‘Novo Escritório do Crime’ cobrava, em média, R$ 150 mil por morte encomendada

O “Novo Escritório do Crime” cobrava, em média, R$ 150 mil pelos serviços de encomenda de assassinatos. A informação consta na denúncia do Ministério Público do Rio (MPRJ) sobre a atuação do grupo de matadores, que atuava de maneira semelhante


O “Novo Escritório do Crime” cobrava, em média, R$ 150 mil pelos serviços de encomenda de assassinatos. A informação consta na denúncia do Ministério Público do Rio (MPRJ) sobre a atuação do grupo de matadores, que atuava de maneira semelhante ao Escritório do Crime chefiado pelo ex-capitão do Bope da Polícia Militar Adriano Magalhães da Nóbrega, morto na Bahia em fevereiro de 2020.

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O valor foi mencionado em depoimento relacionado à morte de Fábio Romualdo Mendes, ocorrida em 20 de setembro de 2021. Fábio era apontado como integrante do grupo do sargento Márcio Araújo, chefe da segurança do contraventor Rogério Andrade. O bicheiro está preso em presídio federal no Mato Grosso do Sul (MS), acusado do homicídio do rival Fernando Iggnácio, em novembro de 2020.

De acordo com a denúncia do Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPRJ, com base no depoimento de uma testemunha, pelo menos dois integrantes do “Novo Escritório do Crime” apareceram com quantias expressivas de dinheiro logo após o assassinato de Fábio Romualdo. As investigações indicam que um deles começou uma obra em casa e a sua esposa colocou silicone nos seios, enquanto outro passou a atuar como agiota.

Fábio Romualdo foi morto em 29 de setembro de 2021, em Vargem Pequena, na Zona Oeste do Rio, durante o dia, em um local de grande circulação de veículos e pedestres. Ele estava dentro do seu carro, esperando a saída da esposa de um atendimento em um posto de saúde.

Foram denunciados por participação direta nessas duas mortes o sargento da PM Bruno Marques da Silva, conhecido como Bruno Estilo; Rodrigo de Oliveira Andrade de Souza, o Rodriguinho; e Anderson de Oliveira Reis Viana, conhecido como Papa ou 2P. Os dois primeiros estão presos, enquanto Viana é considerado foragido da Justiça.

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Outros seis suspeitos, que também fariam parte do grupo criminoso, também foram denunciados pelo Gaeco: o capitão da PM Alessander Ribeiro Estrella Rosa, o Tenente Alessander; o cabo da PM Diogo Briggs Climaco das Chagas; o ex-PM Thiago Soares Andrade da Silva, o Ganso; André Costa Bastos, o Boto; Diony Lancaster Fernandes do Nascimento; e Vitor Francisco da Silva, o Vitinho Fubá. Os dois primeiros chegaram a ficar foragidos, mas se entregaram na segunda e na terça-feira (19 e 20/05). Ganso, Boto e Diony já estavam presos antes da operação do MPRJ, enquanto Vitor continua foragido.

Todos respondem por organização criminosa armada, sequestro e comércio ilegal de armas e munições.

Segundo a denúncia, o grupo é liderado por Thiago Soares e atua sob as ordens da contravenção. As investigações também revelaram um esquema de venda de armas e munições apreendidas durante operações policiais. O MPRJ apontou o capitão Alessander como responsável por essa prática.

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Em nota, a Polícia Militar afirmou que “a Corregedoria da corporação está apoiando e contribuindo com as ações”.

O GLOBO buscou contato com os advogados dos denunciados. Apenas a defesa do policial Bruno Marques se pronunciou. O advogado Hugo Novais declarou que seu cliente é inocente e que não há justificativa para sua prisão antecipada, uma vez que os fatos em apuração ocorreram há mais de três anos.

O MPRJ buscou cumprir nove mandados de prisão numa operação ocorrida no último dia 15 contra suspeitos de integrarem o “Novo Escritório do Crime”. Entre os alvos estavam três policiais militares: o capitão Alessander Ribeiro Estrella Rosa, conhecido como tenente Alessander, lotado no 39º BPM (Belford Roxo); o cabo Diogo Briggs Climaco da Chagas, do 9º BPM (Rocha Miranda); e o soldado Bruno Marques da Silva, o Bruno Estilo, já preso no Batalhão Especial Prisional (BEP). Também foi alvo o ex-PM Thiago Soares Andrade Silva, conhecido como Ganso, Batata ou Soares, apontado como chefe do novo grupo, que já se encontrava preso, além de outros cinco homens.

De acordo com o Gaeco, parte dos homicídios atribuídos à organização decorre de disputas entre grupos criminosos chefiados por Rogério Andrade. O denunciado Thiago Soares, excluído da corporação, integraria o grupo de Flávio Pepe, segundo a denúncia. Mesmo preso na Cadeia Pública Constantino Cokotós, em Niterói, Soares, ou Ganso, continuaria a atuar no grupo, inclusive atuando na venda de armas.

Segundo a denúncia do MPRJ, a quadrilha de Ganso foi responsável por pelo menos dois homicídios com características de execução, praticados à luz do dia e com uso de armamento pesado. Um dos crimes foi o assassinato de Fábio Romualdo Mendes, surpreendido dentro de seu carro e atingido por vários disparos em 29 de setembro de 2021, em Vargem Pequena, Zona Oeste do Rio. Fábio Romualdo era do grupo de Márcio Araújo e cuidava da região das Vargens. Antes de ser executado, o “Novo Escritório do Crime” tentou matá-lo outras duas vezes, mas as “missões foram abortadas”.

Em conversas extraídas dos celulares dos denunciados, com autorização da Justiça, integrantes comentam sobre as dificuldades de executar Fábio Romualdo, que andava em carro blindado. Daí a necessidade de usar fuzis, segundo os criminosos.

A outra vítima do “Novo Escritório do Crime”, segundo as investigações do MPRJ, é Neri Peres Júnior, em 4 de outubro de 2023, também ligado ao grupo rival. Durante o planejamento do crime — de acordo com uma das conversas extraídas da quebra de dados telemáticos —, Rodrigo pede a Bruno Marques para providenciar o “62”. Segundo a denúncia, uma referência ao fuzil calibre 7.62, pois queria “estragar” a vítima. De fato, o alvo teve seu rosto desfigurado com os tiros que o atingiram nessa parte do corpo.



Conteúdo Original

2025-05-21 04:00:00

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