Polícia revela esquema de criminosos infiltrados em torcidas organizadas; códigos são usados para planejar assaltos

A Polícia Civil revelou como criminosos infiltrados em torcidas organizadas do Rio se articulam para praticar crimes. Segundo os investigadores, eles usam redes sociais e códigos próprios para planejar ações violentas em dias de jogos. Os suspeitos foram alvo da


A Polícia Civil revelou como criminosos infiltrados em torcidas organizadas do Rio se articulam para praticar crimes. Segundo os investigadores, eles usam redes sociais e códigos próprios para planejar ações violentas em dias de jogos. Os suspeitos foram alvo da Operação Pax Stadium, realizada na manhã desta quinta-feira. Agentes da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco) cumpriram 39 mandados de busca e apreensão em diversos endereços, incluindo nove sedes das principais torcidas da capital fluminense.

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Durante as diligências, um homem morreu e outro foi preso em flagrante após entrar em confronto com os policiais. Já um terceiro suspeito foi capturado por posse ilegal de arma de fogo.

Segundo os investigadores, a ação busca reunir provas contra infiltrados que se aproveitam da estrutura das torcidas para planejar delitos, em meio à escalada de violência registrada nas últimas semanas, com roubos, confrontos, mortes e tumultos em estádios e arredores.

— Apreendemos explosivos na sede de uma dessas torcidas organizadas, assim como cabos de enxada. Em outras residências, interceptamos telefones celulares, notebooks e alguns dispositivos eletrônicos, que nos ajudarão a obter o máximo de informações para entender essa dinâmica, sobretudo das marcações das brigas — explica o delegado titular da Draco, Álvaro Gomes.

Arma apreendida durante a operação policial da Draco — Foto: Divulgação PCERJ

Segundo o delegado, a quebra de sigilo dos dispositivos apreendidos já foi autorizada, e os aparelhos serão encaminhados para perícia com o objetivo de extrair dados que auxiliem na investigação.

— Conseguir essas informações é o nosso real objetivo, pois acreditamos que podemos passar para uma nova fase da investigação com o que obtivermos. Isso nos garante a possibilidade de realizar uma expedição de mandados de prisão para aqueles CPFs que realmente estejam envolvidos de uma forma mais enraizada, mais próxima das atividades criminosas — explica Gomes.

Uso de mensagens secretas

Um dos códigos mais usados pelos bandidos, segundo a polícia, é “PAS” — sigla para “pelotão de assalto surpresa”. Em conversas on-line, os infiltrados perguntam entre si se haverá “paS” ou “paZ” no jogo, numa forma cifrada de indicar se pretendem praticar assaltos ou manter o comportamento pacífico.

Os criminosos também utilizavam os termos “péssimo dia para vestir” para indicar quais torcedores seriam atacados no dia. Por exemplo, se todos decidissem que seria um “péssimo dia para vestir rubro-negro”, qualquer flamenguista poderia se tornar alvos dos ataques.

Munições, drogas e celulares apreendidos em operação da Polícia Civil, que visa capturar criminosos infiltrados em torcidas organizadas — Foto: Divulgação / Pcerj
Munições, drogas e celulares apreendidos em operação da Polícia Civil, que visa capturar criminosos infiltrados em torcidas organizadas — Foto: Divulgação / Pcerj

— É nítido que as redes sociais viraram um espaço para marcarem essas algazarras. Um dos principais fatores que propiciam essa articulação pela internet é a questão do anonimato, já que os criminosos utilizam apelidos e pseudônimos, preservando a identidade — conta Álvaro Gomes.

O delegado titular da Draco e o subcomandante do Batalhão Especializado em Policiamento em Estádios (Bepe), tenente-coronel Guilherme, frisaram, no entanto, que a investigação não é contra as torcidas organizadas em si, mas contra os criminosos que se aproveitam da estrutura desses grupos para arquitetar crimes.

— Acreditamos que a maioria das torcidas está ali para realmente torcer de forma ordeira e organizada. Porém, esses episódios tomaram outra proporção, e percebemos que pessoas mal intencionadas estavam conseguindo se valer da estrutura delas para praticar crimes — afirma Gomes.

Para coibir os crimes, a Polícia Civil pretende ampliar o uso do sistema de reconhecimento facial do Maracanã — que hoje já faz a biometria na entrada. O objetivo é identificar e capturar os suspeitos antes de novas ocorrências de violência.

Violência em dias de jogos

O aumento de violência envolvendo torcedores organizados no Rio voltou a deixar mortos e feridos nas últimas semanas. Um vascaíno foi baleado e morreu; outro foi atingido no pé; e um torcedor foi morto a pauladas, no último sábado.

Um dos grupos investigados pela Polícia Civil, a Torcida Jovem Fla (TJF), havia sido banida dos estádios por cinco anos e, no dia de seu retorno, protagonizou cenas de violência em Copacabana, além de tumultos na Ponte Rio–Niterói e na linha férrea da SuperVia, em Marechal Hermes, na Zona Norte.

Como consequência, o Juizado do Torcedor determinou, na terça-feira, uma nova suspensão: a TJF está proibida de entrar em qualquer evento esportivo por mais dois anos.

— Esses indivíduos não são torcedores comuns, não estão cadastrados nas torcidas organizadas. Eles são criminosos travestidos de torcedores — ratifica o subcomandante do Bepe.

*Estagiária sob a coordenação de Leila Youssef



Conteúdo Original

2025-09-18 12:24:00

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