Quem é o homem preso com mais de 86 passagens pela polícia no Rio

Patrick Rocha Maciel, de 21 anos, morava no Morro da Providência, no centro do Rio de Janeiro. Desde pequeno, descia a comunidade para vender bala em Copacabana. Foi nessas idas ao bairro da Zona Sul carioca que conheceu as praias,

Patrick Rocha Maciel, de 21 anos, morava no Morro da Providência, no centro do Rio de Janeiro. Desde pequeno, descia a comunidade para vender bala em Copacabana. Foi nessas idas ao bairro da Zona Sul carioca que conheceu as praias, as ruas e acabou se familiarizando com o local onde cometeria os primeiros delitos, ainda uma criança. Aos 10 anos, Patrick foi levado pela primeira vez à delegacia por policiais. Desde então, seu histórico criminal só aumentou. Hoje, com pouco mais de duas décadas de vida, ele acumula 86 citações em registros de ocorrência, por delitos como ameaça, roubo, invasão de domicílio e lesão corporal.

  • CLIQUE AQUI E VEJA NO MAPA DO CRIME COMO SÃO OS ROUBOS NO SEU BAIRRO
  • O gatilho da violência: Rio concentra 43% das apreensões de fuzis, armas de guerra que desconfiguraram o estado em cinco décadas

O histórico criminal de Patrick começa em 2 de abril de 2014. Consta no registro de ocorrência que o então garoto foi abordado por policiais enquanto andava com dois amigos em bicicletas de aluguel por uma rua movimentada da Zona Sul. Já passava das 19h. Os PMs desconfiaram das crianças e mandaram que elas parassem. Segundo o registro, os meninos confessaram aos policiais ter “conseguido arrancar as bicicletas de uma estação da Lagoa”. O caso foi registrado como furto. Por ter menos de 12 anos, Patrick era inimputável, ou seja, não poderia responder por aquele delito.

Também naquele ano, em 25 de agosto, um grupo de crianças e adolescentes abordou uma mulher na Rua da Constituição, no Centro do Rio. A vítima relatou que um dos menores arrancou o cordão de ouro que ela usava e saiu correndo. Consta no registro feito naquele dia que a mulher perseguiu o grupo e, com a ajuda de pessoas que estavam no local, conseguiu pegar quatro garotos e levá-los à delegacia. Patrick era um deles.

Na época, fazia uma semana que ele havia completado 11 anos — e ainda não poderia receber uma medida socioeducativa. A terceira ocorrência, também em 2014, envolveu o furto de objetos em um estabelecimento na Avenida Nossa Senhora de Copacabana. O menino foi novamente levado à delegacia, desta vez com outros dois amigos.

O histórico criminal de Patrick revela uma infância precoce não apenas no crime, mas também no uso de drogas. Embora não seja possível determinar com exatidão a idade em que começou a usar entorpecentes, aos 13 anos ele já possuía um registro por porte de drogas. De acordo com uma ocorrência registrada em 2016, ele foi flagrado por policiais na Lagoa, na Zona Sul do Rio, portando entorpecentes “para consumo próprio”. Ao longo daquele ano, o adolescente foi levado à delegacia outras quatro vezes por furto — e encaminhado ao Degase pela segunda vez.

Como os processos envolvendo menores tramitam em segredo de Justiça, não é possível saber com precisão por quanto tempo permaneceu nas unidades. Ainda assim, o histórico criminal dá a dimensão da rotina de delitos cometidos por Patrick na infância e adolescência: entre os 10 e 17 anos, ele foi levado para o Degase ao menos 12 vezes.

A primeira entrada dele foi em abril de 2014 e a última, em 2020. Nesse período de sete anos, Patrick também se envolveu em confusões na unidade socioeducativa em pelo menos três ocasiões, todas registradas na Polícia Civil. Em 2021, aos 17 anos, foi encaminhado à delegacia por lesão corporal e por participação num motim de internos.

Patrick não avançou nos estudos. Quando precisa informar sua escolaridade em questionários, declara não ter concluído sequer o ensino fundamental. Em todos os processos judiciais a a que respondeu, assinou apenas o primeiro nome, com uma caligrafia típica de quem teve pouco contato com a escrita.

