A Polícia de São Paulo prendeu o segundo suspeito de envolvimento no assassinato do ex-delegado-geral Ruy Ferraz Fontes. Ele foi encontrado na Praia Grande, litoral de São Paulo. Assim como Dahesly Oliveira Pires, 25, o preso não teria envolvimento direto com o crime, mas estaria ligado à logística da emboscada que matou Fontes.
“Na manhã desta sexta-feira, um homem foi preso no litoral, suspeito de participação na logística do crime”, informou a Secretaria de Segurança Pública por nota.
A pasta também apontou que o imóvel onde Dahesly retirou o fuzil em Praia Grande foi identificado. “A polícia vai ouvir todos os que alugaram a casa nas últimas semanas, assim como o dono do imóvel e o irmão dele, que é policial militar”.
Fontes ficou conhecido por conduzir inquéritos que resultaram na condenação da cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC), no início dos anos 2000, e atualmente era secretário municipal de Administração de Praia Grande, no litoral paulista, cidade onde ocorreu o crime.
As autoridades trabalham com duas linhas de investigação principais. A primeira é a de que a execução com mais de 20 tiros de fuzil teria ligação com a atuação na Polícia Civil, instituição que ele comandou entre 2019 e 2022, durante o governo de João Doria. A outra aponta para um possível elo com a função atual de Fontes na Prefeitura de Praia Grande. Nenhuma das hipóteses, porém, descarta a participação do crime organizado no homicídio.
Os assassinos utilizaram dois carros na emboscada. Roubados semanas antes, os veículos foram vistos circulando pela Baixada Santista nos dias que antecederam o crime, como mostrou o Jornal Nacional, da TV Globo. O primeiro automóvel, que perseguiu a vítima, foi recuperado pela polícia pouco depois da execução. Um segundo carro, que teria dado suporte à ação, foi localizado na terça-feira. Peritos conseguiram detectar impressões digitais.
— Esse veículo foi encontrado abandonado, os criminosos não conseguiram atear fogo. Ele estava ligado, e no interior foi coletado material que pode ser usado na identificação dos ocupantes — disse o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, durante o velório de Fontes, realizado na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).
Já se sabe que pelo menos seis bandidos participaram do assassinato. Um coronel da cúpula da PM afirmou ao GLOBO que a ação foi “coordenada, planejada e com características táticas”. Os executores trajavam coletes à prova de balas, toucas e luvas, o que reforça os indícios de planejamento meticuloso.
Neste momento, os investigadores veem a digital do PCC como quase certa. Por ora, contudo, as autoridades consideram que a motivação mais plausível para a execução é o atual trabalho de Fontes na administração municipal, e não suas décadas de atuação no combate ao crime organizado.
Aposentado da Polícia Civil após mais de 40 anos, ele assumiu o cargo de secretário em Praia Grande em 2023. Desde então, teria colecionado desafetos ligados ao setor imobiliário da cidade, marcada por forte presença da facção.
Uma das suspeitas é de que a execução esteja relacionada a uma liderança do PCC que deixou o sistema penitenciário federal há cerca de um mês. Historicamente baseado na Baixada Santista, o criminoso atua com modus operandi similar ao empregado na morte de Fontes.
A célula da facção responsável por colocar em prática planos de execução de agentes de segurança é chamada de “restrita tática”. De acordo com as autoridades, ela tem em torno de 25 integrantes, todos treinados para atuar com explosivos e atirar com fuzis.
Além de pelo menos uma ameaça mais antiga, Fontes foi citado por criminosos do PCC na mesma ocasião em que a facção jurou de morte o ex-juiz e hoje senador Sérgio Moro e o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Ministério Público de São Paulo. O nome do ex-delegado-geral, entretanto, não se tornou público. Ele foi avisado pessoalmente que era um dos alvos, mas a informação ficou apenas no âmbito da inteligência do MP. O plano de execução foi descoberto pela Polícia Federal (PF), que deflagrou uma operação para desmobilizar o crime em março de 2023
2025-09-19 12:23:00