A megaoperação contra o crime organizado deflagrada nesta quinta-feira mostra como é fundamental que as instâncias de poder no Brasil atuem conjuntamente. Nos diferentes níveis do Estado ( governos estaduais, governo federal e suas várias agências), muitas vezes existe competição, e isso atrapalha o objetivo. Nesse caso, a Receita Federal trabalhou com a Polícia Federal.
- PCC usava mais de mil postos de combustível para lavar dinheiro e controlava 40 fundos de investimentos, diz Receita: Por meio dos fundos, facção criminosa comprou usinas produtoras de álcool, 1.600 caminhões para transporte de combustíveis e mais de 100 imóveis
O fio inicial foi a Receita desconfiar de lavagem de dinheiro em fintechs. Esse foi o ponto de partida para se descobrir esse esquema enorme. Isso reforça a importância da atuação coordenada. Ao menos 40 fundos de investimentos, com patrimônio de R$ 30 bilhões, controlados pelo PCC, financiaram a compra de um terminal portuário, quatro usinas produtoras de álcool (mais duas usinas em parceria ou em processo de aquisição), 1.600 caminhões para transporte de combustíveis e mais de 100 imóveis pelo Brasil.
Na coletiva da imprensa, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, até destacou que se o crime é organizado, e o Estado precisa estar organizado também para combatê-lo. Outro ponto a destacar é como o crime cresceu, sofisticou e ocupa espaço em várias áreas da economia. Isso mostra que o combate precisa ser muito mais profissional e constante, porque já não se trata apenas da venda de drogas. A venda de drogas nem é mais a atividade mais rentável.
Um terceiro aspecto é a necessidade de fiscalização sobre as fintechs. Elas surgem como inovação financeira, mas precisam estar sob vigilância constante do Banco Central e pagar impostos. Recentemente, se discutiu a manutenção de privilégios para as fintechs. Imagine essas fintechs do crime tivessem redução de impostos?
O que se vê é que o crime organizado, como o PCC e outros grupos, está se tornando um poder paralelo no Brasil. Isso é gravíssimo, porque o Estado não pode tolerar um poder paralelo. O combate precisa ser feito com essa visão. Por isso, a operação de hoje é exemplar: ela une e organiza o Estado, integra diversas agências, supera divisões políticas entre estados e governo federal e garante eficiência. E, ao mesmo tempo, descortina um crime com dimensão muito maior e mais sofisticada do que se imaginava.
Segundo Haddad, a operação envolveu fundos por onde passaram R$ 52 bilhões em quatro anos e bloqueou imóveis, veículos e outros patrimônios que podem chegar a bilhões. De acordo com o ministro, a partir de amanhã, a Receita Federal enquadra as fintechs com instituição financeira.
– Isso significa que as clientes da partida de amanhã terão que cumprir sigilosamente as mesmas obrigações que os grandes bancos. Porque, por isso, aumenta o potencial de fiscalização da Receita e a parceria da Receita com a Polícia Federal para chegar nos sofisticados esquemas de lavagem de dinheiro que o crime organizado tem utilizado. O ato sofisticado é isso.
2025-08-28 13:26:00