Ele balança a cabeça e se mexe na cadeira durante os depoimentos, passa bilhetes para seus advogados e manda beijos para a mãe na galeria do tribunal. Às vezes, Sean “Diddy” Combs puxa cadeiras para as mulheres de sua equipe jurídica. Seu julgamento federal atraiu atenção mundial, com cobertura minuto a minuto da imprensa e de influenciadores nas redes sociais que transmitem atualizações ao vivo da rua em frente ao Tribunal Distrital dos EUA no sul de Manhattan.
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Mas como tribunais federais proíbem câmeras, o comportamento de Combs durante as semanas mais críticas de sua vida — Ele sorri? Parece bravo, nervoso, triste? — tem ficado em grande parte fora da visão pública, capturado apenas pelos esboços de artistas do tribunal.
Há semanas, Combs, que enfrenta acusações de tráfico sexual e conspiração de extorsão que podem levá-lo à prisão perpétua, tem se mostrado uma presença atenta e geralmente tranquila no tribunal. Suas expressões de discordância com testemunhas têm sido contidas, sem indícios do temperamento explosivo e violento frequentemente descrito nos depoimentos.
Quando George Kaplan, um ex-assistente, descreveu o ritmo de trabalho para Combs como “quase como beber de uma mangueira de incêndio”, o magnata assentiu com aprovação. Quando outra assistente, usando o pseudônimo Mia, disse que seria punida se não fizesse “tudo o que ele mandasse”, ele apenas zombou e balançou a cabeça.
É uma postura discreta para um homem cujo perfil como produtor de sucesso, rapper, astro de reality shows e figurinha constante nas colunas de fofoca era maior que a vida, originando os muitos apelidos pelos quais ficou conhecido — Puff Daddy, Diddy e Love.
Combs se declarou inocente das acusações, e seus advogados negaram veementemente as alegações centrais do caso, de que ele teria coagido pelo menos duas mulheres a participarem de maratonas sexuais regadas a drogas com michês, utilizando seguranças e outros funcionários como parte de uma “organização criminosa” para facilitar e encobrir os abusos.
Nos dias de julgamento, Combs, de 55 anos, chega todas as manhãs do centro de detenção no Brooklyn, onde está detido desde sua prisão em setembro. Oficiais do Serviço de Delegados dos EUA o conduzem ao tribunal entre 8h30 e 9h, e ele frequentemente abraça alguns de seus nove advogados e observa os presentes na sala silenciosa de teto alto.
Sua mãe, irmã e três filhos adultos estão frequentemente — embora nem sempre — presentes. Eles se sentam nos bancos próximos à frente da galeria do tribunal, e Combs sorri para eles da mesa de defesa, às vezes fazendo sinais de coração com as mãos.
Sem acesso a tintura, o cabelo de Combs tem ficado grisalho. Ele não usa os ternos de grife e as roupas da marca Sean John conhecidas por seus fãs, mas sim um guarda-roupa rotativo de cinco suéteres, cinco camisas sociais, cinco calças, meias e dois pares de sapatos sem cadarço.
Laurie L. Levenson, professora de direito penal na Faculdade de Direito Loyola, em Los Angeles, que escreve sobre a postura e aparência de réus em julgamentos, disse que uma aparência mais simples pode ajudar a ganhar a simpatia do júri.
— O testemunho o retrata como alguém completamente fora das normas — disse ela: — Então, na medida em que até mesmo sua roupa ou comportamento o mantenha dentro do que consideramos normas de conduta, isso pode funcionar a seu favor.
Às vezes, Combs faz contato visual com jurados. Uma vez, enquanto os advogados conversavam com o juiz, Combs esfregou as mãos para se aquecer em um tribunal que pode ser frio. Em seguida, olhou para a direita e viu um jurado homem esfregando os braços. “Frio”, murmurou Combs com um sorriso; o jurado assentiu e sorriu.
Algumas de suas reações são mais abertas a interpretações. Ele se mexe na cadeira, se estica de um lado para o outro. Quando o júri viu imagens do interior de um Porsche, carbonizado por um coquetel molotov feito com uma garrafa de bebida maltada de 1,2 litro — que o rapper Kid Cudi afirmou acreditar que foi Combs quem ordenou — Combs bocejou.
Professor associado da Faculdade de Direito da Universidade de Nova York, Vincent M. Southerland disse que, na ausência de testemunho direto do réu, os jurados podem prestar atenção em “qualquer sinal que possam captar, para entender em quem devem acreditar, por que acreditar, qual história, qual narrativa devem aceitar”.
Mas a professora Levenson, da Loyola, alertou que reações dispersas nem sempre significam o que parecem.
— Pode ser tudo estratégico — disse ela: — Mas é preciso ter cuidado, porque um bocejo de um réu que está sob custódia pode simplesmente significar que ele está sendo acordado muito cedo para ser levado ao tribunal.
Uma porta-voz de Combs se recusou a comentar.
Combs parece mais envolvido ao se comunicar com sua equipe jurídica e aparenta estar desempenhando um papel ativo em sua defesa. Frequentemente está sentado próximo a Marc Agnifilo e Teny Geragos, que o representam desde o início da investigação do governo. Ele frequentemente conversa com eles e escreve dezenas de bilhetes adesivos, que às vezes são repassados ao advogado que está interrogando uma testemunha.
Em tons vibrantes como fúcsia, verde-limão, azul-turquesa e amarelo neon, os bilhetes coloridos contrastam com os tons discretos de suas roupas.
Após Emily A. Johnson, promotora, concluir o redirecionamento do depoimento de Kid Cudi — cujo nome verdadeiro é Scott Mescudi — o juiz Arun Subramanian perguntou a Brian Steel, outro advogado de Combs, se a defesa tinha mais perguntas para a testemunha.
Steel se virou e falou baixinho com Combs, que balançou a cabeça. “Não”, respondeu o advogado.
Após Capricorn Clark, outra assistente, testemunhar que foi forçada a fazer um teste do polígrafo por conta de joias roubadas, e que lhe disseram que, se falhasse, seria jogada “no rio East”, Combs e Agnifilo murmuraram brevemente. Em seguida, o advogado apresentou uma objeção. Em conversa privada com o juiz, fora da presença do júri, Agnifilo disse que não havia indícios de que Combs estivesse envolvido. O juiz Subramanian respondeu: “Quando discutimos isso antes de o júri entrar, por que você não mencionou nada disso?”
Charlucci Finney, que trabalha na indústria musical há décadas e se autodenomina “irmão de criação” de Combs, tem comparecido ao julgamento todos os dias, muitas vezes chegando junto com membros da família do réu. Ele pode ser visto conversando com Combs durante os intervalos e disse que continua em contato com o magnata dentro e fora do tribunal.
Finney endossa completamente a ideia de que Combs tem participado ativamente de sua defesa.
— Ele sempre foi um CEO — disse Finney em entrevista por telefone: — Ele é o CEO do próprio caso também.
2025-06-05 04:01:00