A Polícia Civil do Rio deflagrou, nesta quinta-feira, a Operação Refinaria Livre para desarticular uma associação criminosa responsável por extorsões sistemáticas de R$ 50 a R$ 100 mil contra empresas que atuam no entorno da Refinaria Duque de Caxias (Reduc), na Baixada Fluminense. A operação reúne agentes da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Capital (DRE-CAP), da Baixada Fluminense (DRE-BF) e da 60ª DP (Campos Elíseos), e tem como alvos um grupo liderado pelo traficante Joab da Conceição Silva, o Joab, integrante do Comando Vermelho — e por um pastor, identificado como Claudio Correa da Silva, que se apresentava como líder comunitário e religioso, mas atuava como intermediador do tráfico nas ações de coação empresarial. Três homens foram presos até o momento.
- Operação policial na Cidade Alta tem barricadas em chamas e interdições no trânsito na Avenida Brasil
- Flanelinhas: veja como Niterói e Região dos Lagos resolveram cobranças irregulares, problema antigo na cidade do Rio
Os agentes cumprem mandados de prisão temporária e de busca e apreensão em endereços na Baixada, expedidos a partir de investigação conduzida pela DRE-CAP. Segundo a polícia, a ação mira profundar provas, impedir a coação de testemunhas, frear a interferência criminosa sobre empresários e trabalhadores.
As investigações revelaram que empresas instaladas na área industrial da Reduc eram forçadas a pagar valores mensais ao tráfico, sob ameaça de Incêndio de caminhões, agressões a funcionários, interrupção violenta das atividades produtivas, impedimento de acesso às instalações industriais.
Segundo os investigadores, o pastor Claudio, como é conhecido, comparecia pessoalmente às empresas apresentando-se como representante comunitário, mas impondo regras ditadas pelo chefe do tráfico, entre elas: a proibição de permanência de caminhões nos pátios; imposição de contratação de moradores específicos, ligados aos traficantes.
— A atuação da Polícia Civil é fundamental para que essa atividade criminosa seja reprimida em nosso Estado. Não importa quem seja, se estiver em conluio com bandidos, será levado à Justiça. Tenho certeza que, com a prisão desses criminosos, vamos avançar nos trabalhos de investigação e acabar com a extorsão a empresas na região. Não haverá descanso para quem desafiar a lei no Estado do Rio — afirmou o governador Cláudio Castro.
Pastor atuava como emissário direto das ordens de Joab
De acordo com o inquérito, um pastor ligado a facção visitava pessoalmente as empresas, apresentando-se aos funcionários como representante comunitário, mas impondo regras ditadas diretamente por Joab da Conceição Silva. Entre elas estavam a proibição de permanência de caminhões nos pátios e a imposição de contratação de moradores específicos ligados ao tráfico. Além disso, o religioso também era responsável por “negociar” acordos amigáveis com os empresários sob a condição de evitar represálias.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/0/k/yWbILrStKFVqhfCVmclg/whatsapp-image-2025-11-27-at-07.48.17.jpeg)
A polícia reuniu relatos formais de representantes empresariais, termos de declaração e atas do Ministério do Trabalho, revelando que companhias chegaram a interromper atividades por diversos dias devido às ameaças do grupo criminoso. As investigações apontam ainda que sindicatos e associações de fachada estavam sendo instrumentalizados pela facção para pressionar as empresas e ampliar o poder de coerção.
Controle de contratações e infiltração no polo industrial
A quadrilha, segundo a Polícia Civil, infiltrou-se até no setor de Recursos Humanos das empresas —responsáveis por contratação de funcionários—, controlando ilegalmente processos seletivos. O traficante Elizaman Lopes, vulgo Carioca, era quem atuava nos departamentos controlando as contratações de integrantes do Comando Vermelho. Ele obrigava empresários a efetivar candidatos sem qualificação, cobravam vantagens indevidas em troca de vagas e determinavam a contratação de parentes e aliados do tráfico, garantindo presença e controle direto dentro do polo industrial.
Um dos casos identificados foi o da companheira de Joab, Daiana de Jesus Oliveira. Ela teria sido contratada por uma das empresas, por meio da prestadora LCD, “sem critérios técnicos e por imposição territorial”, poucos dias antes do ataque criminoso à 60ª DP de Campos Elíseos, em fevereiro de 2025. A ofensiva contra a delegacia foi ordenada e comandada pelo próprio Joab.
Pastor preso com granadas e munição
O pastor Claudio, que ajudava a facção, já vinha sendo monitorado pelas forças de segurança. No dia 5 de novembro, ele foi preso em Betim (MG) durante a Operação Aves de Rapina, que mirava grupos criminosos que faziam armazenamento ilegal de armas.
No carro dele, agentes encontraram uma pistola calibre 9mm e seis granadas artesanais modelo M26, além de munições e valores em espécie. Ele admitiu ter transportado os explosivos de Duque de Caxias até Minas Gerais para realizar ações de intimidação e interrupção de serviços na Refinaria Gabriel Passos (Regap), sob o pretexto de atender a um “movimento grevista” organizado por sindicatos alinhados ao grupo criminoso.
No veículo também estava Aílton da Silva Gomes, presidente da Associação das Empresas Transportadoras de Combustíveis do Estado do RJ (Sindicarga-RJ), o que, segundo os investigadores, evidencia a participação direta de sindicatos e entidades formais na estrutura criminosa montada para sustentar o esquema de extorsão.
Procurada, a Sindicarga não se manifestou. O jornal também não conseguiu contato com a defesa dos citados.
Para a Polícia Civil, a apreensão de explosivos reflete o modus operandi da quadrilha, que recorria a ameaças de atentados contra empresas e trabalhadores como instrumento de controle. Esse modelo de atuação, segundo os investigadores, “representava risco direto ao polo industrial da Reduc e ao transporte nacional de combustíveis”.
A operação segue em andamento, com policiais nas ruas para cumprir os mandados restantes, identificar outros envolvidos.
2025-11-27 07:52:00



