Polícia investiga presença de homens armados em baile funk com MC Poze do Rodo na Cidade de Deus

• Baleado: Policial morto na Cidade de Deus é o terceiro da Core atingido em dois meses; agente foi subsecretário da Seop
• A tiros: Dois homens são mortos durante ataque a bar em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense; seis pessoas ficam feridas

Em nota, a Polícia Civil informou que “investiga a atuação da facção criminosa na localidade” e que agentes analisam todos os elementos disponíveis para identificar e responsabilizar criminalmente os envolvidos.

As imagens mostram homens segurando fuzis entre os frequentadores do baile. Durante a apresentação do MC, os criminosos ostentavam as armas e gravavam vídeos sem qualquer tipo de disfarce ou receio de serem reconhecidos.

Em 2020, o cantor também se apresentou em um baile funk no Jacaré, Zona Norte do Rio, em meio a homens armados.

Operação e morte do policial da Core

O policial civil José Antônio Lourenço, da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), morreu durante uma operação da corporação na Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio, na segunda-feira. O agente chegou a ser socorrido para o Hospital municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, mas seu estado era “muito grave” e não resistiu, informa a Secretaria municipal de Saúde. De acordo com a Polícia Civil, o agente foi “brutalmente assassinado por criminosos” durante a ação. No início desta tarde, as pistas da Linha Amarela chegaram a ser interditadas por 20 minutos no sentido Fundão, na altura da Cidade de Deus, devido a uma manifestação.

De acordo com o Centro de Operações Rio (COR), o trânsito chegou à Avenida Ayrton Senna, na Barra da Tijuca. Tiros foram ouvidos. Por isso, motoristas abandonaram seus carros na Linha Amarela e se deitaram no asfalto, tentando se proteger. Foi possível ver ainda policiais armados em meio aos veículos. A rota alternativa indicada é seguir pela Zona Sul, pelo Alto da Boa Vista ou pela Transolímpica.

Durante a ação, a Rua Edgard Werneck demorou a ser fechada, o que possibilitou o uso de caçambas de lixo como barricada. Em entrevista ao RJ1, da TV Globo, o secretário de Polícia Militar, coronel Marcelo de Menezes Nogueira, disse que o protocolo manda que sempre que haja risco na utilização de uma via é determinada a interrupção do tráfego nela.

— As vias nesse momento estão liberadas. O policiamento está colocado. Determinei um reforço maciço para garantir que as pessoas tenham o menor impacto possível no seu dia a dia — disse, por volta do meio-dia.

Na segunda-feira, a Polícia Civil realizava uma operação na Cidade de Deus, em conjunto com o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), a Cedae e concessionárias, para combater a venda de gelo contaminado para bares e quiosques das praias da Barra e do Recreio. Na comunidade, o objetivo era chegar a uma fábrica na comunidade, para identificar possíveis crimes ambientais: o estabelecimento foi interditado por uso de água contaminada e um responsável foi levado para a delegacia.

A operação foi um desdobramento de outra ação, de fevereiro, em que blitz em pontos de distribuição de gelo identificou que ao menos a fábrica da Cidade de Deus vendia gelo contaminado por coliformes fecais e outras substâncias nocivas à saúde.

Buscas por envolvidos no ataque: 5 suspeitos são presos

Secretário de Polícia Civil, Felipe Curi prometeu uma resposta “à altura e na mesma proporção do ato que foi praticado” ao comentar a morte do agente da Core na ação. Em entrevista ao RJ1, da TV Globo, Curi lamentou o ocorrido e disse que este é um dia muito triste para a corporação. Após manifestar seus sentimentos aos familiares e amigos da vítima, chamada de “herói” e “protetor da sociedade”, prometeu que os agentes não têm prazo para sair da comunidade. No entanto, no início da noite desta segunda-feira, as equipes foram desmobilizadas.

— Nossos policiais foram para lá e não vamos sair da comunidade. Estamos checando várias informações que estão chegando através de nossa inteligência e vamos atrás desses assassinos, desses narcoterroristas. A resposta será dada à altura e na mesma proporção do ato que foi praticado contra o nosso policial. Foi um atentado terrorista contra o estado. Um policial que morre, obviamente que nós sentimos muito, mas é o estado que está sendo atingido — disse Curi por volta de 12h.