Trecho de argumentação da Defensoria Pública — Foto: Reprodução

Seus documentos não registram o nome do pai, apenas o da mãe, com quem vivia. De acordo com a polícia, a mulher tem sete passagens criminais. Também foi investigada por maus-tratos, abandono de incapaz e por submeter criança ou adolescente a vexame ou constrangimento.

Alguns meses após completar 18 anos, em dezembro de 2021, Patrick foi preso por furtar itens de uma drogaria. Na audiência de custódia, o juiz concedeu liberdade provisória mediante o cumprimento de medidas cautelares. Consta no processo criminal que, durante o atendimento de uma equipe técnica interdisciplinar na Central de Custódia, ele solicitou gratuidade para a emissão de documentos e atendimento assistencial especializado, alegando estar em situação de “fragilidade familiar e socioeconômica”.

Patrick também pediu ajuda aos assistentes sociais para retornar à sua residência, mas foi informado que o alvará de soltura não incluía transporte. Acabou voltando para as ruas com um encaminhamento para uma unidade do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas). A Defensoria Pública citou o episódio na defesa e criticou a ausência de assistência ao jovem, que já tinha ficado sob responsabilidade do Estado, mas não possuía nem os documentos básicos.

Trecho de processo em que equipe relata atendimento para Patrick — Foto: Reprodução
Trecho de processo em que equipe relata atendimento para Patrick — Foto: Reprodução

No ano seguinte, Patrick foi novamente preso e, pela primeira vez, deu entrada em um presídio. O que mais chamou a atenção dos investigadores foi o fato de ele se envolver em novos crimes poucos dias após deixar a prisão. Em abril de 2022, cerca de seis dias após sair do Presídio José Frederico Marques, em Benfica, Patrick voltou a ser preso por assaltar uma casa em Ipanema, na Zona Sul do Rio.

Segundo denúncia do Ministério Público à época, o rapaz invadiu, durante a madrugada, um imóvel alugado por um turista para o carnaval e ameaçou o homem com um espeto de churrasco. Durante a ação, encheu uma mala com pertences da vítima, como celular, fone de ouvido, notebook, tênis e dinheiro. Foi preso ainda no prédio, após a polícia ser acionada para uma denúncia de violação de domicílio. Permaneceu quase um ano na cadeia e foi solto em abril de 2023. Desde que completou 18 anos, Patrick Maciel já entrou no sistema penitenciário pelo menos sete vezes.

Denúncia do MPRJ detalhe crime cometido por Patrick Maciel — Foto: Reprodução
Denúncia do MPRJ detalhe crime cometido por Patrick Maciel — Foto: Reprodução

O delegado Angelo Lages, titular da 12ª DP (Copacabana), afirma que a reincidência de Patrick demonstra que ele representa uma ameaça à ordem pública e que pratica crimes em série:

— No ano passado, prendemos ele no início do ano por um furto a uma clínica odontológica, que causou um prejuízo de R$ 100 mil. Ficou preso por dois meses, foi solto e, 15 dias depois, cometeu outro furto. Quando ele chegou à delegacia, nós já o reconhecemos. E sabíamos que, em breve, o veríamos de novo.

Após sair da prisão este ano, ele se envolveu em quatro delitos em um intervalo de apenas 24 dias. De acordo com os agentes, nesse período teria arrombado e furtado dois apartamentos em Copacabana, subtraído produto de uma farmácia em Ipanema e, com outras três pessoas, invadido um templo evangélico para roubar objetos. Entre idas e vindas da delegacia ao sistema prisional, Patrick se tornou figura conhecida entre os policiais.

A mãe de Patrick morreu atropelada em novembro de 2023, na Zona Sul do Rio. No ano passado, ele contou informalmente à polícia que tem cinco irmãos, mas não entrou em detalhes: se limitou em dizer somente que é o único que entrou para “a vida do crime”.

Conteúdo Original

2025-08-03 04:30:00

Posts Recentes

PUBLICIDADE

PUBLICIDADE