armas.

Segundo a denúncia do MPRJ, a quadrilha de Ganso foi responsável por pelo menos dois homicídios com características de execução, praticados à luz do dia e com uso de armamento pesado. Um dos crimes foi o assassinato de Fábio Romualdo Mendes, surpreendido dentro de seu carro e atingido por vários disparos em 29 de setembro de 2021, em Vargem Pequena, Zona Oeste do Rio. Fábio Romualdo era do grupo de Márcio Araújo e cuidava da região das Vargens. Antes de ser executado, o “Novo Escritório do Crime” tentou matá-lo outras duas vezes, mas as “missões foram abortadas”.

Em conversas extraídas dos celulares dos denunciados, com autorização da Justiça, integrantes comentam sobre as dificuldades de executar Fábio Romualdo, que andava em carro blindado. Daí a necessidade de usar fuzis, segundo os criminosos.

A denúncia do MP afirma que Ganso foi o mentor do assassinato de Fábio Romualdo. Segundo o documento, Anderson de Oliveira Reis Viana, o Papa ou 2P, e Rodrigo de Oliveira Andrade de Souza, o Rodriguinho, acionaram cúmplices e promoveram o monitoramento da vítima. Rodriguinho está preso na Penitenciária Lemos de Brito, no Complexo de Gericinó, Zona Oeste do Rio. Já Anderson é considerado foragido.

O policial militar Bruno Marques da Silva, o Bruno Estilo, é apontado como a pessoa que forneceu material aos outros suspeitos. Ele também teria participado do planejamento e da preparação do assassinato e se colocado à disposição para participar da execução.

A denúncia aponta que todos os envolvidos no crime foram pagos. Fábio Romualdo, segundo o MP, teria sido morto para eliminar um possível concorrente na disputa pelo domínio de território na Zona Oeste do Rio, onde atuam os integrantes do “Novo Escritório do Crime”.

A execução demonstrou a ousadia do grupo criminoso. Fábio Romualdo estava em um local movimentado, com grande fluxo de veículos e pedestres, em frente a um posto de saúde. Ele estava em seu carro, esperando que a esposa terminasse um atendimento médico.

O outro homicídio também ocorreu em plena luz do dia, numa emboscada em via pública, no bairro de Realengo, em 4 de outubro de 2021, poucos dias após o de Fábio Romualdo. A vítima foi Neri Peres Júnior, outro vinculado a Araújo, assassinado com tiros de fuzil.

Na denúncia consta ainda que os suspeitos conversavam frequentemente pelo WhatsApp. Em um diálogo entre Bruno Estilo e Rodriguinho, em agosto de 2021, os dois falam sobre um “trabalho” ou uma “missão” em “vargem”. Para os investigadores, eles se referiam ao assassinato de Fábio Romualdo.

Mensagens obtidas pelos agentes mostram ainda que Bruno e Rodriguinho se encontraram logo após a execução do rival, e que o PM esqueceu sua arma no carro do cúmplice, conforme a denúncia do MP:

“Cara, tua arma tá comigo. Tu deixou dentro do carro”, diz Rodriguinho.

Nos dias 1º e 2 de setembro, os dois marcaram um novo encontro. Por duas vezes, a execução de Fábio Romualdo foi marcada, mas os planos dos assassinos acabaram sendo adiados, informa a denúncia. Em uma delas, a vítima era esperada numa barbearia, mas ela acabou não aparecendo no local no dia, segundo os investigadores:

“Mano, estou me adiantando. Nem sinal do moleque lá. Se ligou? Nem sinal do moleque lá. Não apareceu no barbeiro. Amigo tá vindo embora já. Valeu”, escreveu Rodriguinho na ocasião.

Na denúncia é citado que Bruno Estilo demonstrava ansiedade para matar Fábio e que ele enviou uma foto de uma pistola Glock equipada com um kit rajada — um dispositivo que transforma o funcionamento de uma arma semi-automática em automática. De acordo com os investigadores, a arma é compatível com as características dos disparos feitos no dia da execução.

Além dos três PMs, de Thiago, Rodrigo e Anderson, foram denunciados: André Costa Bastos, o Boto; Diony Lancaster Fernandes do Nascimento; e Vitor Francisco da Silva, o Vitinho Fubá. Os nove são acusados de integrar uma organização criminosa armada que age da mesma forma que o Escritório do Crime original, chefiado pelo ex-capitão do Bope, Adriano da Nóbrega, morto pela polícia da Bahia em fevereiro de 2020.

Assassinato de Iggnácio e atentado

Márcio Araújo é suspeito de envolvimento no assassinato do bicheiro Fernando Iggnácio, rival de Andrade. O policial estava preso até outubro de 2023 e foi solto por uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele é acusado de ter contratado os quatro matadores de aluguel que, segundo as investigações, executaram Iggnácio em novembro de 2020. O crime aconteceu em uma empresa de táxi aéreo, no Recreio dos Bandeirantes, Zona Oeste do Rio.

Uma semana antes de ser solto, Márcio foi reintegrado aos quadros da Polícia Militar. Uma decisão judicial favorável ao sargento obrigou a corporação a reintegrá-lo, além de cessar os efeitos da cassação da aposentadoria do militar, em vigor desde sua expulsão. O sargento havia sido preso em 19 de fevereiro de 2021, após se apresentar na Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), após ter tido um mandado de prisão expedido em seu nome oito dias antes.

Em 2023, Márcio sofreu um atentado. Seis homens armados e encapuzados atiraram contra a fachada da casa onde ele mora com a família, num condomínio na Ilha de Guaratiba, Zona Oeste do Rio. Os criminosos gritaram o nome do PM e depois abriram fogo.

Flávio da Silva Santos, conhecido como Flávio Pepe ou Flávio da Mocidade, é o atual presidente da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel desde 2019. Ele é apontado pelo Gaeco e pela Delegacia de Homicídios da Capital como braço direito de Rogério de Andrade. Ele é investigado por envolvimento em disputas violentas pelo controle de áreas do jogo do bicho na Zona Oeste do Rio.

Em outubro do ano passado, durante a Operação Fissão, Flávio foi preso em flagrante após tentar se desfazer de uma pistola de uso restrito ao ser alvo de mandado de busca e apreensão em sua residência na Barra da Tijuca. A prisão em flagrante foi posteriormente convertida em preventiva. No entanto, Flávio Pepe acabou sendo beneficiado por um habeas corpus. Ele é investigado por participação em homicídios relacionados a disputas internas na organização criminosa de Rogério, o principal chefe da contravenção carioca, que está no Presídio Federal de Mato Grosso do Sul desde outubro do ano passado.

O blog Segredos do Crime procurou as defesas dos citados, mas até o momento, eles não retornaram a ligação.



Conteúdo Original

2025-05-16 06:30:00

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