O empresário Roberto Medina estava saindo da sede da sua agência de publicidade, a Artplan, no Rio, quando vários homens chegaram disparando rajadas de metralhadora para o alto. Naquela noite de quarta-feira, dia 6 de junho de 1990, aos gritos e empurrões, os bandidos obrigaram o idealizador do festival Rock in Rio a entrar num carro e saíram em disparada com o refém.
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Na época, o Rio começava a viver uma epidemia de sequestros, e o próprio Medina já andava com um segurança por causa disso, mas, diante daquela quantidade de criminosos com armamento pesado, o funcionário correu para dentro do prédio, na Rua Fonte da Saudade. Do alto de uma escada, ele ainda disparou contra o bando, mas não conseguiu impedir que o empresário fosse levado.
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Medina foi sequestrado pela quadrilha do criminoso Maurinho Branco e ficou mais de duas semanas em um cativeiro, até ser libertado, no dia 21 de junho de 1990, há 35 anos, depois que a família pagou o resgate. O empresário foi entregue a seus advogados, na Praça da Bandeira, pelo próprio Maurinho, que, sem explicar a razão, insistiu para o refém levar consigo um gavião dentro de uma gaiola.
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Aquele foi um dos sequestros de maior repercussão dos anos 1990, época em que esse tipo de crime se tornou uma dura rotina no Rio. A imprensa afirmava que havia uma indústria formada por grupos especializados em capturar e manter em cativeiro membros de famílias ricas da cidade. Mas também existiam quadrilhas que sequestravam vítimas menos abastadas em troca de resgates menores.
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De acordo com estatísticas, só em 1990, foram registrados 91 sequestros na capital fluminense, mas o número ainda saltou pra 122 casos em 1995, o pior ano daquela década.
Em 1994, foi sequestrado o comerciante Edevair de Souza, pai do atacante Romário, semanas antes da Copa do Mundo daquele ano. O craque de então 34 anos chegou a disputar uma partida importante pelo Barcelona enquanto o pai estava sob poder dos bandidos, mas depois contou que só não desistiu de ir ao Mundial realizado nos Estados Unidos porque seu Edevair foi solto depois de seis dias.
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Alguns reféns, por outro lado, passaram meses nas mãos dos bandidos. Foi o caso do estudante Rodrigo Rennó, que ficou 71 dias em cativeiro, em 1993, e do empresário Fausto Mourão da Silva Montenegro, que passou 191 dias refém de uma quadrilha, no mesmo ano. Já o também empresário Daniel Barata, filho de Jacob Barata, foi sequestrado em novembro de 1994 e morto no cativeiro.
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No dia 27 de outubro de 1995, três filhos de grandes empresários foram levados em diferentes pontos da cidade, e entre eles estava o estudante Eduardo Eugênio Gouveia Viera Filho, que era filho do então presidente da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). Capturado por uma quadrilha que rendeu seus seguranças, em Botafogo, ele passou mais de 30 dias em cativeiro até ser libertado.
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O Jornal O GLOBO só noticiou o sequestro de Medina dez dias depois. O diário tinha o compromisso de não publicar informações sobre sequestros se houvesse risco de prejudicar as investigações ou as negociações. Só que, no dia 16 de junho daquele ano, a própria família de Medina reuniu a imprensa e, seguindo as ordens dos sequestradores, pediu, publicamente, para a polícia se afastar do caso.
Àquela altura, os investigadores já tinham prendido Nazareno Barbosa, um dos líderes da quadrilha responsável, e sabiam que o bandido Maurinho Branco, velho conhecido dos policiais, também estava envolvido. Dois anos antes, Maurinho fizera refém um menino de 13 anos, em Teresópolis, enquanto estava fugindo após assaltar um banco na cidade da Região Serrana do Rio.
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Foi o próprio Maurinho que entregou Medina para dois de seus advogados na Praça da Bandeira, na Zona Norte do Rio, na presença também dos repórteres Jorge Luíz Lopes, do GLOBO, e Albeniza Garcia, do Jornal O Dia, que acompanhavam o caso. O bandido insistiu para o empresário levar com ele um gavião dentro de uma gaiola, mas não disse o que aquele presente bizarro significava.
Medina chegou bastante cansado e desorientado, contou que tinha passado 15 dias praticamente sem dormir. Ele tinha sido obrigado a usar o tempo todo um par de óculos com as lentes tapadas com esparadrapos, Quatro dias depois, o empresário recebeu a imprensa na Artplan para falar sobre o caso. Sentia-se indignado, mas disse que não queria ficar lamentando e convocou a sociedade a se unir em uma campanha por mais segurança no Rio. “Queixar-se apenas não adianta, é preciso agir”.
Maurinho Branco foi morto dois meses em uma emboscada armada por policiais federais. De acordo com os agentes, o bandido tinha um plano para sequestrar os filhos do então presidente da República, Fernando Collor. Os policiais disseram que Maurinho foi baleado depois de tentar sacar uma arma para resistir a prisão, na Rua Senador Dantas, no Centro do Rio.
2025-06-22 11:31:00