O secretário detalhou ainda como o agente da Core foi ferido:

— Policiais foram duramente atacados por narcoterroristas do Comando Vermelho que estão na Cidade de Deus. Atacaram duramente nossa equipe. Infelizmente nosso policial foi a óbito, foi atingido na cabeça. Tomou um tiro no meio do rosto, que parou atrás da cabeça dele.

A partir de informações do setor de Inteligência, agentes da Polícia Civil também fazem ao longo desta tarde incursões na Gardênia Azul e no Morro do Banco, ambos na Zona Oeste, áreas dominadas pelo Comando Vermelho (CV), mesma facção que controla a Cidade de Deus. Os policiais fazem buscas por criminosos envolvidos na morte do colega da Core.

No fim da tarde, a Polícia Civil informou que cinco suspeitos do CV foram presos durante a ação, em que também foram apreendidas munições, drogas e cédulas falsas.

Quem ‘paralisa serviços públicos, não é o Estado, não é a polícia. São os criminosos’, diz Cláudio Castro

O governador Cláudio Castro divulgou no meio da tarde um posicionamento, em que prestou solidariedade à família e aos amigos do agente da Core morto na operação da Cidade de Deus, após ser “atacado por marginais” em ação que os agentes foram recebidos a tiros. Segundo ele, “esse ato covarde não ficará impune” e, por isso, determinou que a polícia não deixe a comunidade até encontrar os responsáveis pelo ataque.

“É importante deixar claro: quem fecha escolas e hospitais e paralisa serviços públicos, não é o Estado, não é a polícia. São os criminosos. São eles que oprimem a população e tentam impor o medo nas comunidades. E é contra isso que nós estamos lutando todos os dias”, diz trecho do comunicado, compartilhado em suas redes sociais.

Três unidades de saúde também foram fechadas, informa a Secretaria municipal de Saúde. De acordo com a Secretaria estadual de Educação, uma escola da rede estadual foi fechada na região. Já a pasta municipal de Educação suspendeu as aulas do turno da tarde nas unidades da Cidade de Deus.

No Rio, a secretaria informa ainda que, numa parceria com a Cruz Vermelha Internacional, as escolas abrem ou fecham seguindo o protocolo “Acesso Mais Seguro”. Por isso, estudantes são colocados em locais analisados como seguros previamente, como sentados em corredores colados em paredes.

Policiais da Core atingidos neste ano

José Antônio Lourenço, policial civil da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) morto em operação na Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio nesta segunda-feira, é o terceiro agente da equipe a ser atingido num período de dois meses.

Em 20 de março deste ano, o copiloto Felipe Marques Monteiro foi baleado na cabeça durante uma operação na Vila Aliança, na Zona Oeste: ele foi atingido a bordo de um helicóptero da corporação e passou por cirurgia. Depois de ser operado no Hospital Miguel Couto, foi transferido para um hospital particular em Copacabana. Já em 30 de março, João Pedro Marquini, marido da juíza Tula Correa de Mello, foi baleado e morto enquanto passava pela Serra da Grota Funda, também na Zona Oeste.

O agente morto nesta segunda, descrito como uma pessoa alegre e brincalhona por colegas, foi subsecretário de Operações da Secretaria municipal de Ordem Pública (Seop), entre fevereiro de 2022 e maio de 2023, momento em que se licenciou da Core.

Durante seu período na pasta da prefeitura, José Antônio ganhou os noticiários ao fazer um “ritual motivacional”. Em agosto de 2022, um vídeo mostrava dez pessoas em círculo enquanto o subsecretário fazia uma espécie de oração. Um dos integrantes segurava uma caneca de vidro com um líquido amarelado, que levou à boca em alguns momentos.

Ao final, o subsecretário chegou a detonar um artefato, semelhante a uma bomba de gás lacrimogêneo, que produziu uma explosão e muita fumaça. Na ocasião, a Seop informou que não houve irregularidades, uma vez que “a ação foi realizada de forma voluntária pelos agentes e não houve nenhuma ilegalidade ou excesso na ação.”