Foi providencial a operação da Polícia Civil do Rio que fechou dois provedores de internet na Zona Norte da cidade, associados, segundo as investigações, a facções criminosas. A ação, batizada Rede Obscura, foi deflagrada pela Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados (DDSD) a partir de denúncias de moradores e de empresas legais proibidas de operar nesses locais por quadrilhas armadas. A exploração de negócios clandestinos é hoje uma das principais fontes de renda de traficantes e milicianos.
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O problema é grave e se expande. De acordo com a Secretaria de Segurança do Rio, nada menos que 80% das empresas de internet que operam em comunidades e favelas cariocas são ligadas ao crime organizado. Sofrem os usuários, forçados a contratar um serviço ruim e ilegal sob a mira de armas; sofrem as empresas sérias, alijadas de um mercado relevante; sofre o mercado, com o ambiente de negócios deteriorado; sofre o Estado, que deixa de arrecadar impostos.
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Os policiais cumpriram 17 mandados de busca e apreensão e detiveram dois suspeitos. A apreensão de um fuzil, duas pistolas, equipamentos eletrônicos e cabos de origem suspeita durante a operação não deixa dúvidas sobre a situação. Há falhas evidentes no controle desses provedores. As duas empresas fechadas tinham autorização da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para funcionar.
Uma delas operava no Morro do Quitungo, em Brás de Pina, e, segundo a polícia, era ligada ao Comando Vermelho. O responsável pelo provedor tem antecedentes criminais por tráfico, furto de energia e receptação. Ele admitiu fazer repasses periódicos a chefes da facção criminosa e disse ter recebido propostas de outras quadrilhas para expandir os negócios. A outra atuava em Cordovil, Cidade Alta e adjacências. O dono já havia sido preso em flagrante por receptação depois de a polícia encontrar grande quantidade de cabos de operadoras regulares sem nota fiscal. De acordo com o delegado da DDSD, Pedro Brasil, os acusados aproveitavam estruturas instaladas por provedores legais para explorar suas atividades ilícitas.
É fato positivo que a ação tenha acontecido a partir de uma parceria firmada em março entre a Secretaria de Segurança e a Anatel, com o objetivo de suspender provedores ligados ao crime. A agência cancelou a norma que dispensava de outorga os pequenos provedores, com até 5 mil acessos. Fez bem. Agora, todos terão de solicitar autorização formal até 25 de outubro.
Os provedores de internet clandestinos são apenas um dos serviços ilegais que proliferam em áreas controladas pelo crime. Furtos de energia — apelidados “gatos” — estão por toda parte. Um relatório da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) estimou em R$ 10,3 bilhões as perdas causadas por furtos, fraudes ou erros operacionais ao setor de distribuição no ano passado. Por mais que seja difícil, é fundamental enfrentar esses crimes. Além de causarem prejuízo aos cidadãos e ao Estado, eles estão na raiz do financiamento à violência, que precisa ser asfixiado.
2025-08-07 00:09:00